Pense em São Paulo há quatrocentos e
cinqüenta anos atrás. Sim, isso mesmo: imagine a cidade logo depois de
sua fundação, em 1554. Pouca coisa, não é? Apenas uma “casinha de torrão
e palha” com “quatorze passos de comprimento e doze de largura” o
colégio de Piratininga, fundado pelo padre jesuíta José de Anchieta,
“para servir de escola, enfermaria, dormitório, refeitório, cozinha e
despensa”.
O local era estratégico. No dorso da
colina, onde fica hoje a região da Praça da Sé, protegia-se à oeste dos
mistérios da floresta sombria e à leste contra ataques indígenas e de
corsários, com as encostas da cordilheira marítima servindo de
barricada. Dali, divisava-se o maior dos cursos d’água, o sinuoso
Anhembi (Tietê), que corria de costas para o mar. Região farta, ali se
pescava em abundância, tanto nas águas do Piratininga (mais tarde
Tamanduatei), como no leito caudaloso do Tietê, e é deste rio que o
Uirapuru da Mooca, contará e cantará este pequeno fato histórico da
região metropolitana de São Paulo.
O Tietê é também um rio diferente. Nasce
na serra do Mar, no município de Salesópolis, pertinho (22 km) das
praias do Atlântico. No seu trajeto, vai recebendo afluentes e se torna
volumoso.
Ao contrário de outros cursos d’água, ele
se volta para o interior de São Paulo, num percurso de 1.150 km da
nascente até chegar ao Rio Paraná
O avanço do café pelo oeste paulista traz
riquezas para a então província de São Paulo e, em 1866, o seu
presidente João Alfredo Correia de Oliveira defende a drenagem da várzea
do Tietê, à medida que se aproxima da capital, vai recebendo grande
carga de detritos domésticos e industriais e se torna um dos rios mais
poluídos do mundo.
O Tietê é um quase desconhecido para os
que convivem com ele. Mas um desconhecido muito especial: é quase uma
negação. Ele nunca propôs uma navegação fácil aos aventureiros que nele
se lançaram, sempre atormentou as cidades com inundações e impesteou
suas várzeas com mosquitos e focos infecciosos. Com o tempo assumiu um
prestígio às avessas: adquiriu um nível de poluição alarmante e sua
imagem ficou vinculada a algo de ruim e destrutivo. Mas o perigo ronda a
cidade: uma epidemia de febre amarela.
O clamor público pelo saneamento de São
Paulo será impulsionador de inúmeras obras no Tietê.
Seu nível de
poluição atinge o ponto máximo quando atravessa o município de São
Paulo. No trecho da Região Metropolitana de São Paulo, o Tietê
tem uma vazão média anual
de água insuficiente para atender as necessidades de uma metrópole desse
porte. Penetra no município da capital paulista, fazendo divisa com o
município de Guarulhos, e sofre um profundo processo de retificação de
seu curso, visando minimizar as enchentes na área urbana da capital. É
nesse trecho que o Tietê mais sofre com a poluição urbana e industrial
da região metropolitana de São Paulo.
À medida que se afasta para o interior, o
processo poluidor diminui de intensidade e , quando recebe as águas de
seu principal afluente, o Piracicaba, seu leito retorna à normalidade.
Como um típico rio da industrializada região Sudeste do Brasil, o Tietê,
assim como o Rio Grande, recebeu uma grande quantidade de barragens,
visando ao aproveitamento hidrelétrico. O Parque Ecológico do Tietê foi
criado em 1976, com a finalidade de preservar as várzeas do Rio Tietê e
combater, juntamente com outras obras (barragens, retificação do rio,
desassoreamento), as enchentes na Região Metropolitana da Grande São
Paulo.
Como subproduto desta grande função e
ciente da carência de áreas verdes destinadas ao lazer da comunidade,
foram criados dois Centros de Lazer: Eng. Goulart e Ilha do Tamboré /
Ilha do Bacuri, localizados respectivamente na Zona Leste e Oeste da
Capital. Com uma área total de 14 milhões de metros quadrados, o Parque
Ecológico do Tietê é administrado pelo DAEE - Departamento de Águas e
Energia Elétrica.
Além de suas funções prioritárias, o PET
proporciona aos
seus usuários uma série de atividades educacionais, recreativas,
esportivas e de lazer, recebendo mensalmente cerca de 40 (quarenta) mil
visitantes.
O Parque Ecológico do
Tietê pode hoje ser considerado um grande laboratório de Educação e
Cultura com vistas ao estudo do meio ambiente, configurando-se como
catalisador de experiências viáveis e de possibilidades de melhoria da
qualidade de vida da comunidade.
Tendo hoje grandes
projetos de despoluição, voltados para uma saúde que no século passado o
Rio Tietê se encontrava. Pois enquanto houver água corrente, sempre
haverá a semente de um futuro de águas límpidas, cristalinas, revivendo
a nossos descendentes a glória do passado.
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