Gênesis,
capítulo III: Quando Deus expulsou Adão do Paraíso falou:
“Com
o suor do seu rosto comerás o pão, até que voltes à terra donde foste
tirado...”
TRIGO,
A BASE DAS CIVILIZAÇÕES
Ao
longo de toda a sua história o homem, contrariando a sua formação nômade
e hábitos de bom caçador, teve de conquistar lenta e duramente a sua
posição no ambiente, seja adaptando-se a ele ou modificando-o.
A história da civilização deu um salto quando o homem primitivo,
sentindo a caça escassear na terra, abrandou sua fome como os animais, comendo raízes, sementes e bolotas de carvalho.
Alguns
grãos, no entanto, chamaram especialmente sua atenção porque realmente
matavam sua fome. Na medida em que a inteligência do homem primitivo
evoluía, este notava que a pasta do grão molhada facilitava a mastigação,
sem o trabalhoso ato de mastigar o grão duro para engoli-los. Além do
mais, a simples pasta de grãos, após secar ao sol, tornava-se um
alimento cada vez mais importante.
Uma
fermentação acidental, na pasta de trigo, resultou no seu crescimento. A
massa foi assada e o resultado foi surpreendente, em termos de alimento:
cresceu e tinha um bom paladar.
Na
base das grandes civilizações, está a cultura de um cereal básico. Graças
à Grande Mãe Terra, o trigo semeado, após meses de espera, oferecia
alimento suficiente para um ano novo. Todos na comunidade celebravam o
“milagre”, que se repetia ano após ano, como uma dádiva da grande
deusa. As mulheres descobriram, há mais de 6.000 anos, o nascimento da
agricultura que o homem aprendeu a cultivar, modificando a face do
planeta.
O
PÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS
Viajando
através da história, o pão já havia se tornado tão importante, como
alimento, que era oferecido como sinal de boas vindas no acampamento de
Abrahão. Tanto era, que para cada viajante que chegava, ele ordenava, à
sua esposa Sara, que colhesse trigo, moesse um pouco de farinha e fizessem
pães para os recém-chegados. Esses homens eram os Anjos vingadores,
enviados pelo Senhor para destruírem as cidades pecadoras de Sodoma e
Gomorra.
Os
grandes cultores da fabricação de pães foram os egípcios, com quem os
romanos aprenderam e incrementaram as formas de tratar o trigo e de
panificar. O pão era tão importante como alimento que o trigo, seu
cereal de origem, era guardado a sete chaves e servia como medida da opulência
de uma nação. As conquistas dos romanos tinham como um dos objetivos
principais, saquear paióis e remeter o trigo para a orgulhosa Roma.
Os
bárbaros, que conquistaram o Império Romano, determinavam que seus
guerreiros tomassem primeiro as padarias, e depois as cidades. Era a
garantia de alimento farto para seus exércitos.
Os
padeiros domésticos, chamados “pistores”, faziam pães com o formato
de um deus, ou se procurava dar-lhe feição do chefe da casa; somente os
nobres poderiam ter padeiros domésticos e usar trigo moído. O povo menos
abastado comiam pães com outros tipos de cereais abundantes na época,
como centeio ou outra semente seca moída.
O
tempo nos leva a um período muito crítico, onde o homem regrediu em sua
cultura e entrou em estado de escuridão. O trigo era escasso, era privilégio
dos senhores do castelo e o homem sentiu fome porque em sua dependência
do trigo, desaprendeu a fazer pão com outros cereais existentes. A
cultura material regrediu tanto que o pão voltou a tornar-se pobre e
grosseiro, quase ao nível das papas pré-históricas.
Aprendendo
supersticiosamente dos bruxos e feiticeiros, que a terra era a “mãe e a
origem” de tudo, misturavam-na com palha, bolotas de carvalho e sangue
de porco, assavam e a comiam como se fosse pão real.
Mal
alimentada e ignorante, a população da Europa foi vitimada por pragas
que quase a dizimaram completamente.
Saindo
da sombra, a humanidade começa a se recompor e já despontam os primeiros
sinais de um novo processo de civilização aculturada; desfazem-se os
feudos, os pães começam a ser fabricados sob um juramento de qualidade
feito em praça pública. Tudo dentro do prometido, a opulência
multiplicam as padarias, pães mais elaborados são encomendados pelos
Reis e suas Cortes e já começam a surgir as massas de sabor adocicado
com mel de abelhas nas padarias.
A
confeitaria dos bolos e doces tem seu grande impulso na França, onde
comunas, vilas e povoados começam a dar preferência aos seus próprios pães
típicos. O pão é usado para tudo.
Apesar
de tudo, o povo está ficando muito pobre para comprar, e a fome mostra,
outra vez, sua cara feia para a brilhante Europa.
Agravam-se
os problemas de alimentos na França e uma frase infeliz, de Maria
Antonieta, detona a histórica revolução que alterou os destinos de
quase toda Realeza.
Simplesmente
porque disseram a Maria Antonieta que o povo tinha fome, que não podia
comprar pão, e era iminente uma explosão popular contra o luxo da Corte.
Sua resposta, a gota d’água que detonou a Grande Revolução Francesa e
custou-lhe a própria vida: “Se o povo não pode comer pão, que coma
brioches”.
O
PÃO NOSSO DE CADA DIA
Trazidos
pelos primeiros colonizadores portugueses, o trigo moído se transforma em
farinha que, por sua vez misturada com água e fermento, vira massa.
Arredondado ou alongado, doce ou salgado e assado no forno, o pão é a
base da alimentação para muitos povos, principalmente o nosso. Com os
portugueses também vieram as superstições e tradições sobre o novo
alimento.
A
fabricação do pão, com suas cerimônias, cruzes na massa, ensalmos para
crescer, afofar, dourar a crosta, foram correntes no Brasil, na proporção
em que se cozia nas residências. Passando para as padarias, a superstição
foi desaparecendo. Resta ainda, em alguns lugares a proibição de atirar
o pão fora, deixá-lo cair propositadamente, não o reerguer, benzendo-se
com ele – símbolo da vida e guarda do espírito do Senhor na hóstia.
Quando
ele cai da mão sem querer, alguém da família está passando
necessidade. Dizem ainda: “O pão não se arremessa, pousa-se; não se
corta: parte-se; se cair no chão apanha-se e beija-se. Ao pão há sempre
associada uma idéia de religiosidade, pagã ou cristã.
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