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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.B.E.S. BRINCO DA MARQUESA - CARNAVAL 2003
Enredo: Jamil - Uma História das Arábias

O Grêmio Recreativo
Autor: André Machado

 

Pelas vias públicas, carregando como camelos ao sol, bugigangas ou levando a tiracolo, como pratos de balança, cestas com legumes ou frutas, lá vão eles, os esforçados cooperadores do nosso progresso, que a gíria denomina "turcos", mas que efetivamente, são os filhos do Líbano.

Neste universo, nasceu Hussein Abdo El Salan - o menino Jamil - em 7 de maio de 1934 no centro de São Paulo, no Anhangabaú. E foi na rua Barão de Duprat, na 25 de março e arredores, reduto da colônia árabe que viveu plena e saudosa infância. Aos dez anos, já conhecia a fina flor da boêmia dos anos 40, que da região, frequentava o "Bar Bilhar Restaurante Internacional" onde trabalhava e que também era de propriedade paterna (Abdo El Salan).

Em 1947 com a dor do falecimento da mãe e após a venda do bar um ano depois, trocou o Brasil pelo Líbano e apostou no recomeço da vida convivendo e aprendendo com a cultura árabe-libanesa; formou chácaras e sítios que existem lá até hoje. Contudo, nunca se esqueceu do Brasil e do bom arros com feijão, e mesmo a coalhada (temperada com sal, pepino, hortelã e alho) - prato típico e predileto - não foi capaz de segurá-lo por muito tempo lá, retornando aos 20 anos para São Paulo.

Passado algum tempo, a inquietação o levou para Minas Gerais e, em Varginha, investiu numa "meteórica carreira futebolística" como goleiro pelo Botafogo de lá, participando até de torneios importantes no Sul do Estado.

Em Minas também conheceu a mais linda flor entre as mulheres, aquela que viria a ser, contrariando a cultura árabe, a sua única esposa e a mãe de seus dois filhos - Dona Edna. Casaram-se e retornaram já para o Bairro do Tucuruvi em São Paulo.

Aos 26 anos de idade, Jamil começou a trabalhar na feira como vendedor de frutas. Guerreiro e perspicaz enfrentou as adversidades da vida com bravura oriental e como todo bom pai, ao lado de uma mulher encantadora ensinou os bons costumes e a melhor educação aos seus filhos, o que sempre, lhes renderam bons frutos.

Apesar da religião muçulmana, foi batizado e batizou a sua prole na Igreja Católica, entretanto, nunca virou as costas para nenhuma crença, e diz ser até simpatizante da Umbanda. Mas foi a batucada que ocorria pelas ruas do bairro, principalmente a sua ao comemorar as vitórias do palmeiras, que o introduziu à malandragem do samba.

Em 1976 ingressou na Acadêmicos do Tucuruvi, alguns meses depois da fundação como tesoureiro, participou do primeiro desfile oficial da Escola, cujo tema era "Sonhos de Carnaval" e o samba-enredo de autoria de Osvaldinho da Cuíca e Jangada... de lá pra cá nunca mais esteve longe da folia.

Envenenado pelo samba assumiu a presidência da escola em 83 e 84; se afastou em seguida, retornando em 92 após a renúncia do até então presidente - foi nesse "mandato tampão" que Sr. Jamil conquistou para a Tucuruvi o direito de desfilar entre as grandes com o enredo "O Samba Pede Passagem". Com pulso forte e determinação permaneceu no grupo de elite até 94, quando amargou o rebaixamento num ano muito complicado para todas as escolas. Apesar da derrota e dos rumores do seu possível afastamento, deu a volta por cima e em 97 alcançou o Grupo Especial novamente, permanecendo nele até hoje. O menino Jamil tornou-se "piolho de samba", "carne de pescoço", tanto que não é à toa que a Tucuruvi vem crescendo gradativamente, ano após ano, e isso se deve à coragem deste descendente do Líbano que o carnaval paulistano abraça e muito lhe deve, pela sua transparência e eficiência administrativa. Contudo, Jamil nunca se gabou, muito pelo contrário, humilde, sempre admitiu ajuda.

Hoje, a grande responsabilidade da Brinco da Marquesa é fazer uma homenagem à sua altura; equiparar-se da mesma grandeza para, só assim, mostrar um pouco da sua vida. Sr. Jamil ao batizar a Brinco da Marquesa criou laços de amizades que vão muito além do carnaval, tanto que, ao cogitar esta homenagem, foi unânime a aceitação e a alegria dos componentes.

A festa que nossa escola faz há 15 anos na avenida estará reforçada por essa história rica em luta e dignidade, que só Hussein Abdo El Salan soube viver.

Obrigado Sr. Jamil.

 


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