Chegou o Carnaval, estamos respirando ares
de um novo século - o Século XXI. Começaremos mais uma Era confiantes,
cheios de esperanças, ou seguiremos conduzidos pelo caos generalizado e
tudo aquilo que definiu o final do século XX?
A Escola de Samba Brinco da Marquesa se
propõe a entrar na avenida abrindo mão do enredo convencional, para
mostrar a síntese do que foi os últimos anos do século que terminou,
convocando o povo para um desfile de reivindicações primordiais à saúde
da sociedade, pois só ele poderá, unido, afastar a imensa nuvem que
insiste em desabar carregadas chuvas de miséria e injustiças atolando
ainda mais o país num verdadeiro mar de lama.
Não teria o enredo, o propósito
desanimador e sim, alertante para aqueles que, anestesiados pelo
sistema, acreditam que "um dia a coisa irá mudar", esperando por
"alguém", ou ainda, por algum "milagre divino".
São tantas as metas a serem alcançadas que
as mudanças parecem impossíveis. Entretanto, basta o povo
conscientizar-se do próprio poder buscando no íntimo de cada um, o bem
estar coletivo. Mas não só desejar, tem que ir mais além, concretizar-se
e com toda veemência dizer que "Já chega!", que "Não quero mais!".
Nos grandes centros urbanos, pessoas
vivendo sob marquises e viadutos, em total exclusão social, sem-teto,
sem-emprego, sem destino e ainda, crianças mendigando esmola, batendo
nos vidros dos carros, cheirando cola para disfarçar a fome ou se
prostituindo para ter o que comer.
Nos corredores dos hospitais públicos,
pessoas enfermas agonizando sem atendimento. Médicos com salários
atrasados, falta de aparelhos e medicamentos, verbas extraviadas e
orçamentos infundáveis e inaceitáveis.
Na rede pública de ensino, falta de vagas
e profissionais, professores mal remunerados, greve, violência e
tráfico.
Nas favelas a miséria, a fome, a falta de
perspectiva, que leva o menino pobre à vida do crime. O bandido vira
heróis e a polícia mal armada se corrompe fazendo novas vítimas. A mesma
violência chega aos Estádios, onde a desorganização das torcidas
organizadas transforma o espetáculo num verdadeiro campo de guerra,
colocando em risco a vida dos amantes do futebol arte.
Nos rostos das Mães da Febem, das Mães do
Carandiru, das Mães do Brasil a lágrima por um filho desaparecido ou
abatido.
Pelo chão do Brasil, poucos com muitas
terras e muitos com terra nenhuma, querendo plantar, esperando pela tal
Reforma Agrária. Ver escapar do índio a vida e a própria cultura. Ser
vítima de preconceito por ser negro, ou ainda, ser espancado pela opção
sexual.
Na cultura a desvalorização da MPB
atribuída à máfia dos CDs piratas e ao excessivo valor dado à música
estrangeira e ao som que vem de fora, assim como no cinema, teatro e
televisão.
Bom, chegamos ao século XXI, uma nova Era
anuncia tempos novos que podem trazer finalmente renovações, embora que,
na opinião de muitos falte para isso, lucidez e iniciativa ao povo
brasileiro. No entanto, o século que passou não foi marcado apenas pela
inércia do povo, muito pelo contrário, e isso a história confirma. Nas
horas mais difíceis e decisivas para a nação, estávamos lá para cumprir
nosso dever, seja na Democracia com o movimento das Diretas Já, na
insatisfação com o governo Collor, através dos Caras Pintadas, nas
manifestações dos sem-terra e na campanha Contra a Fome e a Miséria e
pela Vida da Ação da Cidadania, liderada pelo sociólogo Betinho, o povo
estava presente, e só dele partirá a transformação, a recuperação por
dias melhores, pois no "Século XXI - A Esperança Está em Nós", já que
somos o povo e unidos jamais seremos vencidos e quando gritarmos: "Eu
sou o povo e exijo mudanças!", então elas virão, porque a "voz do povo é
a voz de Deus".
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