ABERTURA
Esta é uma homenagem
àqueles que num passado não muito longínquo, na
época sangrenta da escravidão, reconheciam o
verdadeiro potencial do negro, pois sabiam que o
povo negro na Mãe África era Rei. Uma boa parcela
dos donos de terras desta nação, pensavam da mesma
forma que a Baronesa Joaquina que será a personagem
central de nosso conto, porém esta é uma ficção, mas
ao colocá-la no papel sentimos que, em algum lugar
deste país, com certeza estas cenas se desenrolaram.
HISTÓRICO
Século XVIII, ano de
1776, enquanto a América do Norte lutava para
consolidar sua independência, no Brasil este assunto
era tratado na surdina, nas casas maçônicas
tramava-se contra o julgo imperial português. Nossa
mente voa e nos leva a fazenda São Bernardino, hoje
terras que fazem parte da baixada fluminense. Terras
da Baronesa Joaquina Fernandes Ribeiro, mulher de
nacionalidade portuguesa que as cinco anos de idade
chegou ao Brasil. Criada na corte do vice reinado,
nunca se conformou com a doutrina escravocrata
imposta pelo império sob as bênçãos da Igreja, em
razão disto, seus escravos eram tratados como
assalariados e todos recebiam pelo trabalho
realizado, sendo lhes dado também casa, comida e
após 15 anos de trabalho a carta de alforria, porém
muitos continuavam a morar na fazenda. Em
contrapartida, a grande massa negra que vivia em
situação de escravo em outras fazendas, não viviam
mais de 10 anos e os que conseguiam se tornavam
imprestáveis, viravam um trapo humano.
A senzala era um
prédio de dois andares, branco com faixas em azul,
amarelo e com detalhes vermelho. No porão eram
guardadas as sacarias para consumo, no primeiro
andar ficavam os alojamentos dos solteiros, sendo
que dividido em duas alas, a masculina e a feminina,
no andar superior ficavam os casados com as crianças
de onde podiam vislumbrar logo à frente um grande
pátio cercado com magníficas árvores e bela
vegetação rasteira. Os homens se dividiam em grupos
com o comando de um líder que funcionava como um
capataz, o mesmo sistema era empregado com as
mulheres que trabalhavam na casa grande, onde
residia a Baronesa Joaquina em companhia de duas
sobrinhas.
Com este pensamento, a
Fazenda São Bernardino era a mais próspera da região
e de toda capital imperial. A Baronesa era amada e
respeitada pelos negros e pelos brancos, mesmo os
escravocratas a respeitavam em razão de sua forte
influência junto ao vice rei. A Baronesa gostava das
festas negras. Uma vez por ano patrocinava uma
grande festa que pela suntuosidade foi apelidada de
"Noites Africanas em Terras Brasil", momento em que
os negros se enfeitavam de penas, colares e contas
coloridas, fazendo decorações em desenhos
geométricos em aparatos de vime, além de mastros com
tecidos coloridos. Um grande toldo feito de juta era
colocado no centro do pátio, simbolizando uma aldeia
na África, embaixo ficava o rei com suas esposas no
comando da festança que durava três dias. O Rei era
o trabalhador que se destacasse na produção, bem
como as esposas.
A festa simbolizava a
fartura e começava com um grande cortejo. Casais
vestindo batas em vermelho e branco, carregavam
tochas acesas fazendo a abertura, logo após
encontravam com um grupo de bailarinos vestidos em
azul e branco e com as crianças, todas vestidas de
branco. Após o encontro dos três grupos a festa
acontecia com muita comida e bebida, danças, cantos,
todos ingredientes ao som dos tambores e
instrumentos à base de bambu.
A festa seguia com
muita alegria e paz. Aquele pedacinho de São
Bernardino se transformava em território África com
a participação da Baronesa, suas sobrinhas e
convidados da corte. As festas aconteceram até o
alvorecer do século XIX, quando o vice rei foi
trocado e a baronesa deu alforria a todos seus
escravos.
Os escravos libertos,
já que possuíam alguns recursos, seguiram para o
centro-oeste do país, desbravando terras e se
estabelecendo. A Baronesa foi viver seus últimos
dias em Portugal.