A INFÂNCIA DIFÍCIL DE UM GAROTO
ESPANHOL
A figura do homem que revolucionou o
futebol brasileiro sempre fará falta na cartolagem e no Parque São
Jorge, que vivia uma situação de abandono. Vicente Matheus foi uma das
pessoas mais importantes que o Corinthians já teve.
Nasceu em Zamora, Espanha, em 22 de maio
de 1908. Era filho de Luiz Matheus e Manglóriam Bathe Matheus. Chegou da
Espanha em 1914, juntamente com seus pais e irmãos. A família Matheus
radicou-se em Guaianases, onde adquiriu uma pedreira. Aos 6 anos,
Vicente Matheus iniciou o curso primário; aos 9, já ajudava o pai na
pedreira. Aos 12 anos, trabalhava duplamente: auxiliava no pequeno
armazém que fornecia suprimento aos empregados e também na firma do pai.
Embora o trabalho na pedreira fosse pesado
para a sua pouca idade,Vicente Matheus gostava, pois lhe proporcionava o
convívio com outros garotos e a prática do esporte pelo qual tinha
paixão.
O EMPRESÁRIO DE SUCESSO
Foi essa paixão que o levou, ao longo do
tempo, a filiar-se ao Sport Club Corinthians Paulista.
Em 1945, Vicente naturalizou-se
brasileiro. Já casado, deixou Guaianases e radicou-se na Rua São Jorge,
nas proximidades do clube.
Trabalhando arduamente, executou alguns
serviços para a Prefeitura do Município de São Paulo, os quais foram se
intensificando no decorrer de sucessivas administrações. Graças à sua
tenacidade, foi formando e consolidando o seu nome como empresário,
chegando a ter uma pavimentadora, a Vicente Matheus, um complexo
industrial que abrangia a fabricação de tubos de concreto armado para
galerias, extração de todo e qualquer tipo de pedra britada, usinagem de
concreto asfáltico, além de depósitos e oficina, na Rua São Jorge.
O PRESIDENTE DO TIMÃO E SUAS
HABILIDADES
Paralelamente ao sucesso empresarial,
ascendeu também no futebol, tendo galgado posições como conselheiro
direto e presidente por vários mandatos consecutivos. Foi um
administrador habilidoso porque soube se adaptar a mudança dos jogadores
e técnicos que se profissionalizavam nas negociações de contrato e nas
transferências de passe para outros times. Assim como as torcidas que se
organizavam e acumulavam poder de representação cada vês maior.
Nesta trajetória fez aliados e inimigos,
que às vezes eram as mesmas pessoas e que o surpreendiam pela capacidade
de alternar opiniões políticas e dar maleabilidade em preceitos como a
ética.
O atacante
Almir, pernambucano, foi contratado por oito milhões, pagos por Vicente
Matheus de seu próprio bolso numa atitude desesperada para melhorar a
equipe. Entretanto, os fracassos continuavam.
Vicente
Matheus voltou à presidência do clube em 1972, mesmo ano em que Rivelino
pediu para sair, pois não agüentava testemunhar São Paulo e Palmeiras
disputando uma final e o Corinthians há tanto tempo sem um título.
A situação
não mudou muito no ano seguinte e o clube recebeu até uma visita de um
poderoso pai-de-santo para melhorar a crise. O Corinthians foi para a
final do paulista contra o Palmeiras e perdeu por 1 a 0. A torcida
reclamou muito, alegando falta de raça, culpando Rivelino pela derrota.
O jogador acabou sendo transferido para o Fluminense em 1975.
As
transações se tornaram cada vez mais difíceis, mas ele era rápido, como
no episódio da contratação de Sócrates: O São Paulo tinha interesse pelo
meio campista do Botafogo de Ribeirão Preto, mas precisava do dinheiro
da venda do médio volante Chicão, que estava se transferindo para o
Corinthians. Preocupado em defender os interesses do clube, o dirigente
mandou seu irmão e diretor de futebol, Isidoro Matheus, atrasar a
negociação do jogador são paulino, enquanto voltava de Ribeirão trazendo
na bagagem aquele que seria mais tarde, um dos ídolos da Fiel.
Imigrante,
bem humorado, empreendedor e o mais corinthiano das arquibancadas - no
caso dele, fora dela também. Vicente Maheus virou, sem a pretensão de
dizer, um emblema. Dos dirigentes do alvinegro foi o único que teve
notoriedade além do Parque São Jorge. E era aquele que "levava o clube"
para dentro de sua casa.
Nenhum
jogador contratado por ele para defender o timão ficava sem conhecer
também, a família Matheus. Durante os anos que esteve à frente da
diretoria, realizou obras importantes de construção e modernização do
clube. Como prêmio por sua dedicação recebeu o título de sócio grande
benemérito do clube. Ele presidiu o clube por oito mandatos: 1959, 72,
73, 75, 77, 79, 87 e 89.
Durante
esses mandatos, o Corinthians conquistou os títulos mais importantes de
sua história. O Paulista de 1977, acabando com o jejum de 23 anos sem
título e o Brasileiro de 90, único título nacional que o Corinthians
conquistou. Também era diretor de futebol quando o Corinthians
conquistou o título do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Ele era
casado com Marlene Matheus, que também foi presidente do clube em 91-93.
Vicente Matheus deixou a diretoria em 1993.
Morreu aos
88 anos, de câncer, após ficar 14 dias internado no Instituto do
Coração.
SUAS
FRASES ABSURDAS, MAS INESQUECÍVEIS
Foi um
líder, folclórico, carismático, dono de frases curiosas e engraçadas,
utilizadas como marketing pessoal. Caso de uma delas, dita durante a
campanha à presidência, em 1987: "minha gestação foi a melhor que o
Corinthians já teve". Ou durante uma entrevista coletiva quando
respondeu ao repórter: "haja o que hajar, o Corinthians vai ser
campeão". Veja outras frases:
"Espero que
os corinthianos compareçam para naufragar nas urnas o meu nome".
"O Sócrates
é invendável e imprestável".
"Comigo ou
sem migo o Corinthians será campeão".
"Quem sai na
chuva é para se queimar".
"Tive uma
infantilidade muito difícil".
"Gostaria de
agradecer a Antarctica pelas Brahmas que nos mandaram".
"O pato é um
animal aquático e gramático".
"O difícil
não é fácil".
MARLENE
MATHEUS, ETERNA E DEDICADA ESPOSA
Marlene foi
sua extensão no amor pelo clube e ainda mantém a história de Vicente
atual, dividindo suas atividades entre ações políticas e sociais que
defendem o Spor Club Corinthians Paulista. Recentemente participou da
coordenação do evento "Jubileu de Prata do Campeonato de 1977", uma
homenagem aos atletas que conquistaram o título de Campeão Paulista
daquele ano. Importante para os torcedores pelo resgate histórico, a
celebração ainda arrecadou 10 toneladas de alimentos, distribuída entre
cinco instituições que cuidam de crianças e moradores de rua.
Sua nova
empreitada é a criação do Espaço Vicente Matheus. Será aberta, em sua
casa uma área para exposições, mostras e lançamentos de livros, dentro
de uma programação renovada mensalmente, além de encontros intimistas
com intérpretes da música e noites especiais com jogadores e
ex-jogadores de futebol. Nele haverá escolinha de futebol, loja de
badulaques com a marca Corinthians e fotos de colecionadas pela família
ao longo desses anos, tudo coordenado pelo corintiano fanático
Washington Olivetto.
Marlene
promete um grande alarido na inauguração. Para que as pessoas conheçam o
universo do dirigente, parte do local será adaptada, para visitações
abertas ao público. Marlene também foi responsável pela narrativa que
serviu de base para o livro Matheus, O Senhor Corinthians, livro este
que fala da vida do maior dirigente corinthiano da história.
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