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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. LEANDRO DE ITAQUERA - CARNAVAL 1998
Enredo: França e Brasil, Unidos Pela Sedução

O Grêmio Recreativo
Autor: Marco Aurélio Ruffin

 

SINOPSE

A História da presença francesa no Brasil abrange cinco séculos, marcados por uma constante cumplicidade e o interesse dos brasileiros pelas diferentes formas de cultura francesa.

Ao longo destes séculos nasceu e não parou de crescer a sedução e a amizade que ligam as duas nações.

Desde os primeiros marinheiros que estabeleceram as primeiras relações comerciais e de amizade com os nossos índios, à presença do índio brasileiro na França, imortalizado na literatura da época. O interesse da França pelo Brasil chegou a trazer expedições que sonharam criar aqui uma França Antártica (no Rio de Janeiro) e uma França Equinocial (no Maranhão).

No século passado foi primeiro um fenômeno da corte: as missões francesas depois de 1816 marcaram a arquitetura do Rio de Janeiro e influenciaram a criação literária e artística. O próprio Imperador Dom Pedro II manteve, a vida toda, uma profícua correspondência com escritores e pensadores franceses.

Na moda, nos costumes sociais e na gastronomia. Era "chic" falar francês e vestir-se à européia.

A presença da França era marcante, as expedições de cientistas, escritores, engenheiros, industriais... Presença sobretudo das idéias, do gosto, da arte, da ciência, da técnica, da filosofia, das letras, dos ideais políticos, militares, sociais, religiosos, humanitários, pragmáticos e até mesmo utópicos: Presença da cultura e do saber.

HISTÓRICO DO ENREDO

O imaginário francês sonhava com eldorados e paraísos lendários situados no novo mundo. E mal se anunciava a descoberta do Brasil e já por aqui chegavam, seduzidos pelo éden imaginário, navegadores e aventureiros franceses, dos quais o primeiro foi certamente o capitão Binot Paulmier de Gonneville, em 1503. Iniciando as relações franco-brasileiras através do comércio do pau-brasil.

Dessas relações cresceu uma grande amizade, nascida e cultivada pela convivência direta entre os franceses e os nossos primitivos habitantes, até mesmo em termos de aliança militar e com alguns casamentos que se tornaram lendários. Os franceses foram os primeiros a se deixarem seduzir pelo corpo e pelos olhos das índias brasileiras e a levarem para a Europa notícias de sua beleza e da graça de seus gestos.

Aproveitando desta relações de amizade, em 1550, os franceses resolveram convidar os índios brasileiros para irem á Rouen, fazerem parte das festividades em homenagem ao Rei Henrique II e sua esposa Catarina de Médices; para este espetáculo foram levados cenas da vida selvagem. O exótico do cenário e dos figurantes realçava um dos aspectos mais atraentes da vida primitiva: a liberdade.

Este acontecimento não ficou somente como um momento na relação dos dois países, mas o Brasil tornou-se presente na literatura francesa do século XVI, nessa ocasião Ronsard escreveu o poema "As Ilhas Afortunadas" e Michel de Montaigne, em "Ensaios", imortalizou o bom selvagem.

Cinco anos depois da festa de Rouen, Nicolas Durant de Villegaignon fundou na Ilha da Baía de Guanabara, que hoje leva seu nome, a França Antártica, comunidade que deveria servir de refúgio aos fiéis da Igreja de Calvino. Dezesseis meses mais tarde, foi construído o Forte Coligny. Entretanto, diferenças religiosas dividiram a comunidade, favorecendo a ação portuguesa que conseguiu tomar o forte me 1560, mas permaneceram alguns deles na Guanabara até 1567.

Os franceses tentaram se estabelecer na Paraíba e no Rio Grande do Norte, mas haviam sido expulsos e pareciam dispostos a continuar no Brasil.

A tentativa seguinte de estabelecimento foi a fundação da França Equinocial, no norte do país, em área que hoje é do Estado do Maranhão. Em 1612 fundaram a cidade de São Luis, nome dado em honra ao Rei de França Luis XIII, onde sonharam criar no Maranhão uma nova França, que se pensou que os índios se transformariam em franceses. Só que a história não se fez assim. Alertados pela prosperidade dessa colônia francesa que rapidamente chegou à 12.000 habitantes, os portugueses resolveram expulsar os franceses das terras do Maranhão.

No século XVIII, a influência da França foi reduzida, sem no entanto deixar de exercer. Os ideais da Revolução Francesa ecoaram entre nós; e todas as nossas revoluções até a República eram reflexos destes ideais: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

No alvorecer do século XIX um dos casos mais interessantes de cooperação cultural entre França e Brasil adquire especial interesse. Em 1808, toda a corte portuguesa ameaçada por Napoelão, foi transferida para o Rio de Janeiro. Funda-se o novo Reino de Portugal, Algarve e Brasil. Em 1816, o Rei Dom João VI, providenciou a formação de um grupo de artistas franceses para implantar artes eruditas nas terras brasileiras. Trata-se da famosa Missão Artística Francesa, responsável pelos passos iniciais importantes no sentido do estabelecimento do ensino artístico e técnico.

Entre os membros que compunham a verdadeira embaixada da cultura francesa, destacaram-se os pintores Jean Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, assim como o arquiteto Auguste Grand-Jean de Montigny e o chefe da missão Joaquim Lebreton, que era secretário permanente da seção de Belas Artes no Instituto de França e diretor do Museu do Louvre.

O notável acontecimento assinalava o início da sistematização dos estudos das belas artes no Brasil, como vínculo muito marcante entre a cultura francesa, no que ela tinha de mais representativo, e a cultura brasileira que se expandiria sob a sua inspiração. A partir daí, a influência da França para o Brasil não pararia de crescer.

Proclamada a Independência do Brasil em 1822, as relações franco-brasileiras tiveram um novo impulso. A emancipação política provocou o surgimento de novas elites. A França foi um dos países cuja organização política despertou o interesse da jovem classe ascendente.

Nesse período o estilo de vida já era predominantemente francês. Os costumes, a moda, a gastronomia, o comércio, os centros de cultura e lazer, e as manifestações artísticas, tudo vinha de Paris. Era chic falar francês e vestir-se à européia. O brasileiro estava seduzido pela França e o desejo de se ter outras mercadorias francesas crescia. Porcelanas, artigos de fantasias e até mobiliário era importado diretamente da França.

O Rio de Janeiro era o palco dos acontecimentos, e justamente para lá que iam as numerosas francesas e franceses que vinham tentar a vida em nosso torrão. Eram modistas, costureiras, peruqueiros, perfumistas, e muitas outras categorias de profissionais, aos quais se abria um inesgotável campo de atividade. E aos poucos foram se instalando na famosa Rua do Ouvidor, rua, que com o passar do tempo se tornou praticamente francesa, a tal ponto de se pensar estar em Paris.

No Primeiro Reinado, um forte traço de união marcou os dois países, foi o entrelaçamento da família dos Braganças com a dos Orleans. Essa ligação entre as duas famílias reais, nasceu do casamento do filho do Rei Luis Filipe, François Ferdinand-Philippe d'Orleans, príncipe de Joinville com a Princesa Francisca de Bragança filha de Dom Pedro I; o que contribuiu para irmanar ainda mais os dois povos.

No Segundo Reinado, o Imperador Dom Pedro II, admirado e muito querido na Europa, que o destacava entre os maiores chefes de Estado pela sua expressão intelectual, trouxe para o Brasil grandes valores da cultura francesa, que viriam beneficiar a cultura brasileira em todos os domínios.

No campo da educação nacional, o Imperador imprimiu notável impulso com a criação dos melhores estabelecimentos de ensino. A partir daí o francês passou a ser a segunda língua falada no Brasil, pelo número de ilustres professores, e pela norma de serem adotados nos estudos os livros vindos da França - veículo principal de aprendizagem da geração brasileira que se educou até perto da última grande guerra.

Foi assim, muito grande, fecunda e ampla a colaboração que trouxeram ao nosso progresso os numerosos e ilustres franceses, muitos dos quais se fixaram definitivamente em nossa terra. A genealogia brasileira está, por isso, cheia de nomes franceses, vindos para o Brasil em todas estas épocas.

E assim chegamos à República, implantada pelo entusiasmo e o interesse que despertavam as idéias e os livros franceses, nas lideranças intelectuais brasileiras.

O que nos veio da França foi, sobretudo, a grande aspiração do Estado liberal, da liberdade de crenças e de idéias.

Mas o novo modelo de sociedade que se tratava de introduzir no Brasil, segundo as lições de Augusto Comte, o grande sociólogo francês, contava, sem dúvida, com a veneração e fervor de muitos líderes do republicanismo brasileiro. Basta ver o próprio tema da bandeira nacional, "Ordem e Progresso", que ainda hoje define o espírito social, como guia e fonte de inspiração do movimento vitorioso de 15 de novembro de 1889. Ele viria do preceito da doutrina social de Augusto Comte: "O amor por princípio e a ordem por base: o progresso por fim".

No início do século XX, Paris concentrava a atenção do mundo, como centro em que se abria a história da Aviação. Foi a época que surgiu a figura lendária do brasileiro Alberto Santos Dumont, que em 1906 realizou o primeiro vôo mecânico do mundo, despertando em Paris uma atmosfera de grande entusiasmo, mobilizando o interesse e o esforço dos grandes idealistas e o gênio inventivo dos numerosos adeptos da Aeronáutica de todas as origens, atraídos por Paris, que dispunha dos recursos técnicos e científicos para ser considerada, como era, o centro universal da cultura.

No Brasil, as instituições culturais eram, frequentemente, reflexos das instituições francesas. A Academia Brasileira de Letras é um bom exemplo de cópia de modelo, não apenas na sua estrutura institucional, mas também no seu espaço, já que se instalou numa réplica do Petit Trianon, pavilhão que o governo francês lhe presenteou em 1922.

Havia além das ligações históricas entre as duas culturas, os laços da latinidade as uniam, até mesmo pela interpretação do campo da lingüística. O dicionário da nossa língua portuguesa muito se enriqueceu com a consagração dos galicismos inevitáveis, do mesmo modo, que o dicionário da Academia Francesa adotou alguns verbetes de origem Tupi.

No Brasil contemporâneo, a presença científica da França, foi marcada pela presença de Pasteur que, sem jamais ter vindo ao Brasil imprimiu com sua escola o traço essencial do Brasil moderno. O médico sanitarista Oswaldo Cruz, após anos de estudos em Paris, no instituto Pasteur, foi o responsável pela abertura definitiva dos portos brasileiros, graças à erradicação da febre amarela no Brasil e à criação do Instituto de Pesquisa que leva seu nome, no Rio de Janeiro.

Apesar de nesta época o Rio de Janeiro já estar caminhando para um identidade cultural própria, a influência francesa ainda era marcante.

O Rio vivia os tempos da Belle Èpoque e com a vinda do estilo francês e requintado chamado Art Nouveau, as influências na arquitetura, pintura, decoração e moda, em pouco tempo transformaria a cidade do Rio de Janeiro em "retrato de Paris".

Na área militar, foi grande a contribuição da França para a formação de Oficiais Brasileiros. Em 1919, o Ministro da Guerra, Hermes da Fonseca convidou uma missão militar francesa a fim de colaborar para o desenvolvimento das forças armadas no Brasil. Após o período das guerras as relações Franco-brasileiras perderam a intensidade, sem no entanto deixar de existir.

Entre os vários franceses ilustres que vieram para o nosso país destaca-se também o fotógrafo e pesquisador Pierre Vergê. Vergê ficou seduzido pelo Candomblé - expressão máxima da cultura afro-brasileira, "iniciou-se no santo" recebendo a digima de Fatumbi e consagrado ao orixá Xangô, escreveu vários livros e se notabilizou dentro de nossa cultura.

Em 1934 é enviada a São Paulo Missões Universitárias Francesas compostas de dois grupos de jovens franceses recém-formados, entre os quais Roger Bastide e Claude Lévy-Strauss - participam da fundação da USP Universidade de São Paulo. Criam a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, colaborando também para a implantação da cultura e do saber em nosso país.

Neste fim de século, as relações culturais mantém uma grande vitalidade e as relações comerciais, com a criação do Mercosul e com a estabilidade da economia brasileira ganham um dinamismo maior, e remete para o futuro os laços de amizade e cooperação que vem desde a descoberta do nosso país.

 


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