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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. LEANDRO DE ITAQUERA - CARNAVAL 1997
Enredo: Doçura da Terra Brasil

O Grêmio Recreativo
Autor: Marco Aurélio Ruffin

 

INTRODUÇÃO

No meio, o mar. De um lado, uma terra generosa e rica. Dessa terra saia um produto cobiçado, por ser fácil comércio e muito redondo. E que no passado era uma das mercadorias mais caras do mundo, artigo de luxo vendido em grãos nas farmácias, custava seu peso em ouro, fazia parte até dos enxovais das rainhas e integrava testamentos de reis.

Negociar com ele significava riqueza a curto prazo. O produto, era o açúcar da terra Brasil.

DOÇURA DA TERRA BRASIL

Chamada pelos antigos de sal da Índia, o açúcar é um dos artigos destinados ao consumo alimentar de maior importância internacional.

Como o seu antigo nome sugere, o açúcar de cana é originário da Índia, também conhecido e apreciado nas mais antigas civilizações. Foi sempre um dos prêmios e uma das maiores cobiças dos conquistadores. Com as vitórias dos Mouros conquistadores ela foi à Pérsia, à Síria e ao Egito, chegando também até a Sicília. Na Europa, porém, o açúcar era privilégio de grandes senhores, produto da farmacopéia e instrumento de práticas de magia - tal a raridade e o preço.

Até que aconteceram as Cruzadas. Ao retornar da luta contra os infiéis, os guerreiros cristãos apreciavam exibir um precioso troféu: pequenas quantidades daquela substância muito doce que chamavam "mel pagão".

Grandes fortunas e poderes nacionais se formaram comerciando açúcar na Europa e o propósito de colocar mais açúcar no mercado incentivou as grandes navegações que levaram à descoberta de caminhos para as Índias, para as Américas, e no nosso caso para o Brasil.

Data do ano 1420, Dom Henrique regente de Portugal importa da Sicília para a Ilha da Madeira a cana-de-açúcar. Oitenta anos depois é descoberto o novo mundo e marca o domínio Português no Brasil.

O Rei D. João III sentiu que era necessário colonizar rapidamente as novas terras, a fim de evitar que outros países as invadissem e conquistassem. Precisava ocupar de fato a nova colônia, para não perdê-la.

A solução para a ocupação, foi encontrada na lavoura canavieira, devido Portugal já ter experiência e contatos comerciais que permitam a colocação do produto no mercado europeu. Estava lançada a gênese da ocupação brasileira.

Admite-se as primeiras mudas de cana-de-açúcar tenham chegado ao Brasil em 1532, com a expedição de Martim Afonso de Souza - era eles alcaide-mor de Bragança e do Pio maior, senhor do Prado, de Alcoentre Tagarro, fidalgo da Casa Real e nomeado por Dom João III como chefe da expedição colonizadora.

A estratégia de ocupação foi a mesma utilizada nas ilhas dos Açores e da madeira, dividiram a colônia em capitânias. Essas Capitânias eram doadas aos fidalgos portugueses que deveriam povoá-las, cultivá-las e desenvolvê-las.

Apesar do pioneirismo da capitânia de S. Vicente, foi na Capitânia de Pernambuco, pertencente a Duarte Coelho que se implantou e cresceu o primeiro centro açucareiro no Brasil, transformando a colônia em elemento fundamental do Império Português.

O clima quente e úmido das terras do Brasil proporcionou boa acolhida à cana-de-açúcar. Em pouco tempo, a nova colônia portuguesa estava em condições de fornecer aos europeus todo açúcar que desejassem. A rápida expansão da indústria do açúcar, notadamente no Nordeste brasileiro, mostra que os portugueses haviam encontrado condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Eles dispunham de toda a terra doada pela Corte aos donatários das Capitânias. E contavam com a abundante mão-de-obra escrava trazida da África.

Multiplicaram-se os engenhos (as construções onde se processava a fabricação do produto), rodeados pelos canaviais. O açúcar fez do Nordeste a parte mais rica e desenvolvida do Brasil daquele tempo. As vilas, como Olinda e os principais engenhos tornaram-se centros de produção, de comércio e de cultura muito importantes. Assim a cultura do açúcar, com sangue e suor da escravidão construía uma nação, que no início do século XVII, já era o maior produtor mundial, transformando o açúcar na grande estrela do comércio mundial ao longo de quase todo século.

Em 1580, Portugal passou a pertencer à coroa espanhola. Os inimigos da Espanha - entre os quais figurava a Holanda - tornaram-se, assim, inimigos de Portugal. Durante muito tempo, o comércio do açúcar produzido no Brasil ligou Lisboa à Amsterdã e outros portos holandeses, onde o produto era refinado e depois redistribuído para a Europa.

Na realidade, os holandeses eram de fato os controladores desse comércio, sempre obtendo grandes lucros. Porém com o domínio espanhol, o conflito que se seguiu interrompeu esse comércio. Então os holandeses decidiram obter a preciosa mercadoria na sua fonte. O Nordeste brasileiro. Chegaram em 1630 e só foram expulsos em 1654.

Durante os dois séculos que se seguiam ao descobrimento, a Europa passou a receber todo o açúcar que consumia; ao lado do, ouro e das pedras preciosas, era mais uma riqueza que os colonizadores vinham buscar no Novo Mundo.

E assim continuou até que, no começo do século XVIII, o imperador Napoleão Bonaparte, em guerra contra a Inglaterra, estabeleceu o bloqueio contra navios britânicos e de outros países que comerciavam com ela.

Eram esses navios que transportavam o açúcar produzido no Brasil para os portos europeus.

Alguns anos antes, um químico alemão havia conseguido obter o açúcar de outra planta, a beterraba. O produto saia bem mais caro que o extraído da cana, mas este estava praticamente impedido de chegar ao consumidor europeu. O jeito portanto, era conseguir açúcar a partir daquela raiz, que se dava muito bem com o clima europeu.

O próprio Napoleão incentivou o trabalho de pesquisa, destinando recompensas aos aperfeiçoadores do processo de cultivo da beterraba e da extração do seu açúcar.

O crescimento da produção do açúcar de beterraba que se iniciou em pequena escala na Alemanha e se expandiu pela França, Rússia e o resto da Europa, além dos EUA e Canadá criou sérias dificuldades à produção açucareira no decorrer do século com a Abolição, em 1888, que permitiu a indústria açucareira no Brasil ter a sua disposição capitais do equipamento industrial nas primeiras décadas do séculos XX.

Assim a modernização econômica do Brasil no decorrer do século XX, deram uma nova dinâmica à indústria açucareira, apesar da decadência nordestina, que se verificou nas últimas décadas com a liderança brasileira na produção mundial de açúcar de cana.

No decorrer deste século as áreas produtoras atingiram novas regiões e a partir de 1974 com a criação do Proálcool fizeram de São Paulo, o principal produtor do país.

Não foi apenas nos aspectos políticos, econômicos e sociais que a produção açucareira marcou a realidade brasileira, mas também em nossa cultura ela deixou marcas importantes seja na literatura, no folclore ou em qualquer outra manifestação cultural, esteve presente.

Na verdade, a literatura nacional teve, em seus diferentes períodos, autores preocupados com essa temática exceção feita ao Arcadismo que devido, ao seu caráter urbano, vinculado com as Minas Gerais, seguiu outros caminhos. Assim, no Barroco, Romantismo ou Modernismo, podemos localizar obras relacionadas com a cana-de-açúcar, com os engenhos com a escravidão ou com a sociedade açucareira, etc. Apenas como exemplo, Gregório de Matos no século XVII (Obras Completas); Castro Alves e Bernado Guimarães no século XIX (O Navio Negreiro e a Escrava Isaura); Graciliano Ramos e José Lins do Rego no século XX (São Bernardo e Menino de Engenho); entre outro.

De fato, o principal autor que tem parte de sua obra integrada com o ciclo do açúcar é o modernista José Lins do Rego, através dos romances: Menino de Engenho (1932) - Doidinho (1933) - Bangue (1935) - Moleque Ricardo (1935) - Usina (1936) - Fogo Morto (1943). Além disso, podemos destacar o trabalho do sociólogo Gilberto Freyre que na década de trinta publicou o seu livro Casa Grande e Senzala.

Em relação ao folclore, é importante destacar que a mescla da cultura indígena, negra e européia criou um terreno fértil para o surgimento de mitos e lendas relacionados com a realidade açucareira. Apenas como exemplo, as crenças, na zona canavieira nordestina, da "Serpente Verde dos Canaviais" dona absoluta da plantação; que nos revela a simbiose das três culturas, pois a serpente é parte integrante do ideário mítico de americanos, africanos e europeus.

Uma das feições que assumiu a economia açucareira foi a de desenvolver a popularização do uso do açúcar. Contam que no decorrer desta história Portugal se tornou o país mais famoso do mundo em matéria de doces e guloseimas, em cujo preparo se esmeravam suas melhores cozinheiras.

Desta forma, é inegável que em quatro séculos de plantio de cana e produção de açúcar, fincaram-se raízes em todos os seguimentos da vida brasileira que marcaram profundamente nossa história.

 


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