Apresentação do Enredo
Sob a luz do carnaval, a Mocidade Alegre – mais uma vez mergulhada em emoção – entra em cena para fazer uma justa homenagem a uma das maiores artistas que o Brasil já conheceu. Seu nome... Marília Pêra! Atriz, bailarina, cantora, diretora e coreógrafa, Marília nasceu em uma família de artistas e desde pequena – curiosa e atenta ao comportamento humano – observou com reverência a trajetória de grandes atores, e deles buscou ser espelho para construir sua história no teatro, cinema e televisão. Falar de Marília é falar do jeito brasileiro de atuar... Exaltar Marília é celebrar a cultura nacional... Eis aí a nossa nobre missão: Reverenciar sua obra! Inspirada pelo talento da grande homenageada, a Morada do Samba vai passar... Com a magia dos deuses da arte, o requinte de uma peça sheakespeariana, a irreverência de um teatro de revista, o encanto luminoso de um filme, a emoção de uma novela... E com a dignidade de uma Escola de Samba! E ela, que brilhou esplendorosa como estrela nos palcos da vida, arrancando calorosos aplausos, hoje brilha na constelação desse palco iluminado dos sambistas. Tomem seus lugares... O último sinal tocou, as cortinas se abrirão... O show vai começar! Avante, Família Mocidade Alegre!
Sinopse do Enredo
Ato 1 – Luzes da Ribalta... A Arte Inspira a Menina-Bailarina... Surge Uma Estrela!
Evoé!
Lá, onde os imortais venceram o tempo, um cortejo de bacantes faz as oferendas em louvor a Dionísio. É desse eterno ritual que emana a força vital do Carnaval e do Teatro, juntos e inseparáveis. Nessa delirante festa de celebração à vida, o belo Apolo – deus da luz do sol, da beleza e da arte – encontra Terpsícore, a Musa da Dança.
Do bailado divino desses dois seres, sela-se o destino de uma menina, Marília. Filha de Manuel Pêra e Dinorah Marzullo. Neta de Antônia Marzullo. Sobrinha de Abel Pêra. Todos eles atores!... Nascida em uma família de artistas. Por serem artistas, já estavam todos a um passo da imortalidade.
Embalada por acordes musicais e vozes possuídas pela glória de viver mil vidas, teve aos dezenove dias de existência a sua primeira oportunidade de subir ao palco de um teatro. Nas coxias, brincou com as musas da canção, da comédia, da tragédia, do bailado e da fama. Aos quatro anos já era uma atriz, com o texto e a marcação de cor, e envolta aos encantos dos grandes clássicos do teatro universal.
Alimentada pela atmosfera atemporal dos palcos, pela poesia – que baila livre e incontida como a poeira sob as luzes da ribalta – e pelos aplausos, cresce a menina que teve nas coxias seu berço, seu jardim da infância, sua escola, onde ela viu os pais e seus colegas atuarem, fazendo dela graciosa bailarina.
Definitivamente, seu destino não haveria de ser outro senão o mágico dom de representar... Ao nascer e crescer iluminada pelos deuses ganhara a missão de cantar e encantar para que, um dia, viesse a se tornar uma diva imortal. Um talento a revelar, um destino a se cumprir... Eis que surgia uma estrela!
Ato 2 – Nos Palcos, o Alvorecer!
Seguindo o destino traçado pelos deuses, alçou longos voos em sua brilhante carreira...
Do início como corista ao posto de atriz principal, Marília Pêra tornou-se uma respeitável dama do teatro brasileiro, graças à sua versatilidade no trânsito entre a comédia e a tragédia e a uma disciplina incomum aos meros mortais.
Viveu, com brilhantismo, grandes clássicos do teatro universal, dando vida e voz muito especiais a ricos personagens de montagens consagradas, como Medeia, A Megera Domada, Ópera dos Três Vinténs e O Barbeiro de Sevilha. Brilhou em Se Ficar o Bicho Pega, Se Correr o Bicho Come, em Apareceu a Margarida, em A Vida Escrachada... Célebres e impagáveis atuações!
Que Deus lhe Pague, pois nem os duros “anos de chumbo” – em que uma Roda Viva aprisionou e torturou a poesia e a liberdade – conseguiram apagar o brilho dessa estrela, que tem como sina a arte de fazer a plateia rir ou chorar.
Marcou seu nome definitivamente no panteão dos deuses dos palcos brasileiros ao protagonizar diversas montagens, dentre elas Toda Nudez Será Castigada, Victor ou Vitória, Gloriosa e Alô Dolly.
Assim foi, no palco, o Doce Deleite de declarar seu amor ao teatro e à classe artística, exaltando os muitos profissionais da cena, verdadeiros operários que mantém viva a vida que se mostra ao descerrar das cortinas.
O Brasil e o mundo conheceram a genialidade de uma lenda dos palcos... Era apenas o início da consagração, pois viria também a se destacar como cantora, coreógrafa e diretora... A estrela aceitou o seu destino: o destino de brilhar!
Ato 3 – Grandes Mulheres Em Uma Grande Mulher... Elas Por Ela!
...A criança que eu fui, assistindo e escutando o trabalho dessas
Grandes artistas, atrizes e cantoras
Mulheres apaixonadas e apaixonantes
Que de certa forma contam a nossa própria história
Essa criança permanece viva dentro de mim
Imutável, encantada...
E eu gostaria que ela ficasse sempre comigo
Para que juntas pudéssemos cantar, dançar, representar...Viver
Todas as nossas possibilidades de mulheres e de artistas
E assim, sermos felizes!”
(Texto de André Valli, especialmente para Marília Pêra no espetáculo Elas por Ela)
Fascinada pelas mulheres ousadas e maravilhosas, que ora influenciaram a cultura mundial, ora construíram o panorama musical brasileiro no Século XX, Marília fez questão de, carinhosamente e respeitosamente, revivê-las no palco.
O carinho pelas grandes divas da ópera, pelas vedetes do teatro de revista, pelas rainhas do rádio e pelas musas da MPB levou Marília a atuar em inúmeros musicais, onde ela declarou seu amor e admiração pelas estrelas da canção.
Presenteou o público com deliciosas atuações, encantando e cantando obras imortalizadas por reluzentes estrelas da música... Passeou por canções eternizadas nas vozes de Maria Callas, Chiquinha Gonzaga, Aracy de Almeida, Emilinha Borba, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Nara Leão, Nana Caymmi, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Clara Nunes, Elis Regina...
É reluzente, no espetáculo Elas por Ela, sua homenagem a Aracy Côrtes entoando os versos de Tem Francesa no Morrô: “Dance Ioiô...Dance Iaiá...”
Além de nomes imortais da música, também exaltou, com maestria e beleza, grandes responsáveis pelo fortalecimento da figura feminina na sociedade moderna... Representou célebres mulheres, dentre elas a glamourosa estilista Mademoiselle Chanel e a lendária primeira dama do Brasil, Dona Sarah Kubistcheck... São atuações inesquecíveis, que fazem de Marília Pêra uma artista ímpar na arte de reviver talentos e grandes valores do nosso tempo.
Eis o seu fascínio pelas “muitas mulheres que nela habitam”!
Entre tantas estrelas vividas por Marília, a mais emblemática e carismática é Carmem Miranda – “A Pequena Notável”, que ela representou mais de oito vezes, com seus balangandãs, seu sorriso irresistível e seus versos mundialmente conhecidos...
“O meu ganzá faz Chica Chica Bum, Chic...
Prá eu cantar é Chica Chica Bum, Chic... ...
É brasileiro o Chica Chica Bum, Chic...
Com um pandeiro fazendo Chica Chica Bum, Chic...”
Ato 4 – A Grande Dama... Das Telas Para os Braços do Povo
Marília Pêra tornou-se grande dama das artes no Brasil por ter oferecido seu raro talento a todos os meios onde o dom de atuar se faz presente.
Tão reluzente quanto seu brilho nos palcos dos teatros foi seu carisma nas telas do cinema e da televisão. Brilhou, com merecido destaque, em todas as searas por onde passou... Uma artista completa, versátil e carismática.
O cinema, desde seu surgimento, marcou o destino dos grandes artistas e com ela não foi diferente: na magia da “Sétima Arte”, Marília brilha no Bar Esperança, que reúne artistas, poetas e sonhadores que acreditam: Dias Melhores Virão! Enquanto isso, lá fora, Pixote está sob a proteção dos nada santos Anjos da Noite.
Na televisão, o Brasil se emocionou e torceu pelo destino de personagens fascinantes em novelas, seriados, minisséries e especiais, fossem sofisticadas como Rafaela Alvaray em Brega & Chique, amargas e vingativas como a Juliana em O Primo Basílio, batalhadoras como a camelô Genu em Lua cheia de Amor ou oportunistas como a Milu Montini em Cobras & Lagartos.
Como não se comover com a desafortunada prostituta morta Erotildes, da minissérie Incidente em Antares? Morte, aliás, que é vencida pela alegria por Darlene, a querida alcoólatra maquiadora de defuntos no seriado Pé na Cova.
No cinema, a expressão que fascina... Na televisão, a emoção que arrebata... Uma diva brasileira nas telas do mundo!
Ato 5 – Uma Artista Completa e Brasileira... A Consagração de Uma Estrela: Obrigado, Marília!
Brasileira de corpo e alma, Marília Pêra já brilhou muitas vezes na passarela do samba, defendendo com garra cada personagem. Na avenida ela já foi Carmem Miranda, Nair de Teffé, Coco Chanel... Mas hoje ela será... Ela!... Absoluta, fulgurante, uma verdadeira diva!
Marília dedicou grande parte de sua carreira ao resgate e a valorização de artistas que desenharam a identidade do país. Além das divas da canção, nossa homenageada também interpretou Ary Barroso – e sua Aquarela do Brasil; e o Rei Roberto Carlos, a 120... 150... 200 Km por Hora.
Seu talento nato lhe rendeu grandes e cobiçados prêmios – no Brasil e no mundo – oferecidos em reconhecimento pelo amor e dignidade com que trata sua arte, sua profissão. É o amor de quem nasceu, cresceu, amou e, enfim, viveu no palco. Um amor verdadeiro que é percebido popularmente em todo o país, que aponta Marília como uma das mais queridas atrizes brasileiras.
E hoje – diante de uma plateia emocionada – a Mocidade Alegre, carinhosamente, transforma a passarela em um imenso teatro, para declarar ao mundo sua gratidão e reconhecimento a ela... Marília Pêra, que viveu tantas vidas em sua vida, agora será vivida, cantada, dançada e aplaudida de pé por todos nós, os sambistas que tanto nos orgulhamos de sua arte...
Eis a merecida celebração de uma vida no palco... O palco do samba!
Cumprindo os desígnios dos deuses, tú és imortal...
Bravo, Marília! |