"A vida é como o vinho: se a quisermos apreciar bem, não devemos bebê-la até a última gota."
Lorde Byron
ABERTURA:
SANGUE DA TERRA
asci antes da Escrita e já escreveram bastante a meu respeito. Transformaram-me em predicado, verbo e sujeito de orações que ecoam pelo Infinito.
Benditos frutos que me deram Vida e, com ela, a eterna missão:
Celebrar a paz e a união entre homens e nações,
uma espécie de porta-voz do Coração.
Lembro-me das Bodas de Caná, cerimônia de casamento entre judeus,
Famílias se uniam na alegria, mas, se bebida não havia.
Como poderiam celebrar?
Foi quando o Mestre intercedeu, atendendo ao pedido de Maria.
A água que enche seis talhas carrega-se em tinta e sabor
um doce aroma, então se espalha, e com ele, surpresa e rubor.
Eis que um milagre se encerra diante dos noivos e convidados
A água transformada em vinho! Abençoado e purificado,
Sou, então, o Sangue da Terra!
Também constam nas Sagradas Escrituras outra passagem interessante:
Depois do Dilúvio, quando preservou Criações e Criaturas
Noé não se esqueceu de um detalhe importante:
Cultivou sementes do trigo e da videira, símbolos de nossa existência,
Corpo e Alma que se multiplicaram pela Terra inteira!
II – CELEBRANDO A VIDA
Com a sua mania de explicar, o homem decretou a minha sina.
Se não sabia onde era o meu lar, imaginou que eu fosse obra
da Criação Divina.
Se tivesse uma pátria, diria que nasci no Oriente.
Mas, a verdade é que surgi, simultaneamente, na África,
Europa e na Ásia, o maior dos continentes.
Os egípcios foram os primeiros a saborear, Gregos e Fenícios me transportaram pelo mar, os Romanos fincaram minhas raízes
nos caminhos da sua ânsia de conquistar.
Fui testemunha de uma inusitada disputa de poder.
Para surpreender seu convidado e revelar a força do Egito,
Cleópatra organizou o maior de todos os banquetes,
Tecendo as teias de um flerte com Marco Antonio, já enfeitiçado.
Mandou os criados servirem o que havia de mais saboroso,
E para celebrar o início do namoro, colocou no cálice do todo-poderoso
O seu fantástico par de brincos de pérolas e ouro!
III – CÁLICE BENTO
Com a queda dos Romanos, videiras cultivadas por mãos escravas
ficaram ao abandono. Nas trevas da Idade Média
Dormi um longo sono e envelheci em barris, meu novo trono.
Agora, servia ao Senhor, fazendo parte da Liturgia e da Eucaristia em Seu louvor.
IV - SABOR BRASIL
Chego ao Brasil trazido por mãos portuguesas, com certeza,
mas foram os italianos que ouviram os conselhos do Minuano.
Semearam as minhas videiras nas altaneiras serras do
Rio Grande do Sul.
Cresci admirando esse manto azul que cobre terras amigas,
abençoando pobres e ricos, brancos e negros,
como na Ceia do Bexiga!
Gregos e romanos começaram uma festa, parecida com essa,
celebrando a alegria. Brindemos à nossa gente bamba,
à Mitologia do Samba e a esse povo festeiro!
Ora, viva o Vinho Brasileiro!
V - A ARCA DO FUTURO
Sou fonte de inspiração:
luz, câmera, ação! Arte, energia e emoção.
Na tela do cinema nos versos de um poema no calor de uma paixão
Sou a harmonia de vários elementos o detalhe de cada sentimento
E preciso de um momento para a sua reflexão, a vida depende do equilíbrio da Natureza e ela, só depende da gente.
Levem para a Arca do Futuro e guardem em local seguro
todas as provisões que serão legadas às novas gerações.
Mas, não se esqueçam de minhas sementes...
Quando estiverem no futuro abrigo
Matando as saudades desse velho amigo
Tenham muita atenção:
Celebrem com alegria,
Mas bebam com moderação.
Saúde, Vai-Vai!
Um brinde a vida!
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