INTRODUÇÃO
Ao pesquisarmos um
tema enredo que pudéssemos desenvolver de forma plástica para o Carnaval
2010, dentre tantas propostas apresentadas, surgiu a proposta de um tema
enredo que demonstrasse nossa preocupação com a qualidade de vida da
comunidade afro descendente brasileira e a defesa da posição de nossa
Agremiação no debate sobre as cotas para negros e afro descendentes nas
Universidades e Faculdades. E aí percebemos que o Brasil fica, com a
discussão sobre a lei de cotas, face a face com um dos mais obscuros,
torpes e dissimulado absurdo da nossa sociedade: O Preconceito Racial.
E desta vez, se junta
ao preconceito racial o estigma social da condição de pobreza, pois
estatisticamente, uma coisa está fortemente vinculada à outra. Sendo
assim, nosso tema enredo vem pôr em debate e apoiar as cotas aos
afro-descendentes nas faculdades e universidades.
A RESISTÊNCIA DE
QUEM NUNCA SOFREU DIRETAMENTE O PRECONCEITO ATÉ HOJE EM DIA E A EXCLUSÃO
SOCIAL DESDE A ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO
A discussão das cotas
parece ferir os interesses de alguns incomodados que, ao indignarem-se
com as alegadas benesses aos membros das comunidades Afro-descendentes
(os quais representam a maior parte da camada mais carente da população,
exatamente por conta de toda a construção histórica de uma sociedade
estabelecida para perpetuar a dominação e a desigualdade), expõem a face
mais cruel do afã dominante: a da manutenção da miséria social, cultural e
educacional em que vive substancial parcela da camada social
vilipendiada desde os tempos imperiais e pós-escravagista. Seres humanos
que a história com seus registros nos provém que eram comprados e
vendidos a preços de ouro, contra suas próprias vontades.
Existe uma resistência
ideológica às cotas raciais que vem dos setores intelectuais (ou
pseudo-intelectuais) que
construíram suas carreiras e convicções baseadas no mito da democracia
racial, e que tentam formar uma barreira às mudanças resistindo a
qualquer alteração no seu status, não estando dispostos a ceder a
qualquer forma de persuasão, argumento lógico ou mesmo a negociação
política.
Eles querem que
acreditemos em estado democrático de direito, e usam como argumento
igualdade de direitos para todos, e a melhora do ensino como um todo,
pois de acordo com eles estabelecer cotas para qualquer grupo,
vilipendia o direito democrático.
Esquecessem estas
pessoas que durante séculos os direitos da raça negra, que ajudou a
construir nossa nação e foi obrigada a ser feita de escravos por mais de
um século, enfrenta todo tipo de exclusão, sem livre
arbítrio do próprio negro e ficam a mercê de leis que os colocam, na
maioria em situação de
igualdade para escolher seus caminhos, porém na prática não é bem assim
que a coisa funciona.
Botar a boca no Trombone... TAMBÉM É UM
DIREITO DEMOCRÁTICO
Uma política social ao
ser formulada envolve múltiplos atores sociais para a definição de suas
metas, suas implicações e avaliação de seus impactos sociais, já que
acarretam sempre transferência de recursos de um segmento para outro. Em
principio a política de cotas universitárias para estudantes
afro-descendentes não acarreta qualquer grande volume de distribuição ou
de realocação de recursos, já que está operando com recursos (vagas)
existentes.
Mas ainda assim, temos que “espernear”, brigar por um
direito que nos parece tão obvio de ser o mínimo que o Brasil pode
devolver a raça negra pelo tanto que dela arrancou na época da
escravidão.
E Botar a boca no Trombone,
sim, porque muitos ainda vêem
como protecionismo, como esmola, e há ainda aqueles que dizem que este
beneficio de cotas em universidades e faculdades, deveria ser dado a
outros grupos étnicos e sociais também vitimas do preconceito, de
perseguições, mas estes pseudo não racistas que dizem que a lei de
cotas é uma forma de preconceito do negro para com as demais raças
étnicas e sociais, de uma maneira até absurda não mencionam que os
asiáticos nordestinos, judeus, etc, etc, não tiveram por mais de um
século um imposição escravagista a seus pares, simplesmente porque não
pactuavam da mesma religião, da mesma fé e nem tinham a mesma cor de
pele daqueles que os escravizaram.
O QUE VAMOS APRESENTAR NA AVENIDA DE
DESFILE PARA ILUSTRAR NOSSO TEMA ENREDO QUE ENFATIZA A DEFESA DAS
COTAS PARA NEGROS E AFRO-DESCENDENTES NAS UNIVERSIDADES E FACULDADES?
Para melhor
entendimento de nosso tema enredo, dividimos o desfile em 3 atos, que
chamaremos de setores:
SETOR 1 (Ou 1º
Ato)
--> E Foi
Assim que Tudo Começou...
Este setor irá
retratar um pouco da história da chegada dos negros ao Brasil e sua
utilização como mão de obra escrava. A comissão de frente fará um
desempenho teatralizado, encenando o trabalho dos negros escravos no
Brasil culminando com sua súplica pelo direito à educação em terceiro
grau.
O Abre-Alas irá
retratar um ambiente como se fosse um navio negreiro, embarcação que
trazia os negros da África, onde muitos eram reis, rainhas, príncipes e
princesas de seus povos, para serem feitos escravos no Brasil,
lembranças as senzalas também estarão representadas no abre-alas. Demais
integrantes desse setor sempre estarão fazendo referência à condição do
negro escravo e do que lhe tiraram com a escravidão.
SETOR 2 (Ou 2º Ato)
--> é A Origem da Lei de Cotas e a Resistência que Ela Enfrenta...
Este setor virá
retratar de onde se originou esta lei de cotas e a resistência que ela
enfrenta em algumas camadas elitistas da sociedade e de membros de
outras raças que não a negra. As alas deste setor estarão, parte
alusiva à origem da lei e parte representando as elites que são contra a
execução da lei na prática.
SETOR 3 (Ou 3º
Ato) -->
é Pondo a Boca no Trombone vou Conquistar o Meu Espaço...
Este setor virá no
princípio fazendo a reivindicação do direito à lei de cotas para os
afro-descendentes enfatizando como a raça negra e afro-descendente podem
evoluir na sua vida profissional, social e econômica com a real
implantação da lei de cotas universitárias, negros, brancos, asiáticos,
etc... que apóiam a lei de cotas para afro-descendentes estarão compondo
a última ala da escola.
Encerraremos assim
este setor e o desfile da Escola convidando todos a lembrarem e pensarem
na contribuição efetiva em todas as áreas e nas benfeitorias ao Brasil
com a implantação da lei de cotas.
A
intenção de nossa agremiação é simples e direta...
Mostrar aos
assistentes de nosso desfile a importância do debate sobre a Lei de
Cotas, sob a visão de quem sofre com a falta de oportunidades
profissionais e sociais, simplesmente por ser negro, carente e
desprovidos de equipamentos sócio/culturais, nas periferias
transformadas em senzalas pós escravidão.
Mais uma vez a Escola
de Samba Em Cima da Hora (nossa Coruja do Samba) quer fazer seu papel
social, através de seu tema enredo e assim juntos, toda a comunidade da
minha, da sua, da nossa Em Cima da Hora iremos dizer...
Cotas Universitárias... O Início da
Indenização...
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