INTRODUÇÃO
É o ano de 2001. O início de um novo
século, de um novo milênio, de uma nova era e de um novo tempo. Tempo em
que nossa mãe Terra passa por momentos conturbados, ameaçada até de sua
própria extinção, pela cobiça, ganância e tirania do ser humano.
De que vale o extraordinário avanço do
progresso? Se questões cruciais como poluição, fome ou guerra nuclear
tomam a forma de problemas que acabam por ultrapassar o controle do
homem. O que fazer?
Acreditamos que só voltando à origem da
sua civilização, o homem descobrirá onde errou, procurando comunhar
novamente com a mãe Terra, voltando-se para o fim da violência, e à
reintegração com a natureza.
Muitos cientistas e arqueólogos acreditam
que nossa civilização nasceu na África. Baseado nessa crença mergulhamos
na cultura Yorubá que tanto influenciou na formação do povo brasileiro.
Os navios negreiros que chegaram entre os
séculos XVI E XIX traziam mais do que africanos para trabalhar como
escravos no Brasil Colonial. Em seus porões viajava também uma crença
estranha aos portugueses colonizadores que a consideravam feitiçaria.
Ela se transformou, pouco mais de um século depois da abolição da
escravatura, numa das crenças mais populares do país - O Candomblé. E é
através do Candomblé e dos Deuses Africanos (Orixás) que depositamos
nossas esperanças.
É essa a proposta do nosso enredo, uma
cerimônia que mostraremos na avenida pedindo aos Orixás para que o mundo
não caminhe inapelavelmente para o extermínio e para que as fronteiras
entre os países não destruam a consciência da totalidade que deva estar
voltada a uma unidade essencial à própria sobrevivência do homem sobre o
planeta no novo tempo. Rogamos um mundo novo sem fronteiras, nem guerras
e votado à reintegração do homem à natureza, e que Olorum nos traga
muito axé.
SINOPSE
Invocar os Orixás é sempre um festa. Por
isso para levá-los ao mundo dos Orixás e do Candomblé, a Mancha Verde
começa por convidá-los para uma festa junto aos mesmos, ou seja, uma
oração aos deuses africanos, pedindo-lhes garantia na manutenção da
ordem, e equilíbrio da Mãe Terra e do Universo na Nova Era.
Começamos por Exu, onde oferecemos o padê
(comida). É o orixá que tem como função ser o mensageiro dos Orixás, é
ele quem faz a comunicação entre o mundo material (ayé) e o mundo
espiritual (orum) fazendo com que as oferendas (ebós) e orações cheguem
aos outros Orixás.
E seguimos na ordem do Xiré (toadas) com
Ogum considerado responsável pelas ferramentas e pela metalurgia. É ao
Orixá do ferro que pedimos progresso no trabalho para benefício do
homem.
Agora vem Oxóssi, Orixá responsável pela
caça, percorre as matas à caça dos animais para sustento das tribos. A
ele pedimos mesa farta para toda a humanidade e que não haja mais fome.
Seguimos com Obaluaê, Orixá muito
misterioso, possui o controle das doenças e da saúde. A ele pedimos a
cura dos males do séculos como o câncer e a AIDS, para que sejam coisas
do passado.
Invocamos também Nanã ou Nanã Buroku
responsável pela volta das almas ao mundo sobrenatural (Orum). É a Deusa
da lama e do fundo dos rios. A ela pedimos que resgate da lama o novo
homem, a nova semente.
Rogamos também a Ossaim, Orixá também
identificado com a floresta, mas no sentido de cultivar as plantas e as
ervas necessárias para cura e para os rituais. É a liturgia do culto. E
é a Ossaim que pedimos pela ciência, que as plantas nos tragam a cura
dos males do corpo e da alma.
Saudamos agora a Xangô - Caô Cabeci
(saudação) - Ó meu pai Xangô, Orixá da justiça e retidão, possuidor das
decisões sábias e ponderadas. A ele pedimos uma divisão de bens mais
justa entre os homens e muita justiça social na nova era. Pedimos a ele
também com toda humildade, justiça e proteção à nossa Entidade Mancha
Verde e a toda nossa comunidade que tanto sofreu e que tanto foi atacada
nos últimos anos. Não deixamos de reconhecer nossos erros do passado,
motivamos mais pela nossa imaturidade e passionalismo. Da mesma forma
que todos devem reconhecer que já pagamos "muito caro" por aqueles
erros. Ninguém mais do que nós lutou e continua lutando pelo seu direito
de existir. E é por este direito de existir e para provar o nosso valor
social que continuaremos lutando e trilhando este nosso novo caminho.
E é a Oxumaré, Deus da chuva e do
arco-íris, o que transporta a água entre o céu e a terra que invocamos
agora. Dono da riqueza e da fortuna, para que toda a humanidade prospere
na riqueza e na fartura.
Saudamos agora Oraieeô Oxum, Orixá
feminino, sua figura associada à fertilidade, à maternidade e ao amor é
a divindade sempre lembrada pela sua beleza e sensualidade. Zela tanto
pelas mulheres grávidas quanto pela fecundidade da terra, e é a Oxum que
pedimos uma terra cada vez mais fértil e rica.
Epa-arré, Oyá! Saudamos a Insã. Senhora
dos ventos e das tempestades, Orixá altiva, Guerreira e Poderosa. Tem a
força que aplaca os rios e os trovões. Que ela sopre os ventos levando
para longe a maldade humana. E que no novo tempo prevaleça a bondade.
Invocamos agora Euá a Dona do Céu cor de
rosa, a Orixá da Beleza e da Vidência. Representa o equilíbrio material
e espiritual. Governa o casamento e todo tipo de sociedade. Pedimos a
ela sociedades mais justas, voltadas para o bem comum.
Agora rogamos a Logum Edé, esse Orixá
bastante singular que vive seis meses na mata e seis meses embaixo d'água.
O Orixá da alegria e das grandes festividades. A ele pedimos alegria de
viver para o novo homem e que todos vivam em harmonia.
Saudamos também a Obá, uma Orixá
Guerreira, brava, forte e leal. Simboliza o ímpeto da luta, sendo a
protetora das mulheres guerreiras. E é para elas mulheres líderes como
Joana D'arc e outras, que pedimos inspirações para que trabalhem por um
mundo sem preconceitos.
Saudamos agora Iroko, o Orixá do Tempo.
Divindade representada por árvores sagradas como a Gameleira e a
Cajazeira. A ele pedimos o tempo com equilíbrio atmosférico e que não
haja inundações nem secas na Nova Era.
Oramos também à Iemanjá, mãe de todos
Orixás com exceção de Obaluaê e Oxumaré. É ela responsável pela
modelação das individualidades, tendo seu culto associado ao mar. A ela
pedimos a proteção aos mares, oceanos, fauna e flora marinha.
E finalmente é a Oxalá, a quem pedimos
proteção, pai de todos os Orixás. Está associado à paternidade, teve a
missão concebida por Olorum (Deus Supremo) de criar o homem. Representa
o nascente e o poente, o vigor e o descanso. Carinhoso, respeitoso e
tranquilo, o Senhor da Paz. E é a paz que pedimos a Oxalá para toda a
humanidade. -Livrai-nos das guerras devastadoras em nome de Olorum.
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