Em pleno fim de século encontramos mais de 18 milhões entre crianças e adolescentes analfabetos. Um verdadeiro caos. Nossas escolas públicas estão agonizando, vítima da violência.

Quem não tem educação fica em situação de risco, até as ocupações mais simples como a construção civil estão exigindo escolaridade. Vivemos a realidade de uma herança elitista e discriminatória com imposição sob as camadas menos favorecidas. Eis que surge em nosso enredo a figura de Paulo Freire, reconhecido mundialmente como um dos maiores educadores deste século que negava e discutia o discriminatório.

Paulo Freire morreu em 2 de maio de 1997. Nasceu em 19 de setembro de 1921 em Recife, no nordeste do Brasil. Como estudioso, ativista social e trabalhador cultural, Freire conseguiu desenvolver uma prática de alfabetização anti-imperialista e anticapitalista, que serviu de base para uma luta mais ampla pela libertação. Em sua primeira experiência em 1963, Freire ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias. Este m'todo foi adotado em Pernambuco. O seu trabalho com os pobres, internacionalmente aclamado teve início no final da década de 50 e continuou de forma ininterrupta até 1964, quando um golpe de estado militar derrubou o governo do presidente João Goulart, eleito democraticamente. Freire foi acusado de pregar o comunismo, sendo detido.

Ficou preso por ordem do governo militar durante 70 dias e foi exilado por seu trabalho no Programa Nacional de Alfabetização, da qual ele fora diretor.

Os dezesseis anos de exilio foram tumultuados e produtivos. Foi acolhido generosamente na Bolívia, tendo partido de São Paulo sob guarda do próprio embaixador da Bolívia. A seguir, teve uma estadia de 5 anos no Chile como consultor da UNESCO, a partir daí ele ganha o mundo e irradia em vários países a força de sua concepção metodológica. Na África desempenha um de seus grandes trabalhos, desenvolvendo um programa de alfabetização para a Guiné Bissau, também para Angola, Cabo Verde e Moçambique.

Sua trajetória tema feito com que seja hoje um dos educadores mais traduzidos e lidos no mundo.

Em 1979 retorna ao Brasil, para lecionar na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a convite de D. Paulo Evaristo Arns e mais tarde na Universidade de Campinas, e em 89 é empossado no cargo de Secretário de Educação da Cidade de São Paulo, no período de 89/92.

Continuando seu programa radical de reforma da alfabetização, Freire com uma visão muito progressista incentiva a introdução dos computadores nas escolas públicas e discute a questão ambiental, como uma reforma de conscientização.

Sua metodologia pedagógica é utilizada mundialmente e sua doutrina de uma certa forma, influenciou alguns movimentos de conscientização popular (mulheres, crianças, negros, índios, etc.).

Cidadão Universal, cidadão do mundo, reconhecido por seu trabalho educacional recebeu 36 títulos "Doutor Honoris Causa "em diversos países e tem seu nome adotado em várias instituições de ensino, tendo até uma escultura em Estocolmo/Suécia.

Paulo Freire sonhou com uma Escola ideal, atendendo a todos os seguimentos da sociedade, não apenas com a educação de leitura das palavras, mas com a leitura do mundo.

Não obstante, existe um ponto de luz na educação brasileira, a luz da transformação, onde depende da vontade de nossa sociedade, sobretudo da força da sua juventude e do futuro de suas crianças, em que se deposita toda a nossa esperança.