Hoje tem marmelada?
Tem, sim senhor.
Hoje tem goiabada?
Tem, sim senhor.
E o palhaço o que é?
É ladrão de muié?
Obs: Refrão típico do Brasil e tem a sua
origem no palhaço de rua, desempenhando pelo "casaca-de-ferro" (o
funcionário mais simples do circo) para fazer pelas ruas, a propaganda
do espetáculo.
SINOPSE
Respeitável público, orgulhosamente
apresentamos o maior espetáculo da terra - O desfile das Escolas de
Samba! E para saudar a todos, convocamos aquele que é o símbolo da
alegria, aquele que tem a generosidade de entreter, arrancar de nós, o
sorriso - e só isso lhe basta, pois as palmas estão para ele, assim como
as flores para os colibris, e a muleta que o ampara de pé e o som que
lhe rejuvenesce a alma tirada do atrito das mãos que o abraça sem
aproximar-se. Aliás, tudo isso nasce da reciprocidade que aqui acontece,
a sua veia cômica é presenteada com o nosso sorriso e vice-versa - isto
é o que o faz viver.
Senhoras e senhores! Trago-vos o grande
Imperador da alegria da comédia, da farsa, do burlesco, da esperteza e
da ingenuidade - o palhaço!
Vestido com seus trajes coloridos, perucas
engraçadas, sapatos desproporcionais e desenvoltura ímpar, ele desafia o
público com situações hilariantes, tirando cores até dos sorrisos das
almas acinzentadas.
A profissão de palhaço é nobre e honrosa.
O povo quer e precisa do sorriso, do aprimoramento da vida através da
risada inteligente e espontânea, a mesma que desperta os mais elevados
sentimentos, ajudando mudar a realidade - e que dura realidade!
Historicamente, o termo "palhaço" tem sua
origem no italiano "pagliaccio" e representa o artista do circo de
cavalinhos que se traja com roupas grotescas, cara pintada, para
divertir a assistência. Contudo, se prende, literalmente, ao radical
"palha", e tem a mesma expressão que o revestimento do "colchão de
palha".
Com efeito, a roupa era talhada do mesmo
pano dos colchões, um tecido grosso e listado, e ainda, cheia e afofada
nas partes mais salientes do corpo, fazendo de quem a vestia, um
verdadeiro "colchão ambulante".
Para sabermos sobre a criação do palhaço
devemos nos remeter ao aparecimento do próprio circo.
Foi um inglês, chamado Philip Astley que
organizou em 1770, um espetáculo de cavalaria, para qual teve a idéia de
apresentar, entre os números hípicos, algumas exibições de saltimbancos,
inaugurando com este espetáculo, o nascimento do circo na concepção
contemporânea.
Astley, ainda, apoiando-se no princípio de
que é mais fácil manter-se em pé num cavalo a galope, se este executa um
círculo perfeito, por causa da força centrífuga, escolheu uma pista
redonda, criando assim o picadeiro.
O circo por usa vez, assumiu a mesma
forma, para facilitar a visão do público. E para dar mais animação ao
espetáculo. Astley imaginou um lado humorístico; e soltou recrutas em
apuros sobre os cavalos criando, em 1782, em Paris, o "palhaço".
Pode-se considerar o palhaço como uma
mistura de diversos personagens do popular teatro italiano (Commedia
dell' Art) do século XVII que era encenado pelas aldeias com bastante
improviso. O Pierrô é um personagem trajado de golas fartas e mangas
extravagantes, tem a cara branca de farinha caracterizada de tristeza.
Já o Arlequim e o bailarino, o conquistador, o paquerador de sedutoras
falas e roupas elegantes adornadas com losangos. Tais personagens
insinuam a idéia de fusão de algumas características que culminaram na
figura de dois tipos de palhaço - o Clown e o Tony.
O Clown herdou as características do
Arlequim: experto, gozador do outro, malandro e sedutor - atualmente
pode ser visto se apresentando simplesmente de smoking e gravatinha
borboleta. A palavra Clown se liga, etimologicamente, em inglês, ao
termo "camponês" (clod) - foram os camponeses, simplórios e astutos, que
montaram os cavalos de Astley (1782) e provocaram, com suas
extravagâncias, a hilaridade das platéias.
No Tony podemos acentuar as
características do Pierrô: bôbo, sonhador, o que apanha sempre, o que
perde sempre, e ingênuo e de boa fé: todavia acaba superando o Clown, na
vitória da pureza sobre a malícia, do bem sobre o mal, da justiça sobre
a opressão. Este tipo de palhaço foi criado por um cômico chamado
Antony: e esse tipo foi tão marcante, que o nome próprio Antony, chamado
no final, passou, como substituto comum, a designar o tipo de palhaço
criado - Tony.
O Clown é o chic e o Tony é o caduco, mas
no conceito popular, o segundo é sempre o mais querido e favorito do
público.
Habitualmente, apresentam-se formando uma
dupla cômica nos números circenses e a estes números damos o nome de
"entrada". Existe também, o "Tony de Soirre", que preenche os vazios do
espetáculo - é o improvisador, imitando os números anteriores, é também,
um artista completo, porque além das paródias, conhece e executa todas
as artes do circo. Existe ainda o palhaço "Casaca de Ferro", que é o
funcionário mais simples do circo. Antigamente, para fazer propaganda do
espetáculo pelas ruas das cidades, este funcionário pintava a cara e,
vestido de palhaço, percorria as ruas montando num burro, com a cabeça
virada para o lado contrário a montaria.
Além das roupas coloridas, podemos
observar outra tendência na vestimenta dos palhaços: estamos falando do
chapéu de vários bicos, muito comum aos bobos da Antiga Europa. Outros
detalhes são os guizos usados nas roupas, que podem muito bem, ser uma
alusão aos sinos que os loucos eram obrigados a usar na Idade Média,
para sobreavisar que estavam chegando. Curiosamente as cores típicas das
vestimentas dos loucos antigamente eram o verde e o amarelo, a que,
sarcasticamente, podemos associar ao caráter ingovernável e alegre do
brasileiro. E a esse caráter podemos atribuir ainda, a forma como são
feitas as reivindicações do nosso povo aos governantes, que muito nos
faz lembrar um festival conhecido como: A Festa dos Foliões, ou A Festa
dos Loucos que ocorria na Idade Média. Nessa manifestação colorida,
usualmente promovida a 1º de janeiro, até padres geralmente piedosos e
cidadãos ordeiros colocavam máscaras grotescas, cantavam insinuantes
modinhas, nomeava-se um príncipe da bagunça, um rei palhaço e, mantinham
todo mundo em suspenso, por suas sátiras e folias, principalmente as
classes privilegiadas.
Toda a caracterização grotesca do corpo
tinha como o alvo, o riso e representava na cultura popular da Idade
Média o mundo carnavalizado, em suas diversas manifestações, um mundo
"as avessas", transgressor da plena ordem oficial, ainda que num período
curto de festa.
Em 1916, pela primeira vez se armou um
circo em São Paulo, exatamente no Largo do Paissandu. O circo dos Irmãos
Queirola, junto com o do Alcebíades, era um dos circos fixos mais
populares da época: uma "verdadeira escola de cômicos", a exemplo de
palhaços como Piolon, Chincharrão, Harris e Cic-Chi; a história registra
o primeiro palhaço negro no Brasil - Benjamim de Oliveira (1870 - 1954).
Uma característica dos circos brasileiros,
que por serem pobres não tinham recursos para despender com animais e
tratadores, era criar pequenas comédias para suprir a deficiência.
Estes espetáculos, se bem que pouco
freqüentados pela gente chic de São Paulo, tinham como assistência " a
fina flor da intelectualidade paulistana". Os barracões, assim chamados,
eram visitados por Mário de Andrade, Sérgio Milhet, Alcântara Machado,
Yan de Almeida, Couto de Barros, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e
outros. Entretanto, o fato é que a verdade, o entusiasmo dos modernistas
não era o circo, e sim a genialidade do palhaço, principalmente a do
maior deles - Piolin.
Outro grande palhaço que São Paulo
registra é Waldemar Seyssel - O Arrelia - palhaço, que participou da
primeira exibição de TV realizada no Brasil e que também conseguiu
programas de rádio, chegando até a fazer filmes.
O cinema foi o veículo que consagrou um
outro palhaço que é considerado um mestre da arte cinematográfica
mundial - Charles Chaplin.
O tempo foi passando e foram aparecendo
novos talentos para o deleite das animadas platéias, seja no circo, no
cinema ou na televisão, não podemos ficar indiferentes a feras como o
palhaço Carequinha, a dupla Atchim e Espirro, o Bozo, a Vovó Mafalda e
tantos outros.
Então, agora que chegou o carnaval,
devemos fugir do mundo real e vestir a fantasia, para homenagear esses
magos do sorriso, trazendo a tona o palhaço que há dentro de cada um de
nós, esquecendo os problemas rotineiros para cair na folia, por que ser
palhaço, é despertar o amor, a simpatia pelo ser humano, assim como é,
com suas qualidades e defeitos. E esse discernimento é próprio do
brasileiro, pelo menos nos quatro dias de folia.
Venha se esbaldar e dar altas risadas,
pois na descontraída graça do palhaço todos somos iguais, e cada
explosão de gargalhada rompe-se barreiras invisíveis entre nós e nos
unem em um sentimento comum - a felicidade.
"O mundo é um circo, onde todos nós somos
palhaços"
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