Depois da luta pela posse da terra, o
apaziguamento promovido por Xangô e as bênçãos emanadas por Nanã, vem a
chuva redentora para lavar e purificar a terra, livrando do mal estar
provocado por Ogum.
No encontro mágico da chuva (que é prata)
com o sol, que nunca se esconde (que é ouro) nasce Ewá, o arco-íris
iluminando e colorindo os quatro cantos do novo país e abençoando a
miscigenação e o povo que dele vivia.
Ogun, na antítese de sua personalidade,
nesta hora dócil, vai protegendo e acalentando o deu menino, para que o
mal, não o alcance, dispensando-o dos caminhos que levam a redenção e as
pedras mágicas (os ifás) que promovem as adivinhações e prevêem um
futuro grandioso para a terra nascente, com fartura, prosperidade, e
ausência de catástrofes, guerras, tempestades e derramamento de sangue
em vão.
É um novo continente menino a abrigar os
deuses quase humanos, e os sacerdotes consultam os ifás para que não se
reproduzam na terra nova, os desacertos e agruras da Mãe África, onde
irmãos se batem e lutam, escravizando-se, espalhando a fome, a miséria e
as doenças, lá onde Omulu agora reina soberano, não há mais lugar para
festas, vinhos e alegrias e por isto torna-se necessário a imigração, a
mudança e a tomada de posse da floresta brasileira.
O país tropical, tão malandro e varonil,
foi assim povoado com os descendentes dos deuses vindos da África e como
tal herdar suas características, manias e deficiências: a cólera
infantil de Ogum, a doçura maternal de Oxum, a molecagem de Exu, a
gentileza serena de Nanã, a sensualidade de Iansã, a arrogância
desbravadora de Oxóssi, a credulidade dos Ibegi e o dom justiceiro de
Xangô.
Juntando-se a luxúria dos africanos, a
castidade dos santos europeus e o ritual pagão dos índios, nasceu o
Brasil, que quinhentos anos após a chegada dos deuses da natureza, ainda
procura uma identidade que consiga aglutinar as três etnias e formar uma
única.
Enquanto faz esta trilha em direção ao
futuro, o país menino é observado e abençoado por um grande Oxalifã
(Oxalá Velho).
Dentro desta síntese da chegada dos deuses
da natureza é possível e viável economicamente uma revisão dos 500 anos
não pela ótica do opressor ou do oprimido e sim, pela análise fantástica
de deuses imigrantes, indígenas europeus.
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