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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.E.S. UNIÃO IMPERIAL - CARNAVAL 2003
Enredo: A Hora é Essa

O Grêmio Recreativo
Autora: Cristina Ramos

 

Cores e luzes, enfeitam a cidade, e na grande avenida o espaço está aberto para que por lá passem o atavismo popular refeito em canto e dança, e escorra a alegria represada durante um ano inteiro. Dos morros, por entre barracos e vielas estreitas, salpicadas de poços e pobreza, vão descendo damas engalanadas, nobres com chapéus de bicos emplumados e peitinhos de renda cara, cavalheiros de ternos bem cortados, bengala e chapéu-oco, baianas de imensas saias e jovens em mínimos trajes, purpurinizados, deixando a mostra formas insuspeitas, contidas até a véspera. Parece uma visão surrealista que vai tomando definição e forma pouco a pouco. O estivador de ontem, hoje é um personagem vivo que varou uma das páginas da nossa História. A lavadeira, de diálogo íntimo com a bacia, a água e a bica, surge com elegância um figurino que lhe redime a tristeza e o desconforto. E lá vão eles carregando o destino comum de seu povo, e mais que isto, de ser guardião e interprete desta criação do povo, nascida da necessidade de expressar a variada gama de sentimentos, vividos e acumulados.

Pelos elevadores dos bairros urbanos, vão descendo escravos, índios e figuras de nossa mitologia mestiça, adornados com drapeados e contas brilhantes, escondendo o cisudo gerente de empresa ou a conformada funcionária pública. Vão todos, e eles também são povo, ao encontro das descendências, sob o signo do mágico momento, contar cantando, na grande avenida, fragmentos do imenso mosaico que vem sendo montado há quase quatro séculos.

Verde, vermelho e branco, verde e rosa, verde e branco, azul e branco e outras combinações cromáticas juntam-se e intercruzam-se pela cidade inteira em direação a concentração, lugar onde as escolas de samba se amram e partem para o desfile que configura o instante maior, ansiosamente esperado, para o qual nenhum esforço, nenhum sacrifício, é suficientemente grande para não ser perdido ou feito. A emoção é absoluta, total. São milhares de pessoas que vão realizar o milagre do espetáculo sem ensaio.

O autor do enredo, aquele que dá forma visual à escola, o carnavalesco, ordena as alas, os destaques, as alegorias, de acordo com a sequência do que ele pretende mostrar. A bateria já começa a tocar, esquentando músculos e couros, os passistas tentam os primeiros passos, a porta bandeira dá alguns giros testando o peso da fantasia e do mastro. De repente, ali é o terreiro da Casa Grande, onde os congos dançavam; o terreno em frente à Igreja onde os reis negros era coroados, o quintal de uma tia baiana, onde os primeiros bambas começavam tudo. Descendentes de senhores irascíveis, de feitores insensíveis e escravos humilhados, aí estão com o coração pulsando na mesma batida do surdo, sacramentando a entidade comum que o samba avaliza. É possível que não se ouça, porque se sente, o grito que ecoa pelos tempos afora.

Talvez haja silêncio,

Mas nunca tristeza,

Daqui a pouco começa

Tudo outra vez...

 


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