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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. MOCIDADE ALEGRE - CARNAVAL 2005
Enredo: Clara, Claridade... O Canto de Luz no Ylê da Mocidade

Introdução   A comunidade de Sapopemba
Carnavalesco:  Nelson Ferreira e Zilkson Reis

INTRODUÇÃO:

O desenvolvimento deste enredo visa a valorização da cultura popular brasileira e a rica contribuição da cultura carnavalesca para com a informação, a educação e o lazer da população que encontra nos desfiles das Escolas de Samba o seu ingresso no valioso universo da cultura e do saber.

A Morada do Samba faz de seu carnaval um rico canal de exaltação de um grande ícone da música popular brasileira e segue firme e feliz no propósito de fazer do seu desfile o momento máximo de sua consciência de brasilidade e de sua participação nesse belo cenário multicor a serviço da cultura chamada Carnaval, assim como fez Clara Nunes que, através de sua infindável luz, expôs ao mundo a identidade do povo brasileiro.

Essa é a proposta da Mocidade Alegre. Utilizar-se do brilho e magnitude do carnaval para levar a todos muita informação, cultura e alegria, exatamente o que propôs Clara Nunes em sua passagem entre nós através de sua obra carregada de religiosidade, misticismo e fé.

Chegou a hora de vestirmos a nossa fantasia e mostrar ao mundo a garra, a força e a união da Morada do Samba !!! Hoje a Mocidade Alegre é a Guerreira, é a fé inquebrantável! Hoje a Mocidade é Claridade!!

A vitória vem da luta... A luta vem da força... e a força da união !!!

Avante Família Mocidade Alegre !!!

 

JUSTIFICATIVA DO ENREDO:

Hoje a Mocidade é um grande Ylê e abre a roda para receber os Orixás nessa grande sagração ao legado de brasilidade da mulher que surgiu e partiu como um raio de luz, que foi Clara, foi Claridade!

Sonhar, criar e iluminar. A saga da criação de tudo que nos cerca seguiu esse caminho. Uma jornada que teve seu início e fim com a luz. A força luminosa representou, desde o início dos tempos, sinônimo de vida. A claridade sempre foi prova visível de que o dom de viver estava presente. Enfim, a vida também se manifestou através da claridade, através de Clara Nunes.

Branca mulher que cantou coisas de negro, cantou coisas brasileiras para o povo brasileiro e que, em sua voz, transmitia uma mensagem de esperança a todas as raças que formaram a “Raça Brasil”: são qualidades mais que valiosas para justificar o porque dessa homenagem. Uma homenagem que vem levantar a bandeira desfraldada por Clara Nunes: Cantem, Dancem, Riam... porque o maior legado do grande criador ao povo brasileiro é a crença nas “ forças da natureza ”, na força da vida e no bem da humanidade.

Que o céu se mova em forma de tempestade, Salve Yansã !!! Que as matas se agitem na presença do grande guerreiro, pois a claridade retornará para rever seus filhos, Salve Ogum !!!

Epa Heyi Oya...
Ogum Iê...

A Morada do Samba faz de seu desfile um facho de luz...

Quem viu se emocionou... Quem não viu, sente saudade... Assim foi Clara...

Salve a Guerreira que precocemente partiu desse plano, nos deixando

para morar no infinito e virar constelação ...

Obrigado Sabiá !!!

 

  “O que está escrito, acontece

As linhas do destino tecem tramas muito esquisitas“

(Clara Nunes)

 

PRIMEIRO SETOR

Claridade - Abrem-se as portas do Òrun...

SEGUNDO SETOR

Brasil Mestiço, um Santuário de Fé...

TERCEIRO SETOR

Brasileiro: Profissão Esperança

QUARTO SETOR

A Procissão do Samba

QUINTO SETOR

A Deusa dos Orixás...
(Foi morar no infinito e virar constelação)

PRIMEIRO SETOR
Claridade - Abrem-se as portas do Òrun...

Raiou, resplandeceu, iluminou

Na barra do dia o canto do galo ecoou

A flor se abriu, a gota de orvalho brilhou

Quando a manhã surgiu

Nos dedos de Nosso Senhor

A paz amanheceu sobre o país

E o povo até pensou que já era feliz

Mas foi porque

Pra todo mundo pareceu

Que o Menino Deus nasceu

(Menino Deus – Mauro Duarte & P.C. Pinheiro)

Òrun (Céu): a terra dos Orixás!

No reino da eternidade, povoado por todas as divindades do panteão africano, encontra-se Yánsàn, recostada, olhando o infinito, alisando seus cabelos. Conforme os manipula, sopram os ventos no Òrun fazendo as nuvens e a névoa moverem-se. Direcionando sua visão em direção ao Ayê (Terra), vê a Lua Cheia indo se banhar nas águas do rio.

Ela contempla a epopéia dos filhos do Brasil, a terra de todos os santos, deuses e crenças. A visão não é inspiradora: tristeza, opressão, mazelas, dores. Como um povo poderia viver assim? Onde estaria a alegria? Onde estaria a fé daquela gente?

Comovida, ultrajada por tal situação, entoou seu grito em tom de tempestade! Era necessário reverter essa situação. Com a certeza no olhar, tomou em suas mãos a decisão de dar aos homens um exemplo de vida e, através desse exemplo, a propagação da vontade dos Orixás: vivam em paz, alegres e com esperança. Para tal, reuniu qualidades fundamentais: o instinto guerreiro e a incansável busca do triunfo em suas lutas, qualidades de Ogún, este vigoroso Deus do Ferro, que via nos olhos de Yánsàn o brilho das estrelas.

Yánsàn manipulava a luminosidade entre os dedos. Fiel a seu objetivo, a linda Yánsàn, Deusa dos Ventos e Tempestades, derramaria essa luz sobre o solo brasileiro sob o olhar sereno de Oxalufã, dono de sabedoria e fé, que com seu “opassorô”, demarcava a fronteira entre o Òrun e o Ayê.

No Órun nasceu a luz, Salve a claridade! No Ayê nasceria então a estrela Clara...

Salve os Orixás !!! Voa Sabiá !!!

 

“Tenho meu espírito de guerreiro, porque estou sempre lutando, me aperfeiçoando.”

(Clara Nunes)

SEGUNDO SETOR

Brasil Mestiço, um Santuário de Fé...

 

No sertão mãe-preta me ensinou

Tudo aqui nós que construiu

Fio, tu tem sangue nagô

Como tem todo esse Brasil

(Mãe-África – Sivuca & P.C. Pinheiro)

Os pássaros entoavam um cantar místico e mágico que pareciam anunciar a chegada da escolhida. As aves cortejavam a luminosidade que havia cruzado o portal dos dois mundos, Òrun e Ayê.

Em terras mineiras, batizadas de Paraopeba, nasceu fisicamente a representação da claridade dos Orixás. Nascida Clara Francisca, se fez Clara Nunes. Não tardou para o dom despertar. A música lhe corria nas veias. A mineira guerreira aprendeu a dançar, cirandando nas candeias aprendeu a sambar, fazendo seu corpo se comunicar com Òrun. Através de seu canto, os Orixás se manifestavam em lindas mensagens de amor, esperança, liberdade e paz.

Como o destino já havia sido traçado, a Claridade não deveria ficar apenas encravada nas Minas Gerais, mas sim tomar conta do Brasil. Assim, a luminosidade de Clara “Guerreira”, filha de Ògún e Yánsàn, rompeu fronteiras iluminando esse enorme país.

Na força da canção, os caminhos tão sem vida deste gigante adormecido foram tomados de luz. O poder luminoso de Clara Nunes começava a agir sobre todo o povo brasileiro. Com o dom de sua voz fez renascer o valor de uma raça formada pela comunhão sagrada de crenças, costumes e lutas de origens tão distantes e diversas que, por vontade de Olóòrun, se perpetuaram no Brasil.

Revelando a leveza de um povo sofrido, dono de rara beleza, que vive cantando grandeza, alcançou com sua luz as veias do Brasil onde corre o sangue miscigenado.

O Negro , o Branco e o Índio ...

...uma essência formada por essas raças que um dia uniram seus cantos de dor . Clara permitiu que todos pudessem sentir esses soluçares doloridos que ninguém jamais tinha ouvido. Foi assim que ela revelou a todos os brasileiros a claridade de uma verdade máxima: todos nós fazemos parte de algo maior, de um Brasil Mestiço , rico em crenças e poderes infinitos. Isso tudo miscigenado pelo Canto das 3 Raças onde deuses negros são envolvidos pelos santos católicos, ao mesmo tempo em que as lendas dos caboclos indígenas consagram as forças da mãe-natureza. É o sincretismo protegendo e coroando os herdeiros do Congo. É o “fio-brasil” iluminado pelo clarão da fé e da união.

Salve o Brasil de todas as raças, crenças e valores. Salve Clara Nunes que o fez mais brasileiro para que todos soubessem a verdade: és um país em forma de oração !!!

Gigante, teu espírito é santo... e teu sagrado solo é um verdadeiro Santuário de Fé !!!

“Sinto Deus no momento de cantar. Antes de entrar em cena, tenho um friozinho na barriga. Convoco todos os santos, mas depois vem aquele prazer de ver a reação estampada no rosto das pessoas.”

(Clara Nunes)

TERCEIRO SETOR

Brasileiro: Profissão Esperança

Amanhã, há de ser outro dia

Amanhã, há de ter alegria

Amanhã

Quando a flor se abrir no jardim

Amanhã

Quando o sol despontar pelas praias sem fim

Amanhã, dia de esperança

A tristeza será só lembrança

Amanhã

Um futuro de paz vai nascer

E a tristeza da dor não será

Amanhã, outro dia há de ser

(Dia de Esperança – Jorge Smera)

 

Clara Guerreira também fez manifestar, através de seu cantar, todas As Forças da Natureza , propagando assim a men sagem de um amanhã melhor ao tal país mestiçado que se levanta dia após dia sob a luz do Sol e desafia o poder da ciência que a tudo quer explicar.

Esta foi uma das missões de Clara Nunes. Através de sua voz que manifestava o poder luminoso dos Deuses negros, levou a esse povo brasileiro mensagens de amor eterno que trariam o juízo afinal, traria enfim o Juízo Final , necessário para queimar a semente da maldade , bem como queimar cada elo corrupto, que corrompe e quer corromper a todos.

Sendo assim, o Brasil, imenso altar de todas as raças teria em si o segredo para por fim a toda maldade e para iniciar um novo amanhecer onde o mar bravio levaria consigo o pó dos dias ruins . Dias de miséria, de pobreza, de carentes que se agasalham com um pedaço de pão; dias de uma Pátria que não sabe como ser mãe dos seus próprios filhos. Após a chuva de prata do céu, descer para por fim a cada praga, erva daninha, armas e homens de mal, o ar de novo seria tão natural que, quando cada grande cidade fosse coberta pela força das matas, um novo povo iria surgir... um povo onde a luz deveria brilhar em cada coração.

Com seu sorriso largo e sua alegria estampada no olhar, Clara enfeitiçava a todos, propagando a esperança como uma Estrela Guia . Consigo trouxe mensagens de paz e o sonho possível de ver a bandeira branca desfraldada sob os céus do país . Neste dia, ah, neste dia a alegria iria resplandecer pelas ruas, não se guerrearia jamais para que todos pudessem se purificar nos mais felizes carnavais. As armas seriam flores, as bombas de confete e serpentina manchariam as almas de alegria! Cada lágrima enfim iria se converter em lindos sorrisos...

A luz do sol tingiria cada morro de felicidade. Não haveria mais tristeza, mazelas e na boca já não haveria o gosto amargo do dissabor. Seria o fim da fatalidade perdida que tira tantas vidas na luta eterna entre os que usam as fardas do bem e os que traficam a semente do mal . Cada brasileiro, que dia após dia levantava-se sufocado pela agonia de encarar uma realidade nua e crua com trens lotados, ruas caóticas onde o mal sempre espreita, deixaria de lado seu soluçar de dor . O canto do trabalhador seria, enfim, um canto de alegria !

Clara Nunes também foi exemplo de fé, uma fé inquebrantável - espelhada nos olhos de Oxalufã - de que tudo é possível quando um coração bate mais forte. Seu coração de poeta, que descansava sobre a esperança sem nada temer, emprestou sua luminosidade para atenuar as dores com a incapacidade dos governantes, ao longo da história, de poderem te dar saúde, educação, lazer e, acima de tudo, dignidade ao povo que deveriam representar. A luz de Clara trouxe esperança. Para aquele que acredita, o medo não existe! E por isso, sob esse chão santificado, dentro de cada peito que se arrisca à própria morte, pulsaria um Coração Valente que sempre deveria combater!

Brasileiro, tua profissão maior é a esperança ! E só com esperança poderá construir um mundo melhor! Com esperança, colocará seu coração aos pés de Deus!!!

“ O ser humano precisa acreditar  em  alguma coisa para viver”.

Afinal, a vida já é tão difícil."

(Clara Nunes)

 

QUARTO SETOR  

A Procissão do Samba

 

...E o povo na rua cantando

É feito uma reza, um ritual

É a procissão do samba abençoando

A festa do divino Carnaval

(Portela na Avenida – Mauro Duarte & P.C. Pinheiro)

África-Brasil: uma ligação que superou os limites da cor, da dor, da distância, alcançando fronteiras da alma. Continente Negro e “País-Continente” se ligaram pela espiritualidade singular trazida pela raça soberanamente negra. Dessa união de dois mundos, emergiu de forma marginal a cultura afro-brasileira.

Dessa união surgiu também a resistência que fazia o negro, todo dia, fugir se juntando a carriola (bando). Sempre que voltava para a argola, o grilhão chamado escravidão, ia o negro para o meio da senzala onde, ao som do tambor primitivo, berimbau, maraca e viola ele já anunciava: " Abre-ala!!! Vai ter jogo de angola !!!". E assim o semba ia se transformando em samba, era a dança virando arma de guerra (capoeira), era a senzala que se convertia em um grande palco para se coroar, de forma simbólica, os Reis de Congo, num sonho delirante de reviver os seus costumes e valores culturais, reviver suas noções de poder e liberdade, era a Congada !!!

Saindo das dores que a escravidão forjava, o samba, ainda marginalizado, foi difundido em inúmeras regiões do Brasil. Em vários Estados encontrou reduto e em vários corações encontrou moradia. Entre estes corações estava o de Clara Nunes. Essa dádiva do Òrun deveria se manifestar, através de sua voz, o poder e a vontade dos Orixás de que o brasileiro descobrisse as suas verdadeiras raízes, as valorizasse, não perdesse a esperança e acima de tudo, que dançasse, risse, enfim, sentisse a felicidade em toda a sua extensão.

Enfeitiçada e enfeitiçando com o samba, a Mineira Guerreira ouviu aquela voz que a chamava. Alçou seu “vôo” para onde o samba fez escola, nas subidas e descidas dos Morros, sob a proteção do Redentor. Maravilhosa cidade fez com que Clara tivesse contato com o bom malandro, a encantadora figura daquele que personifica o sambista em sua essência.

O samba havia levado a claridade para a Cidade Maravilhosa. E a claridade havia encontrado o reduto maior de samba. Descortinou-se todo o céu suburbano e Clara Nunes, dando o toque de alvorada, iluminou Madureira. Sob o encanto dos sambistas, coroou seu coração com a sedução triunfal que só o Carnaval possui, fazendo-o também um coração imperiano . Mas a alma de Clara não pôde resistir a um rio que passou, uma vez mais, por sua vida. Desta vez as águas que arrebentavam em seu espírito eram da cor azul e branca. Quando o coração foi consultado, não houve mais dúvida... sua alma havia se tornado uma águia altaneira e, claro, guerreira.

Ah, linda “Guerreira! Todos seus sonhos de ver um país mais feliz você pôde realizar no Carnaval! Eis a sua Pasárgada ! Lá, no Planeta Carnaval, você sempre pôde tudo, afinal, sempre foi amiga do Rei !”.

Fazendo todo o Brasil dançar, fez do samba uma reza, um ritual que consagrava a todos os brasileiros. Essa gente que veio chegando da cidade e da favela fez do asfalto sua grande capela . Nunca se viu coisa mais bela do que essa linda procissão do samba abençoando a festa do divino carnaval ! E foi nessa comoção que sua alma bateu asas, voando, cruzando os céus cobertos pelo manto azul da padroeira do Brasil . Levava consigo uma mensagem de alegria e de luz!

O templo do samba enfim era reconhecido por toda a população brasileira que aprendia a valorizar a cultura mestiça que por tantos séculos tentou renegar e marginalizar.

Oh, Claridade! Também atendeu aquela voz que te chamou! Conhecendo a força do samba e do carnaval, pôde propagar a última das mensagens enviadas pelos Orixás!

Salve o Samba!! Salve a Santa!! Salve Ela!!

Salve Clara Nunes!!!!!!!

"Eu sou uma cantora popular, que canto as músicas do meu país.

Tudo o que for autêntico, eu estou aí.”

(Clara Nunes)

QUINTO SETOR

A Deusa dos Orixás...
(Foi morar no infinito e virar constelação)

 

Quando eu morrer

Eu quero uma batucada

Pra me levar

À minha última morada

 

Quero ouvir acordes

De um violão

E o povo pelas ruas

Cantando as estrofes

Da minha canção

Assim no céu

Terei felicidade

E das belas coisas da vida

Eu não sentirei saudade

(Última Morada – Noca da Portela & Natal)

 

Se o coração fala pelo corpo, a alma se revela pela sensibilidade!

Clara Nunes sentia que, manifestada as palavras dos Orixás através de sua voz, chegaria o grande momento de partir. Um momento que encarava de frente pois não tinha medo de morrer, pois ela nunca deixou de ter consciência de que o dia do adeus chegaria cedo ou tarde. Mesmo sendo sonhadora ela não perdia a dimensão da realidade; sua tristeza era pé no chão .

Eterna morena, enfeitada de rosas e rendas, que abria seu sorriso e pedia para dançar , a saudade com certeza seria passageira, mais um conto de areia que a força dos ventos e tempestades de Yansã levaria para a eternidade. Essa foi a grande lição que a “Guerreira” passou quando entoava o som da despedida. Saudade sim, tristeza jamais! Assim foi até que o dia acabou por adormecer calmamente. O céu azulou na linha do oceano e quem a viu sorrir com certeza não a veria chorar despedida . A Claridade se pôs no horizonte das terras sem fim...

Os tamborins tocavam no tom da saudade . As cuícas eram envolvidas por um pano molhado. Cada som, que vinha dos instrumentos, ecoava apenas como um grito de dor! Seria possível viver sem aquela alegria, sem aquela claridade que resplandecia através de sua voz?

O Brasil estava emudecido. As lágrimas escorriam pelos rostos e se perdiam na saudade. A própria natureza parecia comovida com a partida precoce. Os pássaros não cantaram naquele dia, as cascatas murmuravam e a única voz que se ouvia era aquela que vinha do fundo do Mar . Yemanjá também parecia lamentar o fim da trajetória em vida daquela que dignificou o candomblé e iluminou o samba. Lindo saveiro partiu a noite, na madrugada e não voltou ... tudo se resumia em um adeus sem despedida.

A Claridade não tocaria mais, com seus pés, as areias finas e, entristecido, todo o mar serenou .

O lindo sabiá havia alçado seu vôo maior... seu último vôo. Havia se dirigido ao Òrun voltando à forma original de luz intensa e bela. Sem adeus, uma partida inesperada como sua chegada, ela estava indo morar no infinito para virar uma constelação que refletiria e guiaria o povo brasileiro aqui no Ayê.

Já no Òrun, Clara Nunes enfim era saudada por todas as divindades do Panteão Africano. Recebendo uma coroa de búzios, abençoada pelo axé maior de Olóòrun, a “Guerreira”, filha de Ogum e Yansã, foi coroada como a grande Deusa dos Orixás . Havia cumprido sua missão de levar ao Brasil um canto de consciência, esperança e alegria.

Deixou uma legião de órfãos que não esqueceram e nem esquecerão seu sorriso largo, sua voz que trouxe luz e que encheu de brasilidade a própria brasilidade. Mais além, nunca esqueceram suas mensagens! Nunca te esquecerão!! Que falta faz sua alegria !!

Ah, Mineira Nunes! Foi para cantar, além do luar, onde moram as estrelas !! Afinal, para cantar às estrelas, só uma luz maior de outra estrela! A nós só resta nos lembrar de seu jeito moleque, feliz, de sua voz que trouxe claridade a todas as almas brasileiras. Só nos resta lembrar, vendo o céu clarear, na esperança de vê-la no clarão pálido do luar.

Canta, meu sabiá... voa, meu sabiá... adeus, meu sabiá...

Adeus, Clara Nunes...

ATÉ UM DIA!!!!!!!!!!

“Se você quiser saber quem eu sou .... eu sou a tal guerreira”

“Não tenho medo de morrer e muito menos de envelhecer. Quero ficar uma velha da pesada. Rosto corado de "rouge", participando de tudo, com batom e muitas pulseiras.”

(Clara Nunes)

 


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