Qual
é a base da mistura cultural do paulistano? A resposta correta é o
mundo!
Afinal,
no início da imigração homens e mulheres de mais de 60 países se
estabeleceram em São Paulo em busca de oportunidades. Aqui, foram
acolhidos porque a província de São Paulo necessitava de mão-de-obra
para a lavoura cafeeira e hoje se estima que a cidade de São Paulo seja a
terceira maior cidade italiana fora da Itália, a maior cidade japonesa
fora do Japão, a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior
cidade portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da
Espanha.
Esta
mistura de raças, etnias e culturas acentuou-se com o correr do tempo e
marcou profundamente a vida cultural, social e econômica da cidade. O
final do século XIX e início do século XX marcou um período de
transformações mundiais. Guerras, revoluções resultavam em desemprego
e fome na Europa. Populações inteiras rumavam para longe de suas terras
buscando refugio às perseguições políticas e religiosas. As informações
da existência de uma terra nova e cheia de oportunidades chegavam de além-mar.
Além de portugueses e índios, havia aqui também os negros africanos, já
em condições de escravos, obrigados a cruzarem o Atlântico.
Numa
prudente política migratória os monarcas brasileiros trataram de atrair
novos imigrantes, oferecendo lotes de terras para que se estabelecessem
como pequenos proprietários agrícolas. Depois com a abolição da
escravatura em 1888, a opção foi à imigração em massa para substituir
o trabalho escravo. Viajando em trens, carroças ou até mesmo a pé, a
partir do ultimo quarto do século XIX milhares de famílias abandonaram
suas casas e percorreram enormes distâncias até os portos de embarque
para os Estados Unidos, Argentina e Brasil. Os principais deles: Nápoles
e Gênova, na Itália; Lisboa e Leilões em Portugal; Marselha, Havre e
Bordeaux na França; Amsterdã na Holanda; Hamburgo e Bremer, na Alemanha;
Kobe no Japão; Hong Kong e Gibraltar, possessões inglesas na China e na
Espanha, respectivamente.
Muitas
vezes, pessoas que jamais haviam visto o mar, percebiam-se por longo tempo
abordo de um navio o caminho de uma terra estranha alojados em porões mal
ventilados e com pouquíssima iluminação, a sensação de mal- estar só
podia ser superada pela esperança de iniciar uma nova vida após tantos
dias no mar, a chegada ao porto de Santos era sempre um alivio.
Com
poucas informações sobre o Brasil, os imigrantes precaviam-se trazendo
uma série de coisas em suas bagagens. Além de roupas, com eles chegavam
utensílios de cozinha, louças, talheres, máquinas de costura,
instrumentos musicais e de trabalho, objetos de toucador, fotografia, relíquias
de família e peças que lembrassem a terra natal. Boa parte dos que aqui
chegaram sequer possuíam malas, seus poucos pertences eram transportados
em sacos, em sacolas. Sem recursos para custear a própria passagem, a
grande maioria dos imigrantes tinha sua viagem subsidiada pelo Governo do
Estado de São Paulo. No inicio do processo imigratório a rota
Europa-Brasil era realizada por navios à vela sujeito as variações climáticas
e calmarias, chegavam a levar até 60 dias para completar o percurso. Com
o desenvolvimento dos navios a vapor, no final do século XIX as viagens
tornaram-se mais rápidas, passaram a levar de 15 a 30 dias quando vinham
da Europa e cerca de 60 dias quando vinham do Japão. Ao chegar e
desembarcar em Santos, os imigrantes eram alojados na precária hospedaria
da Cidade ou quando possível eram imediatamente colocados em trem que
partindo do próprio porto, os conduzia até a hospedaria de imigrantes da
Cidade.
Uma
das maiores contribuições dos imigrantes foi a introdução de novas técnicas
de produção. Se no campo aqueles homens iniciaram o plantio de culturas
desconhecidas aos brasileiros, nas Cidades, impulsionaram o
desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços, dando início
até mesmo a algumas profissões ainda então inexistente no país.
Na
ultima década do século XIX os portugueses, ao lado dos brasileiros,
dedicavam-se à importação e comercialização de gêneros alimentícios.
A
importação de tecido era dominada por alemães, franceses e italianos.
Os italianos concentravam também a maior parte do comércio de ferragens,
funilaria e calçados. Os padeiros, confeiteiros e curtidores de couro que
eram geralmente franceses ou alemães, depois foram dominados pelos
portugueses. Os sírios e libaneses eram proprietários da maior parte das
lojas de armarinhos e tecidos.
Um
verdadeiro exército de mascates cortava as diversas regiões do país,
oferecendo suas mercadorias na periferia das Cidades e mesmo nas fazendas
espalhadas pelo interior. Vendiam tecidos, chapéus, roupas, sapatos,
cintos, guarda-chuvas, relógios, jóias, bijuterias e uma infinidade de
produtos. A grande parte dos mascates era composta de imigrantes de origem
árabe, outras atividades geralmente desenvolvida pelos imigrantes
tornou-se bem familiar aos brasileiros, era o caso dos alfaiates, das
costureiras, das parteiras, dos sapateiros e dos "buxeiros" que
em carro carroças improvisadas vendiam carnes pelas ruas das cidades.
Os
artesãos iriam marcar a sua presença na confecção de produtos
artisticamente mais elaborados e até mesmo na construção civil, ao lado
dos pedreiros, na maior parte italianos.
Além
da expansão do comércio e dos serviços a iniciativa de estrangeiros
contribuiu para o surgimento de pequenas indústrias em diversas áreas da
região sul do país e especialmente São Paulo, eram imigrantes que
ampliavam e modernizavam suas oficinas artesanais, outros que investiam
nas cidades as economias resultantes de anos de trabalho na lavoura e
outras ainda que chegavam ao país com dinheiro suficiente para iniciar um
negócio.
A
São Paulo antiga, criada com a ajuda dos imigrantes do inicio do século
XX, trata-se de uma cidade que lembra muito pouco ou quase nada a metrópole
dos dias atuais. Veículos de tração animal predominavam no transporte.
Homens e mulheres bem vestidos na "estica”, como se dizia,
circulavam pelas calçadas sendo vez ou outra, sobressaltados pelas
buzinas de raros automóveis que circulavam pelas ruas. Os bondes cruzavam
a cidade, imprimindo uma velocidade vertiginosa ao transporte urbano. Os
gazeteiros, geralmente crianças, gritavam pelas ruas e praças as ultimas
notícias, obtendo alguns tostões com a venda de jornais. Vendedores e
prestadores de serviço anunciavam a sua presença através de diversas
formas de sons e ruídos. Ex: os amoladores de facas e tesouras tocavam um
apito que lembravam uma gaita, os realejos com a sua música característica,
anunciavam a boa sorte, vendedores de biju, aguçavam a gula das crianças
utilizando-se da matraca com o som do ferro batendo na madeira, os
consertadores de panelas produziam um enorme barulho batendo em suas
frigideiras.
Os
mais abastados paravam nos cafés para bebericar a mais paulista das
bebidas, ler jornais e apreciar as moças que através das vitrines das
lojas observavam e comentavam a moda mais atual ditada pela Europa. Mas
com a ajuda dos imigrantes as cidades cresciam, novas industrias iam sendo
instaladas e antigas chácaras cediam lugar a habitação, formando novos
bairros. O lampião de gás era rapidamente substituído pela energia elétrica,
ruas iam sendo ampliadas surgindo assim as avenidas, os arranha-céus, a
modernidade, a tecnologia, transformando a terra da garoa numa mega metrópole
chamada São Paulo.
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