É uma obra
de ficção. Adaptada da obra literária de Viriato Corrêa, o Preto
Nicolau, e, transportada para o enredo sob o título de: Conto, Encanto e
Desencanto. A Saga do Preto Nicolau.
Qualquer
semelhança com fatos, acontecimentos ou pessoas do nosso tempo, terá
sido mera coincidência.
A Flor de
Vila Dalila manteve o nome da obra na sua concepção original preservando
o Preto Nicolau, contudo no sentido de adaptá-la à nossa realidade do
dia-a-dia, o personagem principal do enredo é transformado no Negro
Sonhador, que busca a liberdade sonhando com o Quilombo de Axuí.
A crônica de
Viriato Corrêa descreve a falta de competência, os desmandos e a
insensibilidade do governador da Capitânia do Maranhão contando a saga
do Preto Nicolau que apresenta de forma alegre e irreverente a figura do
Governador da Capitania, D. Fernando Antonio de Noronha na condição de
um mandatário avarento, despreparado e ingênuo, a ponto de acreditar e
querer a riqueza que Nicolau, escravo fugitivo que era, contou existir
no Quilombo de Axuí.
O enredo foi
concebido a partir dos fatos históricos, políticos e culturais da época
em que aconteceu o fato e traz também o resgate do continente de origem
do personagem principal.
Assim fora e
continua sendo o Brasil
Conta-se que
lá pelos idos de 1.792 à 1.798, foi indicado pela Corte Portuguesa para
governador da Capitania do Maranhão, uma "figurinha" que se chamava D.
Fernando Antonio de Noronha. Uma velha mania que se vem de longa data,
esta tal de indicação.
Desmandos,
desatinos, pérolas de despachos aconteciam na Capitania. Pudera! Com um
Governador que não relinchava por modéstia! O mais bizarro dos despachos
dizia respeito a uma certa contratação de um professor de filosofia:
"Pra que
filosofia na Capitania do Maranhão? O povo do meio-dia não precisa saber
muito, basta um pouco de gramática, e olhe lá que já é muito". O
despacho concluía: "povo sabido, é povo perigoso, fica insubordinado e
desobediente".
O Maranhão
se celebrizou durante o sistema escravagista pelo requinte de sua
crueldade imposta aos negros. O pau e o açoite comiam solto no lombo da
negrada.
A
resistência não tardou a acontecer. Surgiram os Quilombos. O mais
afamado deles ficava nos campos da Lagarteira, a leste da Capitania, na
cidade de Axuí, às margens da Lagoa do Caço.
A arrogância
e a prepotência da fidalguia não permitiam que ela acreditasse na
existência do Quilombo de Axuí. Creditaram a sua existência à crendice
dos negros.
Aqui é que
surge o Preto Nicolau. Ele era um escravo, com uma imaginação fértil e
criativa, a serviço da sua liberdade e sonhava em viver no Quilombo de
Axuí.
Um dia
Nicolau fugiu. Andou perambulando no meio das matas à procura de Axuí.
Até que teve
uma brilhante idéia. Nicolau era sabedor da ignorância rasa do
Governador. Traçou um plano mirabolante. Com a sua astúcia, entrou
sorrateiramente no palácio do Governador e narrou a D. Fernando a sua
história fantástica:
"Fugira do
chicote do seu senhor, embrenhara-se nas matas. E foi andando, andando.
Depois de muitos dias perdidos, inesperadamente entrou na cidade de Axuí,
escondida num bosque.
Tudo lá era,
ouro puro. Ruas inteiras de ponta a ponta cobertas de palácios. São Luis
era uma pobre aldeia comparada à Axuí. Não havia ninguém pobre. Era
prata e ouro a dar com os pés. Todos os habitantes tinham arcas e mais
arcas cheinhas de moedas. A água da lagoa era bebida em cuidas de ouro.
A Igreja de Axuí impressionava, não só pelo tamanho como pela riqueza. A
imagem da Virgem da Conceição no altar mor, era toda de ouro maciço.
Os negros de
Axuí tinham comércio com a fidalguia mais importante de São Luis. Que o
Governador o salvasse. Os fidalgos que comercializavam às escondidas com
o Quilombo sabiam que ele era conhecedor da transação e queriam
matá-lo".
Ali mesmo,
traçaram o plano de uma expedição para conquistar Axuí. O Preto Nicolau
saiu do palácio nomeado Comandante Chefe da Expedição. A expedição à
Axuí consagrou a estupidez de D. Fernando e lhe garantiu o Troféu
Cavalgadura.
Nicolau
mudou e a cidade também mudou a maneira de tratá-lo, eram só mesuras,
rapapés e salamaleques.
Muita gente
tentou avisar o Governador da farsa, mas ele convencido da veracidade da
história, preferiu creditar o alerta à inveja dos adversários.
A expedição
estava armada: dois mil homens, entre tropa de linha, milícias, aldeões
e índios.
Foi o maior
assombro, São Luis inteira caiu na gargalhada e assistiu o embarque
festivo das tropas.
Durante a
travessia, Nicolau era o comandante audaz e convincente. Às vésperas de
se avistarem os campos da Lagarteira, Nicolau sumiu. Ia ser descoberto o
engodo. Ele se mandou pra Axuí sozinho. Não precisava mais das garantias
da expedição, o conto vingou.
As tropas
perderam-se entre riachos e matas. Mortas de fome e cansaço, voltaram
abatidas e arrasadas, conscientes do triste papel que fizeram. A chegada
foi feita à noite e às escondidas.
Relatando à
Corte Portuguesa, D. Fernando afirmou:
"Depois de
uma gloriosa chegada ao Quilombo de Axuí, as tropas depararam com a
cidade abandonada. Os quilombos haviam fugido e levado tudo, todo o
ouro.
Apesar
disto, a expedição surtiu um grande efeito moral sobre a tropa".
Nicolau pôde
saber já no Quilombo do Axuí a extensão da sua armação e concluiu: o
poder é ridículo e risível.
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