No
ano em que comemoramos os 450 anos da cidade de São Paulo, o G.R.C.E.S.
Vai-Vai tem o orgulho de apresentar a milhões de espectadores, as histórias
e as tradições de um bairro chamado: BIXIGA!, ou BELA VISTA?, “a ordem
dos fatores não alterará o produto, você verá!”.
Este
bairro que tem, ao longo de sua existência, contribuído com a formação
atual da cidade de São Paulo - tanto que foi contemplada como importante
parte do programa comemorativo da cidade, para tal a rua Treze de Maio será
toda revitalizada.
Suas
ruas exalam histórias e estórias escritas em suas cantinas,
restaurantes, cafés, teatros museus e escolas de samba.
Sua
gente desfruta de um bairro eclético, onde a mistura dos povos resultou
em uma riqueza cultural ímpar, que só veio a enriquecer a terra da
garoa. Hoje, o “Orgulho da Saracura” tem o prazer de mostrar como tudo
começou. E convida a todos a conhecer esta história e participar desta
festa, que começa no Largo do Piques (atual Praça da Bandeira) e termina
no alto do Caaguaçu (hoje Avenida Paulista).
O
Começo
Tudo
começou há muito tempo atrás, aproximadamente no final do século
XVIII, quando naquela região se instalou um português conhecido como Antônio
Manuel “Bexiga” (este ultimo nome era apelido), - observe-se inclusive
que devido a linguagem coloquial dos habitantes do bairro posteriormente a
letra “e” acabou adaptada para “i”, proprietário de uma
hospedaria à margem do rio Saracura. Até hoje, ninguém sabe ao certo se
a palavra “bixiga”, junto ao nome vem de sua própria atividade
(fabricar lingüiça, pois bixiga é o nome dado àquela pele que envolve
o recheio da lingüiça) ou em virtude do surto de varíola que contaminou
toda a região, inclusive o comerciante português (a pessoa contaminada
com esta doença fica com o rosto cheio de marcas, assemelhando-se a uma
bixiga).
Na
hospedaria ficavam viajantes e comerciantes que ali se encontravam para
negociar animais, escravos e outros produtos. Também dali saíam negros
fugidos, que viriam a fundar e povoar os quilombos às margens do Rio
Saracura (atual Avenida Nove de Julho). Posteriormente, os negros libertos
por leis abolicionistas que antecederam a Lei Áurea, culminando com a
abolição da escravatura em 1888 quando então os negros passaram a viver
maciçamente neste espaço, à procura de uma vida melhor.
Podemos
observar então a presença do português e do negro na região, que teve
suas terras loteadas e vendidas, originando assim o bairro.
Os
Negros
Os
negros livres vivem na região. Não mais como escravos e nem em
quilombos. Os negros adotaram as margens do rio Saracura como seus lares,
e suas presenças são constantes no Largo do Piques (Rua Santo Antônio
cujo inicio era na atual Praça da Bandeira) e no Largo do Bixiga (atual
Rua Santo Amaro), oferecendo seus serviços em troca de pagamento, em funções
como ferreiros, cocheiros, carregadores, ou ainda como guarda-costas dos
comerciantes que transportava altas somas em dinheiro, função que os
tornaria conhecidos como “os valentes”. Começava o local a ganhar a
fama de “Reduto de Bambas”, que se reuniam à noite ao som de bumbos,
pandeiros, chocalhos e jogavam rasteira, tiririca e pernadas.
Neste
cenário – e neste clima - transitavam senhores, sinhazinhas, barões do
café, comerciantes e negros. Gente indo e vindo a todo o momento.
Passando pelo chafariz e pelo obelisco do Largo da Memória, estas obras
foram feitas pelas mãos do Mestre Vicentinho, Atualmente devido à importância
destes monumentos, o local esta sendo totalmente revitalizado.
Umas
das grandes contribuições da comunidade negra para o bairro foi o samba,
que sempre esteve presente em todas as comemorações, sendo que inicio
dos anos 30 surge para o cenário paulistano e brasileiro e daí para o
mundo, o Grêmio Recreativo Esportivo Cordão Carnavalesco Vai – Vai que
em 1972 passaria para Escola de Samba Vai Vai. Hoje o ensaio do Vai Vai,
faz parte dos grandes eventos do bairro, onde todos os finais de semana a
partir do mês de agosto até o carnaval se aglomeram na Rua São Vicente
mais de 5.000 pessoas, sendo que na sua maioria são pessoas oriundas da
comunidade negra, mas dentro do Vai - Vai a presença do Italiano é visível,
fazendo com que o samba do Bixiga tenha um sotaque sem igual. Tivemos também
outras agremiações sambisticas como o Cordão do Geraldino fundado em
1937, depois o Bloco dos Esfarrapados em 1947 este ultimo desfila nas
segundas-feiras de carnaval até os dias de hoje, e por fim Cordão
Carnavalesco Fio De Ouro fundado em 1963 por sambistas dissidentes do Vai
– Vai.
Os
Italianos
Neste
período, começam a chegar na região os primeiro imigrantes italianos,
vindos em sua maioria da região da Calábria. Chegavam para tentar a vida
na América e substituir o trabalho escravo. Trouxeram consigo seus
costumes, os quais se misturariam aos dos portugueses e dos negros que já
faziam parte do cotidiano da região. Dentre as novas influências, uma
das mais marcantes: é o culto a Nossa Senhora da Achiropita (nome de
origem grega que significa “que não foi pintada pela mão do homem”)
que tem sua festa realizada no dia 15 de agosto. Para se ter idéia da
importância desta festa, basta saber que no mundo só existem três
igrejas destinadas ao culto de Nossa Senhora da Achiropita: uma na Itália,
outra na Grécia e outra no Brasil, em São Paulo, no Bixiga. A festa de
comemoração é realizada durante todo o mês de agosto, consagrada no
calendário oficial de eventos da cidade, nada mais é que uma grande
quermesse, armada ao ar livre na Rua Treze de Maio, que até os dias de
hoje atrai gente de todos os lugares, que podem saborear deliciosos pratos
típicos italianos.
Mas
o grande lance da festa além das comidas, danças e das alegres musicas
italianas, é o fato da comunidade negra aderir à festa desde os primórdios,
fazendo com isto uma mistura de cultura sem igual. É comum vermos
trabalhando nas barracas da quermesse membros da comunidade negra, mais
precisamente as baianas da Escola de Samba Vai – Vai, e todas elas com
vestimentas típicas Italianas. E, ao meio de uma tarantela e outra surge
um batuque onde todos acompanham e cantam.
Temos
que frisar, que o grande legado da comunidade italiana, ocorreu na
gastronomia, que influenciou significativamente os hábitos da região,
dado a quantidade e a qualidade de suas famosas cantinas e padarias.
Viver
e Ser Livre
No
Bixiga todo mundo quer a mesma coisa: viver e ser livre. E este desejo é
lembrado a todo o momento até nos nomes das ruas do bairro, como nas ruas
Treze de Maio e Abolição - em homenagem ao fim da escravidão -, Nove de
Julho - que trata do início da revolução constitucionalista 1932–,
Praça 14 Bis, - uma justa homenagem ao homem que deu asas para liberdade
-, Rua 14 de Julho - Data de comemoração da Revolução com a queda da
Bastilha -, entre outras.
Temos
ainda a Avenida Paulista, antigo alto Caaguaçu, um dos pontos mais altos
de São Paulo, local onde os barões do café fizeram suas moradas. E por
esta região localizar-se em um planalto, tinham do local uma “Bela
Vista” de toda São Paulo, originando o nome oficial do bairro, por força
da lei Municipal 1242 de 26 de Dezembro de 1910.
Daí
em diante o bairro passou a ser chamado sem distinção de Bela Vista ou
Bixiga.
Hoje
a Avenida Paulista, por conta do voto popular, ficou conhecida como a mais
paulista das avenidas e o cartão postal de São Paulo o centro financeiro
do nosso país, e consolidou-se como o metro quadrado mais caro da América
latina, ela é alegre e democrática, nela estão sediadas grandes
empresas tais como:, bancos, hospitais, escolas, universidades, emissoras
de rádio e televisão, com isto fazendo dela um imenso corredor diário
de todos os setores da sociedade.
Sua
extensão serve de palco para grandes manifestações culturais,
esportivas e políticas, sendo que um dos eventos mais tradicionais é a
corrida de São Silvestre. Entre outras manifestações que marcaram a
história da cidade e do país temos o emocionante discurso da vitória do
Presidente Luís Inácio LULA da Silva, o primeiro Presidente operário
eleito no Brasil.
Nessa
mesma Paulista, encontram-se grandes obras dos gênios das artes, como Van
Gogh, Renoir, mestres do modernismo como Victor Brecheret entre outros;
estão expostas no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand
conhecido mundialmente como MASP, que foi concebido pelo empresário e
jornalista Assis Chateaubriand e pelo crítico e historiador italiano
Pietro Maria Bardi em 1947. A atual e ousada arquitetura deste museu foi
concebida pela famosa artista e arquiteta de origem italiana Lina Bo Bardi
em 1967, cuja estrutura de construção estabeleceu o maior vão livre sob
concreto do mundo, sendo que na inauguração contou com a presença de várias
personalidades, destacando-se entre elas a Rainha Elisabeth II da
Inglaterra.
No
vão livre do Masp é realizado aos domingos a tradicional feira de artes
e antigüidades.
Outro
fator que confirma que o Bixiga é predestinado com a liberdade e a
democracia, é que nele se situa a Câmara Municipal de São Paulo (Palácio
Anchieta).
A
arte e a boemia do Bixiga
Este
lugar tem uns povos mestiços, boêmios, festeiros e hospitaleiros que tem
em sua história motivo para ser como é. E talvez por isso, este pedaço
de chão tenha atraído para cá tanta gente talentosa, que se instalou e
despontou no bairro. Dentre alguns moradores podemos destacar, Conde
Matarazzo, Walter Taverna, Valdemar Carabina, Dona Conchetta da banca de
jornal e Armando Pugliesi, o Armandinho do Bixiga, que como prova de seu
grande amor pelo bairro fundou o Museu do Bixiga, para manter as traições
e a cultura de sua gente, foi também o idealizador do tradicional bolo do
aniversário de São Paulo, na rua Rui Barbosa entre outras benfeitorias
em prol do Bixiga.
Na
Música
O
legado de grandes músicos e compositores é sem igual, dos quais podemos
citar Henrique Felipe da Costa popularmente conhecido como Henricão
(musico, cineasta, componente da escola de samba Vai-Vai, compositor e o
Primeiro Rei Momo Negro da Cidade), Adoniran Barbosa (descrevia em suas
letras as vivencias oriundas do Bixiga), Agostinho dos Santos (cantor e
nascido e criado no bairro), Américo Giocomino (o popular canhoto autor
de Abismo de Rosas), Felipe Rago (com seu Regional), Francisco Petrônio
(grande seresteiro), Geraldo Filme (poeta maior da escola de samba
Vai-Vai), Branca di Neve (musico e ritimista da bateria da escola de samba
Vai-Vai), Jair Rodrigues (despontou nos festivais e programas realizado no
Teatro Paramount), Elis Regina (que se consolidou para o estrelado com
show Falso Brilhante realizado no Teatro Bandeirante), Paulo Vanzolini
(compositor e morador do Bairro), entre outros de importância singular
para a cultura da cidade.
No
Esporte
No
Esporte não foi diferente, do Bixiga também saiu grandes esportistas que
ostentaram a camisa da seleção brasileira pelo mundo afora em varias
modalidades, a exemplo de Feitiço, Formiga, Ponço de Leon, no Box Pedro
Galasso campeão sul americana e foi o nosso representante nas olimpíadas
de HensinK. E como todo bairro que se presa e o Bixiga não foge a regra vários
times de futebol do bairro revelaram grandes craques, time como, Bela
Vista, Jaceguai, Lusitana, Herói Brasil, Corintians, Boca Junior, Líricos
do Bixiga e Cai – Cai (sendo que este ultima deu origem a Escola de
Samba Vai Vai.
No
Teatro
A
diversidade de composição de seus habitantes transformou o bairro num
grande centro de cultura, entretenimento e lazer A oficina tradicional de
teatro de protesto, introdutora do “Tropicalismo” teatral,
apresentando peças de autores brasileiros em uma época em que só se
encenavam peças de autores estrangeiros, nasceu no Bixiga.
O
Bixiga se orgulha de ter em suas ruas os teatros que marcaram época, como
o Oficina do irreverente Zé Celso e Chico Martins, O teatro Bela Vista
atual Teatro Sérgio Cardoso, TBC-Teatro Brasileiro de Comédia, Teatro
Ruth Escobar, Teatro de Alumínio, Teatro Imprensa, Teatro Maria Della
Costa, Teatro Paramount atual Teatro Abril e outros. Não podemos deixar
de citar o Cine Rex, que era principal sala de cinema do bairro,
posteriormente transformando-se no Teatro Olímpia e finalmente no Teatro
Zaccaro, que não existe mais.
É
difícil encontrar um artista, que não tenha brilhado nos palcos dos
teatros do Bixiga, muitos destes despontaram e continuam despontando
nesses teatros, como:, José Celso Martinez, Célia Helena, Henriette
Morineau, Cacilda Becker, Nydia Licia, Sergio Cardoso, Adolfo Celi, Gianni
Ratto, Maria Della Costa, Tonia Carrero, Sadi Cabral, Cleide Yáconis,
Nathália Timberg, Marília Pêra, Paulo Goulart, Nicente Bruno, Denise
Fraga, Armando Bogus, Eva Wilma, Fernando Torres, Fernanda Montenegro
,Rosi Campos, Antônio Fagundes, Ulisses Cruz (este ultimo além de ser um
grande diretor de teatro, foi carnavalesco e enredista da Escola de Samba
Vai - Vai) e tantos outros. Mas um em especial sintetiza a garra desta
brava gente, que é Paulo Autran. Um artista completo que transita
facilmente por todos os tipos de textos, diretores e atores, que no auge
de seus 81 anos continua em plena atividade e é respeitado e admirado por
toda a classe teatral.
São
Paulo é considerada a Cidade aonde mais se vai a teatros no mundo, e o
Bixiga é um bairro privilegiado, pois conta com a maior concentração de
teatros da Cidade, que são 16. Todos fervilhando com seus mais diversos
espetáculos, de textos nacionais até aos grandes musicais da Brodway,
como A Bela e a Fera e Chicago. Toda essa arte e História contada por
seus diretores, autores, atores, cenógrafos, técnicos, artesões e etc,
tornaram o Bixiga conhecido como a Brodway Brasileira.
Vai-Vai
Canta o Bixiga
E
nesse clima boêmio o Bixiga é cantado e visto pela sua escola de samba,
a Vai-Vai, que tem o orgulho de bater no peito e dizer: “eu sou do
Bixiga”, e convido todos a participarem desta festa e provarem do bolo
de aniversario dos 450 anos de nossa querida cidade, nesta festa tão
democrática, que tem espaço para todo mundo: portugueses, negros,
italianos, mestiços, ingleses, franceses, artistas, artesões, operários,
boêmios, ricos, pobres, companhias de teatro, esfarrapados, todos os
personagens do nosso cotidiano, vivos, ou que já se foram, que ao longo
dos tempos passaram pelo Bixiga, e escreveram aqui uma linha nas páginas
de nossa querida São Paulo.
Enfim,
convidamos a todos para que, juntos com a Vai-Vai, conheçam e se
apaixonem por um bairro tão diversificado e fascinante, que faz parte da
História desta cidade. A Vai-Vai mostra a todos uma Bela Vista do Bixiga,
tanto para os que moram aqui, quanto para os que passaram, passam ou
passarão por este pedaço de chão onde mora a liberdade e na certa irão
se orgulhar do que viram e viveram, porque o Bixiga assim como nossa
querida São Paulo, “Não é um Presente da Natureza para os Olhos Meus,
Mas sim um Presente dos Homens aos Olhos de Deus”.
Parabéns
São Paulo pelos seus 450 anos, o Bixiga e a Escola de Samba Vai Vai se
orgulham de fazerem parte desta festa.
É
por essas e muitas outras, sem falsa modéstia e sem querer ser
pretensioso, que fazemos um convite a todos.
Quer
conhecer São Paulo? Vem no Bixiga pra ver...
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