1ª PARTE: DE 1808 À 1821 - A CHEGADA DA
CORTE PORTUGUESA AO BRASIL ATÉ A SUA PARTIDA
A CORTE CHEGOU!!!
O final do século XVIII na Europa foi
marcado por grandes fatos e conseqüências.
A Revolução Francesa de 1972 trouxe
inquietude a todas as demais cortes européias, que temiam que fatos
semelhantes ocorressem em seus países. Neste mesmo ano, D. Maria I,
Rainha de Portugal, por "motivo de saúde", fica louca. Foi substituída
por seu filho o Príncipe Regente D. João.
Em 1840, Napoleão Bonaparte é aclamado
Imperador da França e o período de guerras iniciado após a Revolução
Francesa agora batia às portas de Portugal, que já era aliado e
dependente da Inglaterra.
Após um curto espaço de calma voltam as
guerras e Napoleão obriga Portugal a fechar seus portos aos navios
ingleses, confiscar as propriedades inglesas e prender os súditos de Sua
Majestade, o Rei da Inglaterra. Como se recusa a fazê-lo, e
impossibilitado de enfrentar o exército francês que partia para invadir
o seu reino, D. João, o Príncipe Regente, aceita a "sugestão" inglesa e
parte em direção ao Brasil, trazendo consigo sua mãe D. Maria I, a
louca, e sua ambiciosa e irrequieta esposa D. Carlota Joaquina, filha do
Rei da Espanha Carlos IV e membros da Corte Portuguesa em número de
15.000 pessoas entre nobres, militares, religiosos, plebeus, criados de
servir, escravos, etc., embarcados às pressas em 14 navios.
Desembarcou na Bahia em 22 de janeiro de
1808, onde foi recebido com grande pompa e alegria pelos súditos
baianos.
De imediato decretou a Abertura dos Portos
a todos os países amigos de Portugal, quebrando o primeiro monopólio da
Corte. Partiu para o Rio de Janeiro onde desembarcou em 8 de março de
1808, em meio a grande festança que durou nove dias. Finalmente, D. João
encontrou tranqüilidade, fartura, paz e entusiasmo do povo pela sua
presença.
O primeiro problema a ser enfrentado pelo
Monarca era alojar as 15.000 pessoas que o acompanharam numa cidade que
possuía cerca de 50.000 habitantes.
No início houve certa colaboração. Porém
na medida em que as requisições de casas se tornavam mais constantes, a
população passou a se sentir espoliada injustamente e a interpretar a
marca colocada em suas casas "P.R.", que deveria significar Príncipe
Regente, como: "Ponha-se na Rua" ou "Prédio Roubado".
USOS EUROPEUS
Com a chegada da Corte Portuguesa, seus
usos e costumes foram aos poucos se difundindo entre os brasileiros mais
abastados. A própria D. Carlota Joaquina vestia-se com suntuosidade e
opulência exigindo que todos se ajoelhassem à sua passagem. Com a
abertura dos portos e com a imposição de Napoleão, a Colônia passou a
receber navios das mais diferentes nações. E aqui chegaram copos, facas,
tesouras, tecidos, porcelanas, queijos, manteiga, jóias, móveis, velas
de cera, relógios, licores, roupas, quinquilharias finas, etc.
Franceses e ingleses transferiam-se para o
Brasil e assim surgiram novas profissões ou profissionais mais
competentes.
AS ARTES E AS CIÊNCIAS
D. João VI admirava a cultura que ele
próprio não possuía e sempre apoiou a criação de escolas, museus e
bibliotecas, e assim foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios que trouxe os pintores da Missão Artística Francesa, como Taunay
e Debret, escultores, gravadores e arquitetos. Foi criado também a
Biblioteca Pública, o Horto Real, a Escola Médica da Bahia, o museu Real
e os Cursos Jurídicos.
A IMPRENSA NACIONAL
Entre 1808 e 1822 é editado em Londres o
Correio Brasiliense de Hipólito José da Costa que fazia críticas ao
Regente e a Corte.
O primeiro jornal editado no Brasil foi A
Gazeta do Rio de Janeiro que tinha caráter oficial e obediência à
censura que o impedia de publicar qualquer fato que fosse contra a
religião, o governo e os bons costumes.
USOS E COSTUMES DA CORTE
Antes da chegada da Corte Portuguesa ao
Brasil não havia costume de se comer com faca e garfo. Embora muitos
soubessem manejar os talheres, ainda preferia-se o uso dos dedos.
Com a chegada dos fidalgos, os talheres e
as baixelas, em geral de prata, passaram a ser usados. Pães feitos de
trigo, queijos finos e manteiga feita em Minas, costumes trazidos pelos
colonos suíços juntamente com os doces típicos da terra, passaram a ser
consumidos com as requintadas iguarias da doçaria portuguesa.
As construções passaram a ser feitas de
tijolos e pedras e os prédios passaram a ter mais de um andar, assim
distribuídos: o térreo era para a loja ou depósito, o segundo era a
moradia e o terceiro, quando havia era o alojamento dos criados da casa.
A parte da frente das casas era ornamentada com pedras esculpidas. Aos
poucos, o vidro foi introduzido nas janelas. As Igrejas passaram a ser
menores e menos suntuosas. Foi introduzido o estilo Neo-clássico francês
nas construções. Construções monumentais com colunas, paredes lisas,
formas clássicas como as dos teatros e prédios oficiais da época
começaram a aparecer.
As chácaras e fazendas apresentavam amplas
varandas, com escadarias cercadas de canteiros e trepadeiras. As salas
de música, as porcelanas chinesas, os relógios franceses, as madeiras
douradas e as cortinas de seda passaram a fazer parte da vida do
brasileiro rico.
No entrudo (festa popular da qual se
originou o carnaval brasileiro), trazido pelos portugueses no século
XVII, foram introduzidas as máscaras, e as preferidas eram as de porco e
as de gato. Em 1840, no Hotel Itália, no Rio de Janeiro, foi dançado o
primeiro Baile de Carnaval. A partir de 1815, quando o Brasil foi
elevado à categoria de Reino, D. João sentiu a necessidade de criar uma
Nobreza Brasileira, que lhe garantisse apoio e fidelidade. Surgiram
então os Barões, Viscondes, Marqueses, etc.
A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817
As províncias mais distantes do Rio de
Janeiro, que sofriam menor influência e que tinham menor apoio foram as
primeiras a não aceitar a dominação portuguesa e muitos movimentos que
tinham como objetivos a separação e criação de repúblicas independentes,
surgiram influenciados pelas revoluções francesa e americana. Dentre
estas províncias, destacou-se Pernambuco que pela forma aguerrida com
que defendia suas idéias ficou conhecida como "Leão do Norte",.
Contribuiu para o descontentamento o fato de que D. ~João tivesse
trazido de Portugal as tropas para guarnecer as principais cidade, e
criado o exército, onde os postos mais altos eram dados a oficiais
portugueses da nobreza lusa. O peso dos impostos aumentou, uma vez que a
Colônia tinha de suportar sozinha as despesas da Corte (que nunca foi de
trabalhar) e os gastos das campanhas militares no Rio da Prata.
O sentimento que se tinha no nordeste era
que o poder passou de uma cidade estranha (Lisboa), para outra cidade
estranha (Rio de Janeiro). A revolução que teve seu início em 06 de
março de 1817, resultou de todos estes ressentimentos, e abrangeu todas
as camadas da população, cada uma defendendo seus próprios interesses.
Talvez a única coisa comum entre todas
elas fosse o inimigo. Assim juntaram-se militares, proprietários rurais,
juízes, artesãos, padres, comerciantes, escravos, mulatos, cabras e
crioulos que lutavam pelo direito de casar com "brancas das melhores".
Os boticários, cirurgiões e sangradores, davam-se ares de importância. E
barbeiros recusavam-se a fazer a barba das pessoas "por estarem ocupados
em servir a pátria". Do Recife a revolução espalhou-se pelo sertão e
para as províncias vizinhas, estendendo-se para Alagoas, Paraíba e Rio
Grande do Norte.
Os revolucionários tomaram Recife e
implantaram um governo provisório, que proclamou a República e
estabeleceu igualdade de direitos e tolerância religiosa, mas não tocou
no problema da escravidão. Foram enviados emissários às outras
províncias, à Inglaterra, Estados Unidos e Argentina em busca de apoio e
reconhecimento. Lutas por vezes ferozes se desenrolaram, mas o
despreparo e as desavenças entre os líderes e ao maior poderio das
forças imperiais levaram a derrota aos pernambucanos em maio de 1817. Os
principais líderes foram executados ou presos, e muitos transferidos
para a Bahia onde foram submetidos a torturas durante quatro anos. O
movimento durou mais de dois meses e deixou marcas profundas no
Nordeste, sendo sua maior figura o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, o
Frei Caneca.
VOLTA A PORTUGAL
Se dependesse de D. João VI, que com a
morte de sua mãe, a Rainha Maria I, que em 1816 foi aclamado Rei de
Portugal e Algarve, a Corte nunca teria saído do Brasil. Porém em
Portugal, com a ausência do Rei, da Corte e de partes de funcionário
públicos, a situação se tornava cada vez mais crítica e o país cada vez
mais pobre, uma vez que havia perdido o monopólio do comércio com a
colônia. Muitos fatos levaram à Revolução Liberal de 1820 que entre
outras coisas, exigia a volta de D. João VI à Lisboa e a volta do Brasil
à situação de simples colônia.
Sem outra alternativa, o Rei volta a
Portugal em 26 de abril e leva consigo todo o dinheiro existente no
Banco do Brasil.
Enquanto D. João VI inconsolável, sua
esposa Carlota Joaquina ao desembarcar em Portugal, tira os sapatos e
limpa suas solas nas pedras do cais, dizendo "nem nos sapatos quero como
lembrança a terra do maldito Brasil".
2ª PARTE: DE 1822 À 1831 - D. PEDRO I E
O PRIMEIRO IMPÉRIO
O PRÍNCIPE BOÊMIO
Ferrar cavalos, bisbilhotar jogos, brigar
nas ruas, falar gírias, conviver com a gente do povo, andar pelas
senzalas interessado nas escravas de boa aparência, além de ser
mulherengo, músico e compositor razoável eram as características do
Príncipe Regente Pedro.
Era dado mais ao trabalho manual que aos
estudos. A criadagem murmurava a respeito de suas rondas noturnas,
quando saía disfarçado com um chapelão, quebrado na frente para
tapar-lhe o rosto e muitas vezes com um violão. As suas conquistas
amorosas eram casos passageiros que incluíam desde as raparigas,
escravas, damas da corte, casadas ou não. Por traz de suas aventuras
amorosas estava seu amigo e confidente Francisco Gomes da Silva,
Chalaça, que conseguia junto aos comerciantes, para os quais prometia
títulos honoríficos, empréstimos a D. Pedro para que ele pudesse gastar
em suas noitadas.
Porém, causou preocupação à Corte a paixão
despertada no Príncipe pela bailarina francesa Noemy Thierry que se
apresentava no teatro São João, talvez o seu primeiro grande amor. Ao
saber que a francesa estava grávida de seu filho, D. João VI acertou o
casamento da bela francesa com um oficial de sua guarda, que foi
promovido e transferido para o Recife. Inconsolado, o Príncipe teve uma
grande crise convulsiva.
A REVOLTA DOS ESCRAVOS
Entre os anos de 1808 e 1840 aconteceram
muitas revoltas dos negros africanos e seus descendentes, todas elas
causando grande número de atrocidades e mortes. Porém a maior e mais
importante foi a dos Malês, negros muçulmanos da Bahia, povo guerreiro e
sábio que pretendia implantar um reino muçulmano no Brasil. A revolta
que se iniciaria na Bahia deveria alastrar-se para Pernambuco e
finalmente para o Rio de Janeiro. Ela deveria ocorrer durante a lavagem
das escadas da Igreja do Bonfim. Traídos, os Malês e seus simpatizantes
foram violentamente reprimidos.
A MAÇONARIA
As articulações políticas que deram origem
à Independência do Brasil se fizeram em grande parte nas Lojas
Maçônicas, uma instituição cujo nascimento se deu na França.
Em seus primeiros tempos, provavelmente em
finas da Idade Média, a maçonaria reuniu principalmente artesãos ligados
à construção, daí o nome de Maçom - Pedreiro em francês. A partir do
século XVII, tomou forma de um movimento secreto constituído por grupo
de iniciados, visando combater tiranias e a Igreja. No Brasil, onde os
padres participavam ativamente dos atos de rebeldia, a maçonaria teve a
feição de um núcleo absolutista cujos membros mais extremados tendiam a
defender a independência. Participaram ativamente da Revolução
Pernambucana de 1817, onde os preparativos foram muitas vezes feitos em
clubes e lojas secretas.
Em 3 de maio de 1818, D. João VI proíbe
sob pena de morte a Maçonaria e as Sociedades Secretas no Brasil. Em 2
de junho de 1822, no Rio de Janeiro, é criada a sociedade secreta
"Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz" que queriam o
Reino do Brasil. Senhor de seus destinos, três lemas unem os maçons:
"Independência ou Morte", "União e Tranqüilidade", "Firmeza e Lealdade"
da qual fazem parte José Bonifácio e D. Pedro, que havia sido levado à
maçonaria por influência do Patriarca.
O BANCO DO BRASIL
Criado em 1808 por D. João VI para ser o
órgão centralizador das finanças e, claro, financiar as despesas da
Corte.
Em 26 de abril de 1821, ao retornar, D.
João VI e os seus fidalgos consideram que ainda lhes pertenciam o
tesouro brasileiro e levaram para Portugal - 50 milhões de cruzados -
quase todo o dinheiro do Banco do Brasil.
De cofres limpos, o Banco do Brasil
suspende os pagamentos, ou seja, vai à falência em 28 de julho de 1821.
Em 23 de setembro de 1829 é liquidado o 1º
Banco do Brasil por inadimplência.
OS MENSAGEIROS DE D. LEOPOLDINA
Com a partida de D. João VI, as diferenças
entre brasileiros e portugueses tornavam-se mais acentuadas. A Corte
Portuguesa, por meio de sua Assembléia, tinha o firme propósito de
reconduzir o Brasil à condição de simples colônia, não admitindo que D.
Pedro permanecesse no Brasil. Se o fizesse, seria apenas um delegado
temporário nas províncias onde já exercesse autoridade efetiva (Rio de
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo) as demais ficariam sob ordens diretas
de Portugal.
Em 2 de setembro de 1822 a Princesa D.
Josefa Leopoldina reuniu o Conselho de Estado e sob orientação de José
Bonifácio enviaram ao Príncipe uma mensagem contendo a notícia de que as
tropas fiéis a Portugal já desembarcavam na Bahia e consolidariam o
domínio Português no Norte e Nordeste. Um ataque ao governo da Regência
completaria os planos.
A comitiva, constituída pelos mensageiros
Paulo Emílio Bregaro e o Major Antônio Ramos Cordeiro foi despachada do
Rio de Janeiro com a ordem: "Cheguem o mais depressa possível, nem que
tenham que estourar doze cavalos". Cinco dias depois, exaustos,
encontram-se com a comitiva do Príncipe, que regressava de Santos, onde
fora encontrar com sua amante D. Domitila de Castro Canto e Melo -
Marquesa de Santos, às margens do Riacho Ypiranga.
O GRITO DA INDEPENDÊNCIA
Como era a primeira vez que o Regente
vinha à província de São Paulo, à medida que ele se aproximava da
cidade, a comitiva ia aumentando por acréscimo de simpatizantes e
curiosos. Ao chegar à povoação da Penha já uma verdadeira guarda de
honra o acompanhou.
Em 7 de setembro de 1822, os mensageiros
de D. Leopoldina chegaram à São Paulo e, recebendo a notícia de que D.
Pedro estava voltando de Santos, dirigiram-se ao seu encontro, o que
ocorreu às margens do Riacho Ypiranga, onde a comitiva havia parado para
que o Príncipe "saísse de corpo", uma vez que era vítima de desarranjo
intestinal, talvez causado por algo que houvesse comido.
Cansado e mal humorado com a longa viagem
e com as terríveis cólicas intestinais que o atormentavam, o Regente
encontrou-se com Francisco de Castro Canto e Melo (irmão da Marquesa de
Santos) e os emissários vindos do Rio de Janeiro. Suas fisionomias
tensas não deixavam margens a dúvidas: havia problemas.
Uma mensagem particular de José Bonifácio
recomendava-lhe o rompimento definitivo, dizendo-lhe: "A sorte está
lançada e de Portugal não temos de esperar nada senão escravidão e
horrores". Lívido de fúria, D. Pedro contou aos que o acompanhavam as
novidades e declarou: "É tempo: Independência ou morte! Estamos
separados de Portugal".
Seguindo o exemplo do Príncipe, os que o
acompanhavam jogaram fora suas braçadeiras azuis e brancas, símbolo da
fidelidade a Portugal e deram gritos à Independência.
O grupo seguiu às pressas para a cidade.
Onde a notícia já havia chegado e recebeu-os com festas que duraram
vários dias.
A FESTA DE COROAÇÃO DE D. PEDRO I -
IMPERADOR BRASIL
Em 12 de outubro de 1822, teve lugar no
Campo de Santana (atual Praça XV de Novembro) a cerimônia que consagrou
Dom Pedro - Imperador Constitucional do Brasil, em 14 de setembro ele é
apresentado ao povo, no teatro S. João. À semelhança de São Paulo, no
Rio de Janeiro, o povo comemorou na rua vários dias a Independência.
Bailes se realizaram e foi executado o Hino da Independência.
A DÍVIDA EXTERNA
Após a Independência do Brasil, para que
Portugal aceitasse o fato, foi feito um acordo mediado pela Inglaterra,
no qual o Brasil pagaria à antiga metrópole a quantia de 2 milhões de
libras esterlinas, como indenização pelas dívidas feitas por Portugal na
época do Reino Unido. Evidentemente, o dinheiro foi emprestado pela
Inglaterra. As inúmeras revoltas ocorridas durante o Primeiro Império
haviam agravado ainda mais os problemas econômicos e financeiros já
existentes. Os preços dos produtos exportados pelo Brasil como algodão,
couro, cacau, fumo e café tendiam a cair cada vez mais.
As rendas do Governo Central caiam cada
vez mais e os produtos exportados pela Inglaterra tinham tarifa
privilegiada de 15%, os portugueses 16% e os demais países de 24%. D.
Pedro I recorreu à emissão de grande quantidade de moedas de cobre, que
deu origem a falsificações e ao aumento do custo de vida.
O papel-moeda emitido pelo Banco do Brasil
no Rio de Janeiro era mal recebido fora do Rio de Janeiro, o cruzado se
desvalorizava cada vez mais frente à libra esterlina da Inglaterra.
Assim começou a nossa dívida externa.
A GUERRA DA INDEPENDÊNCIA NA BAHIA
Em 1821 os portugueses da Bahia haviam
eleito uma Junta Governativa que dava apoio á Constituinte Portuguesa
que pretendia a volta do Brasil à condição de simples colônia. Isto
aumentou ainda mais a indisposição entre baianos e portugueses, com a
indicação do português Madeira de Melo para Governador da Província, tem
início a revolta que pretendia a libertação da Bahia e do Brasil, em
1822.
No início as tropas portuguesas, mais
numerosas, vencem os combates iniciando um período de terror na cidade
de Salvador, invadindo casas, destruindo propriedades e invadindo o
Convento da Lapa onde encontram a resistência de Soror Joana Angélica de
Jesus que é morta.
Após a independência aqueles que eram
fiéis a Portugal recusaram-se a reconhecer D. Pedro I como Imperador e a
guerra da Bahia passou a ter agora maior apoio dele que enviou tropas
por terra e mar comandadas pelo inglês Lorde Cochrane. Na Guerra da
Bahia teve grande destaque a atuação de uma mulher que disfarçada de
homem lutou com grande heroísmo: Maria Quitéria de Jesus que adotou o
nome do cunhado José Cordeiro de Medeiros, alistando-se no Batalhão de
Artilharia. Descoberta a sua identidade, mas pela bravura que mostrava,
foi transferida para a Infantaria, batalhão conhecido como "periquitos"
por serem verdes as folas e os punhos das fardas.
Após sangrentas lutas, as tropas
portuguesas são derrotadas e em 2 de julho de 1823 e as tropas
brasileiras vitoriosas entram em Salvador. Neste dia Maria Quitéria é
homenageada por uma das freiras onde havia morrido Soror Angélica
recebendo uma coroa de rosas. A mulher-soldado vira mito e heroína
passando a ser contada em prosa e verso. Seu heroísmo é
reconhecido em homenagem no Rio de Janeiro com a medalha de Cavalheiro
da Ordem do Império do Cruzeiro. Voltando à sua terra, morreu 20 anos
depois.
Essa foi Maria Quitéria de Jesus - A
Heroína da Independência.
A ESCOLHA DO RIO DE JANEIRO COMO
CAPITAL DO BRASIL
D. João VI desembarcou na Bahia em 22 de
janeiro de 1808, onde permaneceu por 2 meses, tendo chegado ao Rio de
Janeiro em 7 de março.
Não se sabe porque o monarca resolveu
transferir a Capital do Reino, que era em Salvador para o Rio de
Janeiro. Talvez tenho sido pelas belezas naturais, ou por motivos
estratégicos.
Quando da sua chegada, o Rio de Janeiro
era uma cidade de 60 mil habitantes, muito simples, mas que se preparou
intensamente para recebê-lo. Os caminhos foram capinados, as ruas
varridas, as calçadas lavadas, os moradores ofereciam suas casas para
abrigar a comitiva, contribuíam com dinheiro, alimentos e escravos. O
povo ficou nas ruas, numa festa que duraria nove dias.
As ruas apresentavam letras iluminadas que
diziam: "A América feliz tem em seu seio, o novo Império, o fundador
sublime". Foi enfim, uma recepção muito calorosa.
Não se sabe porque resolveu fazer a
transferência das capitais. Talvez mais que motivos estratégicos, tenham
sido o calor humano dos cariocas e as belezas naturais que o tenham
influenciado, porque como se sabe, D. João era mais afeto aos prazeres
da mesa e da natureza do que às torturantes negociações do Estado. Nas
florestas cariocas ele poderia passar horas distante do tormento que se
chamava Carlota Joaquina, sua esposa.
O amor surgido entre a cidade e D. João VI
resultou num grande desenvolvimento urbano e com o crescimento da
população que em 1820 já era de 150 mil habitantes, tornava o Rio maior
cidade do Reino.
3ª PARTE: AS REVOLUÇÕES E A MAIORIDADE
- 1831-1840
Diversos fatos ocorreram para que D. Pedro
I abdicasse ao trono brasileiro em 7 de abril de 1831, em favor de seu
filho Pedro de Alcântara, então com 5 anos. Para governar o país até que
ele completasse a maioridade, foram escolhidos os Regentes que de início
eram em número de três. O período das Regências foi marcado por
acontecimentos políticos importantes e principalmente por um grande
número de revoluções e guerras.
A primeira Regência, a Regência Trina, era
exercida pelo Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, José Joaquim
Carneiro de Campos (o Marquês de Caravelas) e Nicolau Pereira de Campos
Vergueiro. Era a reunião de três forças: a Militar, representada por
Lima e Silva, a Aristocracia pelo Marquês e o prestígio popular por
Nicolau Vergueiro. Recebeu o nome de Regência Trina Provisória. Setenta
dias depois eles eram substituídos por: Bráulio Muniz, Costa Carvalho e
Lima e Silva. Em 1834 o Padre Feijó foi eleito para ser regente único,
sendo substituído por Araújo Lima que permaneceu até ser decretada a
maioridade de D. Pedro de Alcântara em 1840.
Dentre os regentes, os mais importantes
foram Nicolau Vergueiro que propunha a libertação dos escravos e a
entrada de imigrantes para os trabalhos na lavoura, e o Padre Feijó que
lutava por idéias liberais como o fim da velha aristocracia,
desaparecimento dos privilégios de sangue, dos títulos de nobreza e dos
direitos de família, devendo o indivíduo destacar-se pelos seus próprios
méritos.
A CABANAGEM - PARÁ - 1835 À 1840
A Cabanagem explodiu no Pará, região
frouxamente ligada ao Rio de Janeiro e não haviam propriedades rurais
bem estabelecidas como nas outras regiões, era um mundo de índios,
mestiços, trabalhadores escravos ou dependentes e uma minoria branca,
formada por comerciantes portugueses e uns poucos ingleses e franceses
que se concentravam em Belém, uma pequena cidade de 12 mil habitantes.
Por aí escoava a pequena produção de tabaco, cacau, borracha e arroz.
Uma disputa política entre os grupos da
elite local deu início à rebelião popular, proclamou-se a Independência
do Pará e uma tropa composta por negros mestiços e índios conquistou
Belém, após vários dias de luta. Daí a revolta se estendeu para o
interior.
O chefe dos rebeldes era um jovem cearense
de 21 anos "Eduardo Angelim" que após a vitória, não tinha uma
organização do governo a oferecer, limitando-se ao ataque a
estrangeiros, aos maçons e na defesa da religião católica dos
brasileiros, de D. Pedro I, do Pará e da liberdade.
A rebelião foi vencida pelas tropas
legalistas, depois do bloqueio da entrada do Rio Amazonas e de combates
cruéis, quando Belém foi praticamente destruída e a economia arrasada.
Calcula-se que 30.000 pessoas tenham morrido.
A GUERRA DOS FARRAPOS, A REVOLTA
FARROUPILHA - RIO GRANDE DO SUL - 1836 À 1845
A província de São Pedro do Rio Grande
sempre foi marcada pela disputa entre brasileiros e castelhanos,
baseados no gado. Ela exportava charque, couros, gado e mulas de
montarias para o mercado brasileiro. Nas charqueadas predomina o
trabalho escravo, nas campanhas predomina o trabalho livre ou semi-livre
do Gaúcho, misto de vaqueiro, caçador de gado bravo e guerreiro, de
paulista, castelhano e bugre. O estancieiro é senhor das terras e gado,
contrabandista, patriarca a caudilho militar nas pelejas de aquém e além
fronteiras.
As facções são muitas, o centro liberal e
moderado é o Chimango, onde se juntam os gaúchos, as camadas médias da
população urbana, os anarquistas, os pobretões, os proletários que pela
condição social são chamados de Farrapos ou Farroupilhas, que significa
maltrapilho, gente vestida com farrapos. Os conservadores são os
Caramurus, os comerciantes, charqueadores e aristocratas. Havia também a
divisão entre os estancieiros, criadores de gado do interior que eram os
chefes dos Farroupilhas. Os Caramurus eram os produtores de charque e,
se localizavam próximos ao litoral em cidade como Rio Grande e Pelotas.
As queixas contra o governo central eram
antigas, tanto dos liberais quanto dos conservadores. O Rio Grande do
Sul mandava, seguidamente, fundos para cobrir as despesas de Santa
Catarina e os Caramurus, por dependerem dele, o apoiavam.
Nas fileiras dos revoltados haviam pelo
menos duas dezenas de revoltosos italianos refugiados no Brasil, entre
eles Giusepe Garibaldi, entre os brasileiros o mais famoso foi Bento
Gonçalves, filho de estancieiros da fronteira com o Uruguai.
As tropas chefiadas por Davi Canabarro e a
frota comandada por Garibaldi conquistam Santa Catarina e fundam a
República Juliana. Por esta época, Giusepe conhece Ana Ribeiro da Silva,
que se une a ele e adora o nome de Anita Garilbaldi, atacados por mar e
terra os revoltados são derrotados e se retiram sofrendo pesadas perdas.
A luta foi longa e baseada na ação da
cavalaria. Com incontáveis atos de heroísmo, foi proclamada a República
de Piratini sob a Presidência de Bento Gonçalves, que estimulou a
criação de gado e a produção de charque e couros.
Afinal, em 1845, após acordos em separado
com os diferentes chefes militares, a paz foi assinada. Foi concedida
anistia geral aos revoltosos, os oficiais farroupilhas integraram-se ao
Exército Nacional de acordo com suas patentes e o Governo Imperial
assumiu as dívidas da República de Piratini.
A SABINADA - BAHIA: 1837 À 1838
Teve este nome por causa de seu líder
Sabino Barroso, jornalista e professor da Escola de Medicina de
Salvador. A Sabinada reuniu uma base ampla de apoio, incluindo pessoas
de classe média e do comércio de Salvador, em torno de idéias
federalistas e republicanas.
Buscou um compromisso com relação aos
escravos, dividindo-os entre nacionais - os nascido no Brasil, e
estrangeiros - nascidos na África. Seriam libertados os escravos
nacionais que tivessem pegado em armas pela revolução, os demais
continuariam escravizados.
Os "sabinos" não conseguiram penetrar no
Recôncavo, onde os senhores de engenho apoiavam o governo.
Após o cerco de Salvador por terra e por
mar, as tropas governistas recuperaram a cidade através de uma luta
corpo a corpo que resultou em cerca de 1.800 mortos.
A BALAIADA - MARANHÃO: 1838 À 1840
Este nome se deve ao ofício de um dos
chefes da rebelião Francisco dos Anjos Ferreira que era a de vender
balaios, e que entrou na rebelião para vingar a honra de uma filha que
havia sido violentada por um capitão de polícia.
Como as outras, a Balaiada começou a
partir de disputas entre a elite locas. As rivalidades resultaram em uma
revolta popular que se concentrou no sul do Maranhão numa região de
pequenos produtores de algodão e criadores de gado. Aos rebeldes
juntou-se um líder negro, Comes, à frente de 3.000 escravos fugitivos,
chegando a ocupar Caixas, a segunda maior cidade da província.
Não constam manifestos escritos dos
rebeldes a não ser manifestações de vivas à religião católica, à
Constituição, a D. Pedro II e à "Santa Causa de Liberdade". Derrotados,
os rebeldes foram anistiados, com exceção dos negros que deveriam ser
re-escravizados.
Nesta repressão estava presente um oficial
do Exército, com presença constante nos confrontos políticos e nas
batalhas do Segundo Império, Luiz Alves de Lima e Silva, que na ocasião
recebeu o título de Barão de Caxias.
A MAIORIDADE DE D. PEDRO II
Como a situação do país estivesse se
tornando insustentável sob a Regência, com a eleição de um Regente
conservador, que produziu um retrocesso nas conquistas que se haviam
alcançado, por pressão dos liberais a maioridade é concedida a D. Pedro
II que assumiu aos 14 anos o trono do Brasil em julho de 1840.
Aqui termina a nossa visita ao Museu
Imperial do Morro da Casa Verde. Esperamos que ela tenha sido agradável
a todos.
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