Quando nosso abre alas invadir o Anhembi,
o sol antes quieto e adormecido, trará seus primeiros raios de luz, até
o sol se mostrar curioso para ver nosso desfile desde o início, e ele
está certo, afinal estaremos nos homenageando em nosso Carro Abre Alas,
e nós a merecemos. Foram dez campeonatos conquistados na passarela do
samba paulistano, por isso traremos as dez estrelas de nossas orgulhosas
vitórias e para emoldurá-las nada melhor que nosso singelo ícone - as
saracuras, grandes, médias e pequenas, algumas ainda recém nascidas,
afinal a paixão Vai-Vai é para sempre, mas sempre requintadas como bem
gosta o povo bom do Bexiga.
No coração do carro cintilará garbosa
nossa tradicional e querida Coroa, grandiosa, iluminada e majestosa como
nosso pavilhão.
Nos parece, no entanto, que não existe
melhor explicação para o nosso Carro Abre Alas que a iluminada
inspiração de nossos compositores em um de nossos refrões:
"Eu sou Bexiga, eu sou amor
Fazendo o samba amanhecer
A Saracura é a razão do meu viver
Eu sou Vai-Vai até morrer"
A Vai-Vai está orgulhosa em fechar o
grandioso Carnaval Paulistano, e o fará abrindo seu desfile numa bonita
homenagem a seus símbolos, vitórias e tradições.
RENASCE A DEMOCRACIA - DIRETAS JÁ!
"Nós vivemos as trevas, nós vivemos o
caos, mas com ele aprendemos e dele tiramos as lições que necessitávamos
para evoluirmos e caminharmos com a firmeza de um povo que muito sofreu,
mas que nunca se curvou, mas que nunca se abateu. Brasil valeu. Vai-Vai
Brasil".
Mas um povo não se cala para sempre, não
há força que o consiga cercear por muito tempo, o voto era nossa arma
primordial e sempre que comparecíamos às urnas o utilizávamos fazendo
crescer a participação oposicionista no cenário político nacional, com
isso estava aberto o processo de abertura política, mas ainda era pouco,
o que queríamos realmente era votar para presidente, queríamos Diretas
Já!
E o povo ganha as ruas, articula-se a
sociedade civil, urbana e rural e a bandeira maior de nossa gente passa
a ser a luta pelas diretas, era necessário aprovar a emenda Dante de
Oliveira que restabelecia eleições diretas para presidente. E todo o
país veio junto cantando num coro uníssono - Queremos votar para
Presidente.
Dois homens tornam-se marco dessa luta -
Teotônio Vilella e Ulisses Guimarães - o "Senhor Diretas". E mesmo assim
perdemos no congresso e ainda não votaríamos para Presidente. Perdemos
uma batalha, mas não perdemos a guerra e conseguimos uma grande vitória,
é eleito, depois de 21 anos de ditadura militar um civil, um homem de
oposição. Nossa mobilização fez o congresso eleger Tancredo Neves -
Presidente do Brasil.
A ERA DOS CRUZADOS - PAÍS CONGELADO
Mas o entusiasmo inicial em breve se
transformaria em apreensão, nosso Presidente eleito é internado e nunca
mais retornaria a vida política, e nem tampouco à vida, morre a 21 de
abril e todos choramos, e choramos não apenas por Tancredo, choramos
pelo mito criado em cada um de nós, ele era a esperança de um novo
Brasil, seu vice era aquele moço do bigode - José Sarney e com ele veio
a Nova República e uma nova esperança.
E vem o Plano Cruzado, e com ele uma nova
moeda - O Cruzado e novamente o povo ganha as ruas, o país está
congelado e o povo é seu maior fiscal. As donas de casa transformam-se
nas "Fiscais do Sarney". Mas as prateleiras se esvaziam e a euforia
inicial transforma-se em escassez, ágio e inflação.
Mas esse povo é de luta e esperança, e
sabia que em breve haveriam mudanças. A nova constituinte estava por vir
e com ela teriam que vir avanços, novos rumos e uma nova orientação.
E o povo de novo saiu-se vencedor,
promulgou-se a mais democrática de nossas constituições. Nos foram
garantidos direitos individuais e coletivos, os sindicatos são livres e
soberanos. O preconceito racial agora é crime. Novos e modernos direitos
trabalhistas nos foram assegurados. Era o sonho de um novo tempo que se
realizava.
A "CASCATA" DA DINDA - A ERA COLLORIDA
Enquanto isso, em terras das Alagoas, um
jovem político arrebatava corações e opiniões, chamava para si os
destinos e esperanças do país, era mais um filho arrependido da
revolução que pregava idéias modernas, arrojadas, era o destemor em
pessoa, e era um Mauricinho, um esportista, era o "Indiana Jones
Tupiniquim", e era um caçador - caçador de marajás, e ele acaba sendo
eleito Presidente do Brasil.
A vitória conseguida em segundo turno foi
contra uma liderança sindical e trabalhista, de origem operária e
nordestina - Luis Inácio Lula da Silva. Não foi uma vitória das forças
progressistas, mas foi sem dúvida uma vitória da democracia brasileira.
Novo Presidente e novo Plano Econômico -
Vem aí o Plano Collor e com ele um duro programa de estabilização,
confisco monetário, congelamento temporário de preços e salários, nossa
economia é aberta à economia internacional, facilitando a entrada de
mercadorias e capitais estrangeiros no país. Até nossos automóveis são
rebatizados de carroças.
Mas o pior ainda estava por vir, inflação
e recessão retornam à vida nacional e denúncias e mais denúncias de
corrupção passam a figurar nas páginas dos jornais. O povo novamente
ganha as ruas, e com ele um "povo novo" os estudantes que suas caras
pintadas coloriam, tentando descollorir o que nunca foi collorido.
Pressionado, o Congresso Nacional instaura uma CPI e acaba por decretar
o Impeachment do Presidente.
Assume as rédeas do país um mineiro
topetudo, sem vínculos com o regime ditatorial, mal saiamos da república
alagoana e já caímos na república do pão de queijo, era da pacata Juiz
de Fora de onde saíam as decisões políticas e econômicas do país, numa
dessas é indicado o chanceler Fernando Henrique Cardoso para a pasta da
fazenda, e como sempre aconteceu nesses casos, novo ministro, novo
plano, novo pacote, e de novo uma nova moeda. E nasce o Plano Real.
TEMPO DE ESPERANÇA
Com o Plano Real vimos nossa moeda estável
e equiparada ao Dólar. E o povo volta a sorrir, a comprar, a novamente
planejar sua vida. E o que por décadas estávamos lutando estava
conseguindo - Zeramos a inflação.
Com o êxito do Plano Real o candidato do
Mineiro topetudo é eleito Presidente - Fernando Henrique Cardoso - FHC.
Apesar de suas cinco promessas básicas não
estarem sendo cumpridas, o Plano Real lhe garante boa popularidade e
acaba sendo reeleito para um segundo mandato.
Mas não nos parece que esse momento
político seja tão importante quanto as conquistas sociais e estruturais
por que passamos desde o fim de tenebrosos anos de arbítrio. O que nos
tem mais guiado nesses anos é a esperança.
E essa esperança se acentua quando
recordamos Chico Mendes, Betinho e Ayrton Senna com a nossa bandeira
tremulando em mais uma vitória conquistada, e em cada grito de gol, em
cada braço erguido comemorando nosso tetracampeonato de futebol.
E essa esperança nos é oferecida quando
vemos nosso cinema crescendo e correndo mundo afora. O que é isso
Companheiro - O Quatrilho e Central do Brasil.
E essa esperança brilha em cada olhar de
criança, em cada rosto marcado pelo trabalho duro, em cada brasileiro de
cara suada, de cada sem terra, mora a esperança de que um dia florescerá
um novo tempo, se descortinará um novo momento de um novo Brasil. E
teremos alegria e felicidade e teremos enfim um país de verdade.
ANO 2000 VAI-VAI - 70 ANOS
Apesar do carnaval seguir o rumo dos mega
eventos, com fantasias colossais, com alegorias que dependem não só da
parte plástica, mas de toda uma tecnologia para efeitos especiais, não
podemos esquecer nossas tradições, pois são elas que escrevem a história
de nossas vidas.
E com essa alegria queremos que todos
participem desta grande festa comemorando os 70 anos de existência da
nossa querida Vai-Vai.
E que essa energia cresça e se espalhe
pelo país afora e que toda nossa felicidade se irradie por todo o nosso
povo, por toda a nossa gente, por todo o nosso Brasil. Vai-Vai.
70 Anos de Vai-Vai. Brasil 500 Anos!
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