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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.B.C. SÓ VOU SE VOCÊ FOR - CARNAVAL 1996
Enredo: Rio do Amor

O Grêmio Recreativo
Autor: Raul Diniz

 

Amazônia. Amanhece neste continente verde, onde existe a maior fauna, a maior flora, a maior reserva de oxigênio do planeta. Será mesmo que amanhece? As árvores são tão altas e copadas que a luz do sol não penetra até o solo. A claridade não chega onde as plantas rasteiras cobrem o chão.

A grandiosidade da selva e o domínio das águas, das chuvas, das enchentes, predispõe o homem a acreditar nos mitos e nas lendas. É muito difícil penetrar no mundo mágico dos índios, embora já estejam em contato com os civilizados há muito tempo.

Dentro dessa imensidão, o nosso rio do amor rola em prata azulado na floresta, um manso caminho de água, a razão da própria vida, seu sustento e ganha-pão. Ele nasce, toma forma e vem amar com doçura de gigante, o corpo de toda floresta. O rio e a floresta estão se fecham num acordo misterioso. Ouvir este silêncio, a linguagem muda do rio, ou os sons que vêm da mata, é deixar-se tomar por uma estranha magia, por uma calma sentida lá do fundo da alma. Esse respeito você sente também nas pessoas que vivem à sua margem e que lidam com o rio como uma coisa sagrada.

A Amazônia constitui um mar interno, de tamanho descomunal, cercado de extensas e exuberantes terras. De infinito, a Planície se perdia no horizonte. O Sol dava luz e calor àquele mundo perdido, favorecendo a fertilidade e a vida. A Lua dava orvalho e era mãe protetora de pessoas, animais, plantas e coisas. No exercício de seu domínio sobre aquelas brenhas sem fim acabou nascendo um profundo amor entre os astros, levando-os a um projeto de união matrimonial. Contudo para que isso acontecesse, teriam eles que abandonar sua trajetória celestial e estabelecer-se no mundo terreno. Kanaxiwé alertou que essa atitude tresloucada redundaria em uma desgraça: a destruição daquele cálido paraíso. O Sol queimaria a floresta e a Lua abandonaria ao desalento e à morte todas as coisas existentes. O orvalho apagaria o fogo; o fogo evaporaria a água. Seria o fim de tudo.

Frustrados de seu sonho conjugal, os astros passaram a se encontrar furtivamente para o lado do poente, aonde o Sol costumava espiar refulgente a cada final de seu trajeto diurno. Certo dia, Kanaxiwé descobriu o delito de seus pupilos celestiais. Enfureceu-se e decidiu empreender algumas transformações no mundo selvagem. Um cataclisma sacudiu tudo. Um barulho ensurdecedor ecoou por baixo e por cima da terra, do céu e das águas. Todo o sertão se abalou, como se estivesse solto no espaço. Os animais fugiram. As pessoas desapareceram, ou correndo de medo ou engolidos pela fúria telúrica. Montanhas descomunais levantaram-se pelo lado do dormitório solar, subindo para o céu e vomitando fogo. O mar interno agitou-se com ondas gigantescas, para em seguida, secar. Depois, uma floresta luxuriante cobriu toda a Planície. O Sol foi afastado para bem longe, prosseguindo em sua balística celestial. A Lua apaixonada continuou procurando reencontrar o nicho saudoso de seu amor inesquecível. Subiu a montanha gelada. Nunca mais encontrou o Sol, o seu amante, desterrado por Kanaxiwé. Desesperada, caiu em pranto. Suas lágrimas se avolumaram, serpentearam pelas encostas e depois caíram preguiçosas na planura. Chuvas torrenciais engrossaram a torrente. O caudal dirigiu-se para o nascente, forçando uma saída para a Água Grande. Formou-se, então, um rio de lágrimas, que os índios da grande nação Waimiri-Atroari, ainda hoje chama de "aiakámaé" e quer dizer Rio do Amor. É o Rio Amazonas

Lenda que alude ao cataclismo

que deu origem ao levantamento dos Andes

e a formação da Planície Amazônica.

 


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