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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
A.C.E.S. UNIDOS DE TAIPAS - CARNAVAL 1995
Enredo: Origens do Carnaval em Azul e Branco Ilumina a Passarela

O Grêmio Recreativo
Autor:

 

Há quem afirme que as origens do carnaval são encontradas uns 10.000 anos antes de Cristo. Velhos textos declaram que ele teve sua origem no culto agrário praticado pelos povos da antiguidade; homens e mulheres mascarados, com corpos e caras tisnado, cobertos de peles ou plumas, saíam em bandos, constituindo estranhos cortejos que invadiam as casas numa terrível algazarra, gritando: "afastai-vos demônios".

Outros autores fazem o carnaval nascer nas festas alegres do paganismo com a de Ísis e do Boi Ápis entre os egípcios; outros ainda encontram-no entre os Hebreus e nas bacanais, lupercais e saturnais de Roma. Em Suetônia, encontramos a descrição do que ocorria em Roma durante as saturnais, toda gente perdia a cabeça, homens, mulheres, crianças e velhos, libertos e até mesmo escravos pareciam enlouquecer. Em frente das casas armavam-se grandes mesas e todos, sem distinção podiam comer à vontade. O comércio fechava, os tribunais não funcionavam, as escolas cerravam suas portas. Época de tanta alegria e desvario que nela até os escravos podiam dizer verdades aos seus Senhores, ridicularizá-los, fazer o que desejassem.

Não se encontrava verdadeiramente estabelecido o carnaval em sua esfera especial e dominante até a época em que começaram a celebrar-se as festas romanas denominadas saturnais. Estas, pela sua desenfreada libertinagem e pelos cínicos palhaçados, perpetuaram no caráter e nas inclinações dos povos essa paixão inveterada, essa propensão até certo ponto orgânica das desordens anuais que certas solenidades parecem imperiosamente incitar, diz uma enciclopédia. O carnaval teve como berço não as festas das antiguidade, mas as da Idade Média afirmam certos autores, mas que importam essas origens se o carnaval foi sempre a festa de todas as alegrias, risos, brincadeiras, danças? As variadas origens atribuídas ao carnaval levam-nos apenas a certeza de que, festa pagã ou religiosa sempre existiu na história da humanidade, um determinado momento escolhido pelos homens para expandir maior alegria, para rir, cantar e pular mais livremente.

Ele é encantado de formas diversas nos mais diferentes países e épocas; entre os gregos, nas festas consagradas a Dionísio; em Roma a divindade egípcia Isis; entre os teutões, a Deusa Herta ou Nerta a "Terra Mãe" sempre existiu com músicas barulhentas, danças, máscaras, licenciosidade veio do paganismo à Igreja Católica, se não o adotou, tolerou-o e regularizou-o alguns países pais da Igreja como Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria ou o Papa Inocêncio II, foram inimigos do carnaval, mas o Papa Paulo II no século XV, preocupou-se tanto porque a Via Lata, que desembocava em frente ao seu Palácio permanecia silenciosa e deserta durante o ano todo, que conseguiu fazer com que as festas do carnaval romano tivessem como sede principal aquela rua, corrida de cavalos, carros alegóricos, confetes, uma extraordinária luminária de tocos de vela molcoltti e mais a corrida de corcundas, o lançamento de ovos e etc... o carnaval que divertiu os romanos durante quatro séculos tinha como cenário a Via Lata.

O carnaval do paganismo foi adotado pelo mundo católico com pequenas modificações, se bem que guardando seus traços característicos sempre e em todas as épocas, as danças e os disfarces. Na Grécia e na Roma Antiga saiam preditos com pessoas mascaradas e um formidável carro, parecido com um barco, puxado por cavalos enfeitados levava em seu bojo mulheres nuas e homens que cantavam canções umpudicas; Era o carro novallis.

Na Espanha da Idade Média, durante o carnaval, realizavam-se batalhas de flores; na Alemanha, na Rússia e na França da Era Napoleônica, o carnaval teve importante papel nas intrigas da Corte, na política e nos negócios. Dizem mesmo que Napoleão mais de uma vez mascarou-se demonstrando gostar não apenas dos divertimentos carnavalescos, mas das surpresas ocasionadas pelas mascaradas.

O carnaval em Veneza durante séculos forneceu matérias para muitas formas literárias do drama ao sainete, passando como diz a Morales de Los Rios pela nobilíssima ópera, foi menos dissoluto do que o da antiguidade o carnaval da Idade Média, época em que se salientavam as festas dos inocentes e dos doidos, que não eram mais do que formas diversas dos mesmos festejos. Na Idade Média, começaram os bailes de máscaras, que fizeram furor na França, realizando-se três vezes por semana a partir de 1º de novembro, e foram afinal proibidos porque, num deles, Carlos VI, fantasiado de urso, sofreu um atentado.

No século XV e XVI, a Itália criou a moda das mascaradas públicas enquanto faziam sucesso os bailes da Ópera em Paris.

A Morales de Los Rios, em longos artigos sobre carnavais a que assistiu em vários países do mundo, diz que o carnaval substituiu mesmo através e depois da Revolução Francesa, tendo até um verdadeiro renascimento sob o período literário do romantismo entre 1830 e 1850 comenta ele. Byran dava as suas preferências ao carnaval de Veneza; Goethe cantou o carnaval de Roma. O carnaval Fluminense parece ser hoje o que resume todos os outros, e talvez Byron e Goethe, se o pudessem conhecer, ficassem de acordo com as suas preferências.

Num desses artigos, Morales de Los Rios lembra o grande baile de máscaras promovido pelo instituto real de pintores e aquarelistas em 1884, em Londres, festas em que todos os artistas ingleses se fantasiavam com máscaras de seus mestres gloriosos do passado ou com a de príncipes e monarcas amigos dos artistas.

No fim do século XV e começo do século XX, quase desapareceu o carnaval na Europa. Hoje se fala apenas no de Nice, com seus desfiles, corso, bailes e música, a canção do carnaval é apenas uma mudança todos os anos, e não é um delírio coletivo, uma alegria e multidões, é mais um divertimento para um grupo, enquanto centenas de pessoas assistem, compartilhando como aconteceu neste ano de 1957 apenas batalhas de confete.

Morre o carnaval na Europa, ela que já possui os mais belos de Mundo: Veneza, Munique, Roma, Colônia e posteriormente, Nápoles e Florença.

E a palavra carnaval de onde vem ela do covium novalis com o qual os romanos abriam seus festejos, dizem uns. Vem de caro-vale ou adeus à carne pois que ele marca o início da quaresma cristã, afirmam outros. Luiz da Câmara Cascudo acha que a lição mais idônea é contida do verbete que Adoufo Coelho escreveu no dicionário de Frei Domingos Vieira: Carnaval; s.m. do italiano carno a vale o dialeto milânes tem caenelevante do baixo latim carnelevamen de caro, carne e levamem ação de tirar assim pois tempo em que se tira o urso da carne, pois carnaval é propriamente a noite antes da quarta-feira de cinzas.

Esta etimologia que é dada por lithe, põe de lado a mais antiga.

Segundo a qual a palavra vale e o milânes carne-vale tira as dúvidas quanto ao som, tempo de divertimento que varia de extensão segundo os países, mas que começa sempre depois do primeiro dia do ano e acaba na véspera da quarta-feira de cinzas.

Deixemos aos outros a discussão sobre a origem da palavra carnaval e continuemos apenas viajando em torno de fatos. Remexendo carnavais de outras eras e passando rapidamente pelos carnavais de outros países, até chegarmos ao nosso o único que realmente interessa a este livro, se bem que ele tenha recebido daquelas muitas influências.

Inicialmente as festas carnavalescas começaram em 25 de dezembro envolviam as comemorações de Natal, Ano Novo e Epifania. Depois seu período foi marcado pela Páscoa dos Católicos. Sabemos que o domingo de páscoa deve cair sempre entre 22 de março e 25 de abril. Fica assim explicado o motivo pelo qual a folia carnavalesca ora cai em fevereiro, ora em março.

E o carnaval português? O que trouxeram os colonizadores como festejos de Momo para a nossa terra? Ninguém melhor que um português para falar de seu carnaval, pelo que reproduza trecho de um artigo de Júlio Dantas, publicado na Gazeta de Notícias em 21 de fevereiro de 1909.

Nós, portugueses, nunca compreendemos que o entrudo pudesse ser uma festa dárte como na Itália da Renascença, ou uma festa de espírito como na França de Luiz XIV, o nosso entrudo, o santo entrudo lisboeta, foi sempre fundamental e caracterizadamente parco.

O século XVII, então, exedeu todos os outros. Foi no século típico do entrudo nacional. Depois de uma melancólica descrição dos três dias solene em que a velha Lisboa de 1.700 dizia o tradicional "Adeus a Carne" toda a máfia baixa das vielas e das alfujas passando pelas fregonas, os devassos, os circumpectos e até os próprios fidalguinhos peraltas, todos com a casaca de seda a escorrer ovos, a cara empastada de sangue e lama, cobertos das maiores imundices e dos mais sórdidos desejos, corriam as ruas debaixo da saraivada dos pós das panelas, das laranjas de cheiro, da farinha, dos esguichos, dos ovos de gema, de toda a água que jorrava das rótulas estreitas e dos poatigios mouriscos, diz Júlio Dantas que no meio de todo esse carnaval de miséria e sordidez não se via uma única máscara. As máscaras haviam sido proibidas pelo governo por um alvará de agosto de 1689.

Ainda a mais, justamente no séclo XVII, que fez do entrudo uma ópera; digo uma Obra de Arte, quando Arlequim perdurara o seu manto multicor pelos muros de Veneza e Florença, quando o próprio nariz vermelho de polichinelo se metia pelas tapeçarias do Vaticano, o velho sant'entrudo português surgia apenas boçal, imundo, desordeiro e criminoso, ao tempo em que a regência ordenava os bailes de máscaras, em que a ópera instituía os Aprés Souper, em que Versailles se iluminava para receber Pierrô, D. João V, piedosamente tocado pela devassidão do carnaval do povo de Roma, para a Capela Real, o jubileu das quarenta horas, e enquanto a plebe bêbada, coberta de lama e de farrapos dançava, ecouceava, grunhia obscenidades pelas vielas, erguia-se em São Roque uma pirâmide dourada, estrelada de lumes, a Consagração de Nossa Senhora da Doutrina, D. João V, impotente para fazer do entrudo uma festa de arte, converteu-o em ultimo recurso, numa festa de religião.

Nas grandes casas (o carnaval) era um pretexto para se comer melhor, dos conventos choviam bolos, o velho Marquês de Marinalva, degenerado e guloso, esvaziava enormes canjirões de prata e fazia se seguir de bandos da crianças mascaradas de anjos, os Marqueses de Gouveia faziam andar o pobre Penharanda (o escravo negro) de gatinhas, a roda de um salão, vestido de verde e com grandes bigodes postiços.

Conta-nos Júlio Dantas que o primeiro baile de mascaras realizado em Lisboa foi dado pelo Embaixador da Espanha em 1785, para comemorar o casamento de Carlota Joaquina. Mas um dia veio Pina Manique, cão de guarda do antigo regime, abraçado ao código de polícia de Luiz XIV e ao tratado de polícia de Willebrand e proibiu o entrudo, as máscaras, assim como prendeu o livreiro Dubia por vender Rousseau.

Para robustecer essa descrição Júlio Dantas, há esta notícia na Enciclopédia Portuguesa Brasileira: Pelas ruas (em Portugal) generalizava-se uma verdadeira luta em que as armas eram ovos de gema, ou suas cascas contendo farinha ou gesso, cartuchos de pós de goma, cabaças de ceras com água de cheiro, tremoços, tudo de vidro ou de cartão para soprar com violência milho e feijão que se despejavam nos alqueires sobre as cabeças dos transeuntes, havia ainda as luvas com areia destinadas a cair dechofre sobre os chapéus altosos de coco dos passantes poucos previdentes, e até se jogava entrudo com laranjas, tangerina e mesmo com pastéis de nata e outros bolos. Em tachos de barro e alguidares já em desuso, como depois se fez também no último dia do ano, no intuito de acabar com tudo velho que haja em casa. Também se usavam nos velhos entrudos portugueses a vassourada, as bordoadas com colheres de pau, etc... nos fins do século XIX, Lisboa e Porto quiseram civilizar o entrudo e começaram a aparecer pelas ruas, além do avinhado ché-ché da capital e do Zé Nabo do Norte e dos pseudoacrobatas das danças de lutas das Cegadas e das paródias e das carroças de José Augusto, pregados de sermões chocarreiros, algumas mascaradas vistosas e interessantes, como em Lisboa as Clubes de Salsas, composta pelos sócios do Clube Tauronaquático e do Clube Turfe. Destacaram-se então como inovação a garbosa (batalhões) populares da ajuda, alfama e campo de ourique, as batalhas de flores, de carros ornamentais e o carnaval do Porto, organizado pelo Clube dos Fenianos, com um esplendido cortejo de carros alegóricos e aparatosa cavalgada.

Na primeira metade do século XX, o carnaval quase se limita a exibição de crianças mascaradas e aos folguedos nos teatros e cinemas. Foi esse entrudo português trazido pelos colonizadores e por eles aqui implantado que durante três séculos imperou em nosso país, nesta cidade. Com ele começamos os festejos de Momo, e não apenas nós, mas também todos os povos da América Espanhola, pois que as calamidades do entrudo "porco brutal" eram comuns à Península Ibérica.

 


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