O Teatro
Real e próprio nasceu há cerca de 2500 anos, suas origens perdem-se na
noite dos tempos; como nos é possível verificar, em certas brincadeiras
de crianças, que, geralmente, gostam de improvisar-se atores, o "sendo
do teatro", isto é, o desejo de livrar-se de quando em quando nas asas
da fantasia e de olvidar, momentaneamente, a rotina diária, para
personificar ou assistir a peripécias incomuns, é inato do homem.
Este senso
instintivo de recitar e de representar, mediante gestos, palavras e
disfarces, de uma realidade que não é comum, induziu os homens
primitivos, desde a Idade Paleolítica, a envergar máscaras e
travestir-se para recitar rudimentares salmodias danças, e, mais tarde,
esboços de diálogos, por ocasiões de determinados acontecimentos assaz
importantes para a tribo. Envergando as máscaras, eles achavam e
acreditavam estarem travestidos, bem como, ingenuamente, tinham a
certeza, que as divindades para as quais as máscaras, os tornavam
parecidos tinham entrado em seus corpos. No Antigo Egito, lá pelo
terceiro milênio a.C., já existiam, de maneira bem evoluída,
representações dessa natureza, as quais, pelo que pudemos saber, eram
recitadas nos templos estreitamente ligados à celebração dos mistérios
litúrgicos e escritas e ensaiadas por um encarregado especial.
Como exemplo
fiel dessa representação temos as máscaras de falcão, figurando a
divindade solar Hor, irmão de Osíris. O teatro clássico, de que foi
herdeiro nosso teatro de prosa (drama e comédia), nasceu na Grécia, no
século V a.C. Tragédias e comédias eram celebradas em honra a Dionísio,
deus da fertilidade. Assim, do teatro como rito passou-se ao teatro como
passatempo; e tudo quanto era novidade na Roma dos Césares derivava do
gosto grego. Dessa forma, nasceu uma literatura teatral de importação.
Depois de algumas importações, deu-se início a um teatro que apresentava
cenas da vida romana, introduzidas na Urbe, por atores campânios e
etruscos: e a "atellana" era uma espécie de farsa com entrecho
romanceado (fábula), recitada por atores mascarados, que personificavam
tipos fixos (algo parecido com Polinchinelo e Pantalão). Mas, também,
fora de Roma, começou florescer em outros países, novos tipos e estilos
de espetáculos teatrais.
No Antigo
México, grandes espetáculos eram organizados em honra do Deus
Quetzacoalt, que eram também comuns entre os Maias e os Astecas. Eram
espetáculos grotescos, com jograis, bailarinos e mimos disfarçados com
máscaras de animais. Também na China, o teatro durante o período, que na
Europa era chamado de Idade Média, alcançou altíssimo, nível, seja pelo
argumento dos espetáculos, seja pelo luxo de seu guarda roupa ou
qualidade de suas máscaras, cada vez mais representativas. Importado da
China, o teatro atingiu no Japão, grande destaque, principalmente o
teatro do gênero dramático e trágico, onde os atores usavam máscaras,
para melhor expressar seus sentimentos.
Sob o
aspecto "expressão artesanal" através de máscaras, temos que ressaltar
com real valor as máscaras, usadas em rituais de canto e dança, tanto
dos povos africanos, como dos índios brasileiros. Sem sombra de dúvida
com potencial artístico, tanto pelo seu lado primitivista, como pelo seu
simbolismo regional, traduzindo os mais variados aspectos e expressões
de sentimentos da vida humana. Entretanto, embora a arte do teatro
atravesse milênios, existe uma forma de expressão através da máscara,
que não tem pátria, ela é cidadã do mundo, ela é um raio de luz da
esperança que ilumina os picadeiros da vida, ela é a mãe da alegria, ela
é sua excelência a máscara do palhaço, filósofo maior da psicologia sem
idades. Todavia, as máscaras, tiveram sua expressão maior no carnaval de
Veneza, cuja característica principal são as máscaras de criatividade e
expressões incomparáveis. O carnaval de Veneza tem antigas origens,
ressalta a vitória vienense sobre Ulrich, patriarca de Aquiléia.
Tratava-se de uma grande festa popular que culminava numa celebração
suntuosa; a quinta feira gorda, quando na presença do Doge, a corporação
dos sanguinários (matadores ou toureiros), sacrificavam na praça um
touro e doze leitões, representando a origem de Aquiléia e suas regras.
O carnaval que em anos recentes retornou a Veneza por força do
esquecimento, retornou à sua origem mas, não perdeu o significado de
grande festa popular, com seu carisma e irreverência.
Entretanto,
não é só o carnaval de Veneza, que mantém viva a tradição de festa
popular, repleta de carisma e irreverência. Nosso carnaval das sempre
queridas escolas de samba, também mantém viva, a tradição da maior festa
popular do mundo, num verdadeiro teatro ambulante, repleto de fascínio,
de luzes, cores, que traz guardados através de suas máscaras e de suas
lágrimas, os símbolos maiores do carnaval; na mais fiel interpretação
dos segredos apaixonantes d'uma alcova; Pierrot, Colombina e Arlequim.
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