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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.B.C.E.S. COBRAS DO BUTANTÃ - CARNAVAL 1995
Enredo: São Paulo, Berço dos Imigrantes

O Grêmio Recreativo
Autoras: Cristiane de Oliveira e Rosimeire A. Geraldo

 

BOM RETIRO

Do Bom Retiro das várzeas e de quando se pescava nos rios Tietê e Tamanduateí, sobraram apenas algumas casas como lembranças.

Hoje, quase 700 mil pessoas cruzam suas ruas cada dia, entre sinagogas, igrejas e escolas, produzindo cerca de 35 toneladas de lixo que são religiosamente recolhidas após o cerramento das portas de seus inúmeros bares (sempre pequenos e simples), e dos restaurantes modestos a serviço dos comerciantes e principalmente quando descem as portas das suas numerosas casas comerciais. O bairro Bom Retiro mudou muito nas últimas décadas. Do perfil dos seus habitantes à qualidade de seu comércio, que se desenvolve em pequenas e escuras lojas acotoveladas nas ruas, José Paulino e 25 de Março, ruas essas que resistiram firmes e lucrativas vencendo todas as mudanças sofridas pela região. Quem não as conhece como o grande centro atacadista de tecidos, confecções e armarinhos?

O Bom Retiro aprendeu esse comércio com os árabes. De início com a família Jafet que aqui chegou em 1896, passando a ser pólo aglutinador dos compatriotas que seguiam seu exemplo. Os imigrantes recebiam alguns metros de tecidos para vender ou confeccionar e em pouco tempo a Rua de Baixo (atual 25 de Março), já assistia a abertura de novas lojas. Noventa anos depois, apenas uns poucos recordam antigas histórias daqueles árabes, seu jogo de gamão, e das reuniões ao som de alaúdes, tamboretes e atabaques após dia de trabalho. Sérios foram aqueles jovens árabes solteiros que, desses encontros sociais, tiveram a idéia de fundar três dos grandes clubes de São Paulo: Clube Homs, Esporte Clube Spéria e Clube Atlético Monte Líbano. Mas o bairro de hoje, é também síntese do que ocorreu depois de 1930, quando muitas famílias árabes, ou porque enriqueceram, ou espantadas pela prostituição crescente na região, começaram a abandonar a cena. Atualmente nas antigas lojas estão instaladas família de imigrantes judeus, italianos e gregos, acossados nos últimos anos pelos coreanos, exímios fabricantes de tecidos e confeccionadores, além de agressivos comerciantes.

O Bom Retiro tem uma história muito rica. E na região, há ainda o vizinho bairro do Pari, também povoado por notáveis imigrantes com suas lojas especializadas em roupas de noivas, madrinhas e padrinhos de casamento, lojas essas em sua grande maioria situadas na Rua São Caetano.

BRÁS

Porta de entrada à populosa Zona Leste do Município de São Paulo, o Brás atual reúne pequenas e médias indústrias de confecções (Ruas Oriente e Maria Marcelina), lojas de peças e acessórios para automóveis e ferros-velho (Rua Piratininga), comércio varejista, pequenos hotéis e pensões (nas proximidades da Estação Roosevelt e Hospedário dos Imigrantes) e Centro Comercial na Av. Rangel Pestana. Serenatas e tarantelas, deram lugar à capoeira, baiões e forrós. Os italianos se foram quase por completo, ficando os nordestinos. As cores das casas comerciais e das propagandas são mais berrantes: rosa, vermelha e amarela são preferidas. Apesar de todas as mudanças, muitas coisas daquele tempo podem ser imaginadas com alguma facilidade.

Onde hoje é o imenso terminal rodoviário do Parque D. Pedro II, era o antigo Parque do Lazer, o IPART (Departamento de Informações e Documentos Artísticos), se instalou no antigo prédio São Paulo, a antiga estação ferroviária Roosevelt, era a Estação do Norte por onde passavam pobres imigrantes de grandes companhias de teatro e ópera. Na antiga hospedaria dos Imigrantes, 2000 pessoas podiam ficar por 8 dias e 8 noites às custas do governo brasileiro, é onde hoje fica o bem montado Museu do Hospedário do Imigrante. Mas o Brás não esqueceu a Festa de São Vito Martire e a de Nossa Senhora de Casaluse.

Na década de 20, instalaram-se duas indústrias: a da família Matarazzo e a da Antártica. E verdadeiras batalhas campais aconteceram geradas pelas grandes greves dirigidas pelos anarquistas.

A origem do nome do Bairro nos remonta à segunda metade do século XVIII, quando da construção da Igreja do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, graças a João Brás (daí o nome do Bairro). A história do bairro é também marcada por tristes acontecimentos como as epidemias de tétano, varíola, crupe e as secas que causaram muitas mortes. As desgraças, entretanto, jamais venceram a imbatível alegria dos italianos.

O futebol teve seu berço num campo de várzea do Brás. Trazido pelos ingleses, o primeiro jogo no país, entre a companhia inglesa e a empresa de gás, aconteceu na Várzea do Carmo entre as Ruas do Gasômetro e Santa Rosa. As serenatas e tarantelas jamais deixaram a cena da segunda metade do século passado. Mais tarde os italianos, com poder aquisitivo maior, conseqüência do sucesso comercial e industrial inaugurado em 1878, começaram a se deslocar para os bairros do Pari, Alto da Mooca, e para a Zona Sul de São Paulo. De 1920 à 1970, foi registrada gradativa queda no número de habitantes, os números são: em 1920, 66.830; em 1960, 63.974 e em 1970, 62.480. Isso apesar do grande afluxo de nordestinos à procura de trabalho e moradia.

Entre as pequenas lojas de roupas, as de eletrodomésticos e as de quinquilharias, estão os conhecidos sanfoneiros e violeiros ensaiando músicas nordestinas para afugentar a falta de trabalho, sempre nas proximidades da Estação Roosevelt, antiga Estação do Norte.

BEXIGA

O Bexiga é formado de saudade, noite, comida e palco. Um quarteto perceptível quando a alegria se faz acompanhar da descontração. O Bexiga mais do que um bairro, é uma instituição. Um tanto desorganizada, um tanto subjetiva, mas com uma área própria de atuação, cujo centro é a Rua Treze de Maio. A Treze de Maio é o habitat de um dos componentes do quarteto. Nela se agrupam dezenas de cantinas e pizzarias, é uma das maiores concentrações desse gênero no Brasil. Algumas quase centenárias, outras, famosas pela qualidade da comida. Por conta da atração exercida pela rua, nas proximidades se instalaram também churrascarias e restaurantes que servem comidas típicas, comidas regionais, peixes e frutos do mar, mas são as antigas pizzarias a causa maior do grande movimento de paulistanos e turistas. Esses estabelecimentos são geralmente simples, com atencioso serviço e atendimento familiar. Os cafés, muito simpáticos e descontraídos, em geral oferecem boa música ao vivo. Há muita agitação nos fins de semanas, e uma freqüência marcadamente jovem. São ambientes pequenos, muito apreciados pelos moradores para conversas despreocupadas.

A agitação noturna possui: boates, bares, karaokês, casas de samba, cafés com pistas dançantes, etc. E todos esses locais são muito procurados. Além da música ao vivo e espetáculos de variedades que incluem cantores, humoristas, mágicos e outras atrações, o Bexiga tem também a maior concentração de teatros de São Paulo. Estão espalhados por todo o bairro e incluindo o moderno Teatro Sérgio Cardoso. o Teatro Brasileiro de Comédia, que entre os anos 40 e 50 renovou a arte cênica brasileira, assim como o Oficina, também no Bexiga, na década de 60.

Não obstante tão ricos atrativos, o bairro cultiva muitas saudades, porque a história vive na memória dos seus habitantes. Outra vítima da urbanização desenfreada e desorganizada de São Paulo, apesar dos esforços de seus moradores, caíram e continuam caindo as velhas construções, e outras acabarão transformadas em cortiços. Há entretanto, um Bexiga rico. A área que se aproxima dos jardins, é onde está um dos hotéis mais suntuosos do Brasil, o Maksud Plaza.

O nome oficial do Bairro é Bela Vista, mas seja porque houve uma epidemia de varíola, seja porque no matadouro ali existente fazia-se o comércio de bexigas de boi, seja porque esse era o sobrenome do antigo proprietário das terras, é por Bexiga que se conhece o bairro e com esse nome foi contado pelo escritor Antonio Alcântara Machado (Cronista dos Imigrantes), "Brás, Bexiga e Barra Funda".

Depois de ser o bairro dos escravos libertos e dos portugueses pobres, tornou-se o bairro dos imigrantes italianos, especialmente calabreses, chegados desde o final do século passado. À luz dos lampiões a gás, eles faziam as suas serenatas, comiam seus pães e bebiam seus vinhos, depois de um árduo dia de trabalho nas indústrias nascentes. Surgiam os primeiros prédios, sobrados e mansões. Os mestres pedreiros italianos, riscavam no próprio chão as plantas dos, hoje, velhos e decadentes sobrados e das casas estreitas e compridas espalhadas por suas estreitas e tortuosas ruas. Ruas por onde caminham ainda hoje velhos moradores, em direção à Igreja de Nossa Senhora Acheropita e às padarias Basilicato, São Domingos e 14 de Julho, sobreviventes de décadas de história do Bexiga e de São Paulo.

Procurando preservar sua identidade, os moradores instalaram museus memoriais do Bexiga e continuam promovendo festas tradicionais. Em agosto, todos os sábados e domingos na Rua Treze de Maio, entre às 19 e às 24 horas, faz-se a festa de Nossa Senhora Acheropita. Há muita dança, cantos típicos, comida e procissão. No dia 19 de março, é comemorada a festa de São José com pratos típicos, vinho e música. Tem sede no Bairro a Escola de Samba Vai-Vai (1930) e o Bloco dos Esfarrapados (1947), além da Feirinha do Bexiga.

LIBERDADE

Há 40 anos, ao mesmo tempo em que numa rua do Bairro da Liberdade era inaugurado o Cine Niterói, que só exibia filmes japoneses. Boa parte da colônia já se estabelecia no Bairro. Hoje, toda a área limitada pela Av. Liberdade, Praça João Mendes, Parque D. Pedro II e Baixada do Glicério, é dominada pelos nisseis e sanseis, filhos e netos de imigrantes dedicados ao comércio de produtos orientais. Alias, atividade também dos habitantes mais recentes: coreanos e chineses.

Além das lojas de produtos importados, de confecções, de produtos naturais e macrobióticos, há bares e casas noturnas típicas, restaurantes de cozinha japonesa, chinesa e coreana. O ponto central do bairro é a Av. Galvão Bueno. Iluminado à moda antiga japonesa e embelezado com tom espécie de pórtico que no Japão tem a poética finalidade de servir de pouso a rouxinóis, o bairro conta também com o Museu da Imigração Japonesa, além de jardins de estilo oriental (Galvão Bueno e Largo da Pólvora).

Na Praça da Liberdade, são realizadas festas típicas muito apreciadas pela população da cidade. Em abril é o Hana Matsuri (Festa da Flor, na semana do dia 8, data do nascimento de Buda), no segundo fim de semana de junho, a Sanabota (Festa da Estrela), ambas com danças e cantos populares japoneses; e no último dia do ano, a do Moletsuki, quando ocorre a distribuição de bolinhos de arroz, após sua fabricação artesanal em pilão. Todos os domingos a tarde acontece a Feira da Liberdade, ainda na mesma Praça, com venda de artesanato e comida típica.

 


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