BOM
RETIRO
Do Bom
Retiro das várzeas e de quando se pescava nos rios Tietê e Tamanduateí,
sobraram apenas algumas casas como lembranças.
Hoje, quase
700 mil pessoas cruzam suas ruas cada dia, entre sinagogas, igrejas e
escolas, produzindo cerca de 35 toneladas de lixo que são religiosamente
recolhidas após o cerramento das portas de seus inúmeros bares (sempre
pequenos e simples), e dos restaurantes modestos a serviço dos
comerciantes e principalmente quando descem as portas das suas numerosas
casas comerciais. O bairro Bom Retiro mudou muito nas últimas décadas.
Do perfil dos seus habitantes à qualidade de seu comércio, que se
desenvolve em pequenas e escuras lojas acotoveladas nas ruas, José
Paulino e 25 de Março, ruas essas que resistiram firmes e lucrativas
vencendo todas as mudanças sofridas pela região. Quem não as conhece
como o grande centro atacadista de tecidos, confecções e armarinhos?
O Bom Retiro
aprendeu esse comércio com os árabes. De início com a família Jafet que
aqui chegou em 1896, passando a ser pólo aglutinador dos compatriotas
que seguiam seu exemplo. Os imigrantes recebiam alguns metros de tecidos
para vender ou confeccionar e em pouco tempo a Rua de Baixo (atual 25 de
Março), já assistia a abertura de novas lojas. Noventa anos depois,
apenas uns poucos recordam antigas histórias daqueles árabes, seu jogo
de gamão, e das reuniões ao som de alaúdes, tamboretes e atabaques após
dia de trabalho. Sérios foram aqueles jovens árabes solteiros que,
desses encontros sociais, tiveram a idéia de fundar três dos grandes
clubes de São Paulo: Clube Homs, Esporte Clube Spéria e Clube Atlético
Monte Líbano. Mas o bairro de hoje, é também síntese do que ocorreu
depois de 1930, quando muitas famílias árabes, ou porque enriqueceram,
ou espantadas pela prostituição crescente na região, começaram a
abandonar a cena. Atualmente nas antigas lojas estão instaladas família
de imigrantes judeus, italianos e gregos, acossados nos últimos anos
pelos coreanos, exímios fabricantes de tecidos e confeccionadores, além
de agressivos comerciantes.
O Bom Retiro
tem uma história muito rica. E na região, há ainda o vizinho bairro do
Pari, também povoado por notáveis imigrantes com suas lojas
especializadas em roupas de noivas, madrinhas e padrinhos de casamento,
lojas essas em sua grande maioria situadas na Rua São Caetano.
BRÁS
Porta de
entrada à populosa Zona Leste do Município de São Paulo, o Brás atual
reúne pequenas e médias indústrias de confecções (Ruas Oriente e Maria
Marcelina), lojas de peças e acessórios para automóveis e ferros-velho
(Rua Piratininga), comércio varejista, pequenos hotéis e pensões (nas
proximidades da Estação Roosevelt e Hospedário dos Imigrantes) e Centro
Comercial na Av. Rangel Pestana. Serenatas e tarantelas, deram lugar à
capoeira, baiões e forrós. Os italianos se foram quase por completo,
ficando os nordestinos. As cores das casas comerciais e das propagandas
são mais berrantes: rosa, vermelha e amarela são preferidas. Apesar de
todas as mudanças, muitas coisas daquele tempo podem ser imaginadas com
alguma facilidade.
Onde hoje é
o imenso terminal rodoviário do Parque D. Pedro II, era o antigo Parque
do Lazer, o IPART (Departamento de Informações e Documentos Artísticos),
se instalou no antigo prédio São Paulo, a antiga estação ferroviária
Roosevelt, era a Estação do Norte por onde passavam pobres imigrantes de
grandes companhias de teatro e ópera. Na antiga hospedaria dos
Imigrantes, 2000 pessoas podiam ficar por 8 dias e 8 noites às custas do
governo brasileiro, é onde hoje fica o bem montado Museu do Hospedário
do Imigrante. Mas o Brás não esqueceu a Festa de São Vito Martire e a de
Nossa Senhora de Casaluse.
Na década de
20, instalaram-se duas indústrias: a da família Matarazzo e a da
Antártica. E verdadeiras batalhas campais aconteceram geradas pelas
grandes greves dirigidas pelos anarquistas.
A origem do
nome do Bairro nos remonta à segunda metade do século XVIII, quando da
construção da Igreja do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, graças a João
Brás (daí o nome do Bairro). A história do bairro é também marcada por
tristes acontecimentos como as epidemias de tétano, varíola, crupe e as
secas que causaram muitas mortes. As desgraças, entretanto, jamais
venceram a imbatível alegria dos italianos.
O futebol
teve seu berço num campo de várzea do Brás. Trazido pelos ingleses, o
primeiro jogo no país, entre a companhia inglesa e a empresa de gás,
aconteceu na Várzea do Carmo entre as Ruas do Gasômetro e Santa Rosa. As
serenatas e tarantelas jamais deixaram a cena da segunda metade do
século passado. Mais tarde os italianos, com poder aquisitivo maior,
conseqüência do sucesso comercial e industrial inaugurado em 1878,
começaram a se deslocar para os bairros do Pari, Alto da Mooca, e para a
Zona Sul de São Paulo. De 1920 à 1970, foi registrada gradativa queda no
número de habitantes, os números são: em 1920, 66.830; em 1960, 63.974 e
em 1970, 62.480. Isso apesar do grande afluxo de nordestinos à procura
de trabalho e moradia.
Entre as
pequenas lojas de roupas, as de eletrodomésticos e as de quinquilharias,
estão os conhecidos sanfoneiros e violeiros ensaiando músicas
nordestinas para afugentar a falta de trabalho, sempre nas proximidades
da Estação Roosevelt, antiga Estação do Norte.
BEXIGA
O Bexiga é
formado de saudade, noite, comida e palco. Um quarteto perceptível
quando a alegria se faz acompanhar da descontração. O Bexiga mais do que
um bairro, é uma instituição. Um tanto desorganizada, um tanto
subjetiva, mas com uma área própria de atuação, cujo centro é a Rua
Treze de Maio. A Treze de Maio é o habitat de um dos componentes do
quarteto. Nela se agrupam dezenas de cantinas e pizzarias, é uma das
maiores concentrações desse gênero no Brasil. Algumas quase centenárias,
outras, famosas pela qualidade da comida. Por conta da atração exercida
pela rua, nas proximidades se instalaram também churrascarias e
restaurantes que servem comidas típicas, comidas regionais, peixes e
frutos do mar, mas são as antigas pizzarias a causa maior do grande
movimento de paulistanos e turistas. Esses estabelecimentos são
geralmente simples, com atencioso serviço e atendimento familiar. Os
cafés, muito simpáticos e descontraídos, em geral oferecem boa música ao
vivo. Há muita agitação nos fins de semanas, e uma freqüência
marcadamente jovem. São ambientes pequenos, muito apreciados pelos
moradores para conversas despreocupadas.
A agitação
noturna possui: boates, bares, karaokês, casas de samba, cafés com
pistas dançantes, etc. E todos esses locais são muito procurados. Além
da música ao vivo e espetáculos de variedades que incluem cantores,
humoristas, mágicos e outras atrações, o Bexiga tem também a maior
concentração de teatros de São Paulo. Estão espalhados por todo o bairro
e incluindo o moderno Teatro Sérgio Cardoso. o Teatro Brasileiro de
Comédia, que entre os anos 40 e 50 renovou a arte cênica brasileira,
assim como o Oficina, também no Bexiga, na década de 60.
Não obstante
tão ricos atrativos, o bairro cultiva muitas saudades, porque a história
vive na memória dos seus habitantes. Outra vítima da urbanização
desenfreada e desorganizada de São Paulo, apesar dos esforços de seus
moradores, caíram e continuam caindo as velhas construções, e outras
acabarão transformadas em cortiços. Há entretanto, um Bexiga rico. A
área que se aproxima dos jardins, é onde está um dos hotéis mais
suntuosos do Brasil, o Maksud Plaza.
O nome
oficial do Bairro é Bela Vista, mas seja porque houve uma epidemia de
varíola, seja porque no matadouro ali existente fazia-se o comércio de
bexigas de boi, seja porque esse era o sobrenome do antigo proprietário
das terras, é por Bexiga que se conhece o bairro e com esse nome foi
contado pelo escritor Antonio Alcântara Machado (Cronista dos
Imigrantes), "Brás, Bexiga e Barra Funda".
Depois de
ser o bairro dos escravos libertos e dos portugueses pobres, tornou-se o
bairro dos imigrantes italianos, especialmente calabreses, chegados
desde o final do século passado. À luz dos lampiões a gás, eles faziam
as suas serenatas, comiam seus pães e bebiam seus vinhos, depois de um
árduo dia de trabalho nas indústrias nascentes. Surgiam os primeiros
prédios, sobrados e mansões. Os mestres pedreiros italianos, riscavam no
próprio chão as plantas dos, hoje, velhos e decadentes sobrados e das
casas estreitas e compridas espalhadas por suas estreitas e tortuosas
ruas. Ruas por onde caminham ainda hoje velhos moradores, em direção à
Igreja de Nossa Senhora Acheropita e às padarias Basilicato, São
Domingos e 14 de Julho, sobreviventes de décadas de história do Bexiga e
de São Paulo.
Procurando
preservar sua identidade, os moradores instalaram museus memoriais do
Bexiga e continuam promovendo festas tradicionais. Em agosto, todos os
sábados e domingos na Rua Treze de Maio, entre às 19 e às 24 horas,
faz-se a festa de Nossa Senhora Acheropita. Há muita dança, cantos
típicos, comida e procissão. No dia 19 de março, é comemorada a festa de
São José com pratos típicos, vinho e música. Tem sede no Bairro a Escola
de Samba Vai-Vai (1930) e o Bloco dos Esfarrapados (1947), além da
Feirinha do Bexiga.
LIBERDADE
Há 40 anos,
ao mesmo tempo em que numa rua do Bairro da Liberdade era inaugurado o
Cine Niterói, que só exibia filmes japoneses. Boa parte da colônia já se
estabelecia no Bairro. Hoje, toda a área limitada pela Av. Liberdade,
Praça João Mendes, Parque D. Pedro II e Baixada do Glicério, é dominada
pelos nisseis e sanseis, filhos e netos de imigrantes dedicados ao
comércio de produtos orientais. Alias, atividade também dos habitantes
mais recentes: coreanos e chineses.
Além das
lojas de produtos importados, de confecções, de produtos naturais e
macrobióticos, há bares e casas noturnas típicas, restaurantes de
cozinha japonesa, chinesa e coreana. O ponto central do bairro é a Av.
Galvão Bueno. Iluminado à moda antiga japonesa e embelezado com tom
espécie de pórtico que no Japão tem a poética finalidade de servir de
pouso a rouxinóis, o bairro conta também com o Museu da Imigração
Japonesa, além de jardins de estilo oriental (Galvão Bueno e Largo da
Pólvora).
Na Praça da
Liberdade, são realizadas festas típicas muito apreciadas pela população
da cidade. Em abril é o Hana Matsuri (Festa da Flor, na semana do dia 8,
data do nascimento de Buda), no segundo fim de semana de junho, a
Sanabota (Festa da Estrela), ambas com danças e cantos populares
japoneses; e no último dia do ano, a do Moletsuki, quando ocorre a
distribuição de bolinhos de arroz, após sua fabricação artesanal em
pilão. Todos os domingos a tarde acontece a Feira da Liberdade, ainda na
mesma Praça, com venda de artesanato e comida típica.
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