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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G. GALO DE PIRITUBA TORCIDA - CARNAVAL 1996
Enredo: Um Presente à Raça Negra - O Presente Organizado da Raça

O Grêmio Recreativo
Autores: João Henrique e Matilde Ribeiro

 

INTRODUÇÃO

O Galo, símbolo e protagonista deste tema, vem relatar sua visão real dos áureos tempos, realizando sua festa no presente da raça, que, de forma organizada, conseguiu atingir um patamar mais elevado perante a sociedade e também, deixar sua mensagem na ementa, para a conquista de um futuro melhor.

As etapas que consolidaram a organização negra, principalmente em São Paulo, deram-se:

1- Com Zumbi, na formação e organização do Quilombo dos Palmares e através de organizações religiosas, como a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que tinha uma comunidade negra que a ela estava ligada e lutavam contra a espoliação do negro (quando de sua fundação, em 1711, chamava-se "Os Pretos do Rosário de São Paulo");

2- A criação da Imprensa Negra Independente, com a fundação de jornais que, apesar de não ter ainda uma ideologia de luta, mantinha a comunidade negra unida, preservando suas raízes, através de notícias específicas;

3- A fundação de grupos organizados, tais como: a "Frente Negra", organização que teve maior influência no comportamento do grupo étnico;

4- O crescimento de outro tipo de grupo organizado específico negro: a Escola de Samba que apesar de ser visto favoravelmente pela sociedade branca somente no carnaval, muito contribuiu na formação, na organização e na cultura do nosso povo em geral;

5- Atingido pelo preconceito de cor, o negro buscou forças, se reencontrou e conseguiu estabelecer parte de seus padrões religiosos.

Com a criação de grupos voltados para a situação das antigas colônias africanas, sendo alguns deles: o "Cacupro", "Cecan", "ACB", "Grupo Latinoamérica" e o "IBEA" o negro revigorou suas reivindicações e protestos, consolidando em 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, e, assim, bem mais organizado, buscou e alcançou lugares de destaque na sociedade brasileira, mesmo não sendo ainda o suficiente, temos a certeza de que, com vontade, união e organização, a raça negra em breve alcançará o lugar que realmente merece.

ENREDO

Temos o princípio da organização negra em nosso país, através dos quilombos, sendo alguns dos mais importantes, o de Palmares e o de Campo Grande, em Minas Gerais. No Quilombo dos Palmares, tivemos como líder e organizador, o imortal Zumbi, até hoje servindo de exemplo de liberdade para a raça negra.

Nos Quilombos, plantavam uma agricultura de subsistência, o que, já não acontecia em quilombos próximos à cidades, pois, em constantes atritos com as forças de repressão escravistas, o quilombo era, basicamente um grupo armado.

Em seguida temos as organizações religiosas, constituídas em órgãos de luta contra a espoliação do negro. Irmanadas como as de São Benedito, Santa Ifigênia, Santo Antônio de Catagerona, e em São Paulo, destaca-se a irmandade "Os Pretos do Rosário de São Paulo" (hoje, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos) fundada em 1711, a irmandade desempenhou papel relevante na vida social e organizacional dos negros em São Paulo. Salientamos a existência de uma comunidade que circundava a Igreja e que a ela estava ligada, composta de casas onde habitavam africanos livres e montavam quitandas para a venda de doces, geléias, legumes, hortaliças, mandiocas, pinhão e milho verde. O negro além de organizar-se através de entidades religiosas, começa sua organização também através da imprensa negra independente, feita basicamente por homens de baixas rendas, como José Correia Leite, auxiliar de farmácia Jayme Aguiar, pequeno funcionário entre outros, este por volta de 1906.

José Correia Leite assim descreveu o nascimento dessa imprensa: "A comunidade negra em São Paulo vivia - como uma minoria que era - com suas entidades e seus clubes e tinha a necessidade de ter um veículo de informação, como é natural, a imprensa branca não ia dar informações sobre a comunidade negra. Na nossa imprensa fazíamos notícias de aniversários, casamentos, festas, entre outras; mas naquela época ainda não tinha surgido um movimento ideológico de luta de classes". Dentre outros, os jornais da imprensa negra mais importantes na época, eram o "Menelik" e o "Tamoio", sendo criado em 1924, o "Clarim da Alvorada", fundado por José Correia Leite e Jayme Aguiar. A imprensa negra da época sempre fez questão de mostrar sua organização e preservar as raízes negras, prova disto era a comemoração de 13 de maio feita pelo jornal "Clarim da Alvorada", onde eram lembrados, José do Patrocínio, Luiz Gama, Antonio Bento, Rui Barbosa e a Princesa Isabel. Do ponto de vista organizacional e financeiro, os jornais eram fracos, mas sua força estava na difusão das suas idéias no meio negro. Os jornais surgiram com a finalidade de integrar associativamente o negro. Todos colaboravam como podiam, pois o objetivo da imprensa negra era difundir na comunidade negra suas idéias, por isso seus organizadores nunca procuraram organizações financeiras para ajudá-la, foi dentro deste espírito que a imprensa negra de São Paulo viveu por quase vinte anos, os jornais negros tomaram conotações de reivindicações raciais, devido o aguçamento do preconceito de cor e das lutas de classes em São Paulo, por volta de 1935, quando se escrevia nos porões do Bexiga. "Aluga-se um quarto, não se aceita pessoa de cor" - nos jornais saíam anúncios do tipo pedindo "empregada branca"; em 1936, foi-se acalmando tais coisas.

Em 16 de setembro de 1931, fundou-se a Frente Negra", a organização que teve maior influência no comportamento no grupo étnico. No sentido organizacional houve um fortalecimento dos grupos negros, criando-se também uma milícia frentenegrina. Os seus componentes usavam camisas brancas e recebiam rígido treinamento militar, e, possuíam carteiras de identificação com fotos, passando assim a serem mais respeitados pelas autoridades policiais, e pela população, porque sabiam que na "Frente Negra, só entravam pessoas de bem".

A Frente Negra também atuava na orientação do negro que, desde a abolição, necessitavam de melhores noções de instrução e educação, conseguiu inscrever mais de quatrocentos negros nas fileiras da Força Pública de São Paulo, que até então não aceitava negros; em 1936 a Frente Negra virou partido político, mas com o Estado Novo, foi fechado o partido e a Frente Negra se desagregou.

Em 1954 surgiu uma organização significativa: a Associação Cultural do Negro. Por volta de 1958, os negros paulistanos se preocupavam muito com o problema de uma ideologia para o negro e de valorização da cultura negra. Além dessas organizações que morriam num revezamento contínuo, surge outro tipo de grupo organizado específico negro: a Escola de Samba.

A Escola de Samba, que só é vista favoravelmente pela sociedade branca durante o carnaval, muito contribuiu na formação e organização do negro em São Paulo. As Escolas de Samba que cresceram e se impuseram na cotidianidade do negro paulista na época foram: Lavapés, Nenê de Vila Matilde, Unidos do Peruche, Príncipe Negro, Acadêmicos do Ipiranga, Vai-Vai, Camisa Verde e Branca, Fio de Ouro, Mocidade Alegre e outras, umas grandes, outras pequenas.

Outro fator organizacional do negro é a religiosidade: Candomblé e a Umbanda.

Atingido pelo preconceito de cor, o negro urbano, especialmente da cidade de São Paulo, procura se organizar também, em grupos de reivindicações e de protestos, várias entidades nasceram voltadas para a África, considerando como elemento importante o surto da libertação das antigas colônias africanas. O "CACUPRO" em São Paulo, que teve vida efêmera porém muita ativa enquanto existia, foi talvez, o mais significativo grupo negro neste sentido. Outros surgiram: o CECAN - Centro de Estudos da Cultura e Arte Negra e o IBEA, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas. Esta última entidade  tem um programa mais abrangente e político, e propõe-se organizar ou participar de campanhas de valorização do homem negro, lutar contra o preconceito, perseguição racial, em todas as suas manifestações, especialmente no mercado de trabalho. Apoiar todas as campanhas contra a discriminação de cor, nacionalidade, credo político e religioso. Em 18 de junho de 1978, consolidou-se o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, quando da idealização de um ato público nas escadarias do Teatro Municipal.

Em vista de tudo isto, o negro brasileiro se organizou melhor e nos dias de hoje, consegue se impor perante a sociedade, apesar de encontrar ainda, barreiras preconceituosas e discriminação, mas, ultrapassando com classe, de forma organizada e estruturada, chegando assim, a atingir altos degraus, mantendo um papel importante em nossa História, em várias áreas de destaques, tais como: Literatura, Jornalismo, Artes Plásticas, Musica, Teatro, Cinema, Esportes, Culinária, Política e mantendo vivas as lendas afro-brasileiras, a Congada, Maracatu, Bumba-Meu-Boi, Afoxé, Maculelê, entre outras. Temos também hoje, um representante junto a presidência da república, o Senhor Edson Arantes do Nascimento, Ministro Extraordinário dos Esportes.

Desta forma, o Galo de Pirituba, mostra um carnaval onde, o negro vindo de tempos sofridos no passado, conquistou parte de seu espaço no presente, organizado e sobrepondo-se à injustiças, dificuldades e alertando, que ainda falta muita luta e organização, onde deve predominar a união, para que, possamos ter uma vida livre de preconceitos, com liberdade, buscando sempre um futuro melhor para todas as raças com igualdade.

 


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