INTRODUÇÃO
O tema conta um pouco da vida e a arte de
Alberto Alves da Silva (Seo Nenê). Lembra suas raízes, sua participação
na organização do samba de São Paulo e um pouco da Escola de Samba que
leva o seu nome, GRES Nenê de Vila Matilde.
ENREDO
Em meados de 1927, na cidade de Palmira
(hoje chamada de Santos Dumont) em Minas Gerais, o "Divino", num sopro
de sua criação, plantou uma semente, "Alberto Alves da Silva". Como era
um semente que só germina de acordo com o solo em que é plantada, na
década de 30, chega a São Paulo, ainda garoto, a pessoa que mais tarde
se transformaria em uma das mais importantes figuras do samba
paulistano.
O negro, naquela época, já se organizava
socialmente com a formação de alguns clubes e grupos. Surgiram então
muitos Ranchos, Cordões e Blocos Carnavalescos, o que tornava mais fácil
a integração entre as comunidades.
No Cordão Príncipe Negro da Penha, onde
desfilou pela primeira vez, Seo Nenê, conhecido como Nenê do Pandeiro
por já ser um excelente pandeirista desde os nove anos, participou do
famoso Carnaval de Vila Esperança. Carnaval que deixa saudades, pois
contava com grande participação popular.
Nele participaram, o Cinco de Julho, o
Vila Matilde, Guarani, Estrela D'Alva, Clube Salas, Triângulo de Vila
Matilde e Vasco de Vila Matilde entre outros.
Um Carnaval levado a sério, com muita
alegria, muito respeito e dignidade entre os sambistas.
Em sua carreira de músico Seo Nenê, tocou
em várias casas de espetáculos da época, fazendo aquela rota: norte,
sul, leste, oeste, sempre nos trens da central e por isso ficou também
conhecido como "Águia da Central".
Nos intervalos entre um trem e outro,
inspirados pelo simples prazer de tocar música, o grupo de músicos ao
qual pertencia, dava uma "canja" dos grandes sucessos da época.
Conta-se que muitas pessoas perdiam seus
trens de propósito, só para ter a oportunidade de assistir estas
apresentações.
"Era o início da catituagem no samba".
Como ao lado de um grande homem sempre
existe uma grande mulher, Dona Maria Tereza, grande quituteira e
madrinha de todos os sambistas, mostrou sua fibra de grande batalhadora
e soube apoiá-lo em todos os momentos.
Com grande maestria, em sua moradia
acolheu os grandes nomes do samba da época, transformando-a no quartel
general das primeiras articulações para uma organização do samba.
Com Inocêncio Tobias, Pé Rachado, Madrinha
Eunice, Seo Zezinho da Casa Verde e Bitucha o samba deu seus primeiros
passos.
Enquanto isso, no Largo do Peixe em Vila
Matilde, um grupo de pessoas atraídas por uma brincadeira de pernas
"herdada da capoeira", chamada Tiririca, faz nascer em 1949 a "Escola de
Samba Nenê de Vila Matilde", com uma bateria que até hoje é considerada
como uma das melhores de São Paulo (Essa bateria já recebeu elogios até
do poeta Vinícius de Moraes).
Para tornar mais saboroso este "fruto",
foi convidada a grande Portela para ser madrinha da Agremiação, que por
coincidência tem a águia como símbolo.
Mesmo discriminadas pela burguesia
paulistana, como água aprisionada, lentamente as Escolas de Samba,
Blocos e Cordões foram conquistando seu espaço.
Em 1966, Seo Nenê, então presidente da
Coligação das Escolas de Samba, entrou em contato com Moraes Sarmento
que comandava um programa de rádio, chamado "Almoço à Brasileira", a
partir daí, conseguiu através de concursos realizados por empresas
jornalísticas e emissoras de rádio, regulamentar o carnaval.
Conta Seo Nenê que a primeira verba
recebida pelas escolas para se montar o carnaval era de quatorze contos
de réis, e que se não fosse pelo apoio de Moraes Sarmento nada disto
teria sido possível.
Em 1968, Escola de Samba em São Paulo já
era realidade, despertando interesse nos poderes públicos em organizar
patrocinando os concursos anuais.
Assim os baluartes do samba paulistano, na
gestão do Prefeito Faria Lima regulamentaram os desfiles, separando as
escolas por grupos.
A diretoria da Federação das Escolas de
Samba e Cordões Carnavalescos, passa a ser composta por: Presidente:
Moraes Sarmento - Vice: Leporaci; Secretário: Evaristo de Carvalho; 2º
Secretário: Ramon Gomes Porton; Tesoureiro: Carlão do Peruche e 2º
Tesoureiro: Seo Nenê. Mais tarde esta associação se funde com a UESP -
União das Escolas de Samba de São Paulo, que incorporou também a
Associação, presidida pelo Comandante Rocha e a Coligação, presidida por
Inocêncio Tobias e Geraldo Filme.
Em 1972, os Cordões Camisa Verde e Branco,
Fio de Ouro e Vai-Vai transformam-se em Escolas de Samba e o trabalho
iniciado pelos baluartes é coroado.
Nesta época, a Escola de Samba Nenê de
Vila Matilde já havia conquistado 09 títulos, sendo 02 vezes tricampeã.
Em 1985, a Nenê sagra-se campeã do
carnaval de São Paulo e representa o samba paulista na Marquês de
Sapucaí.
Hoje, sessenta anos após o início deste
trabalho, Seo Nenê, lamenta a negligência dos atuais dirigentes do
carnaval paulistano que não conseguem reconhecer o esforço desprendido
pelos baluartes para oficialização do samba de São Paulo e, a verdadeira
função das Escolas de Samba que é promover uma maior integração entre a
comunidade e a cultura.
Estes dirigentes, confundem os valores e
não respeitam mais os sambistas.
- "Esta arte que simboliza nossa liberdade
de expressão, nossas raízes, nossa ginga, nosso ritmo, a beleza de nossa
raça tem que ser valorizada, caso contrário, todo esforço terá sido
inútil".
Fim do texto e início de um novo
trabalho...
|