Introdução
O
CAMISA VERDE E BRANCO tem orgulho em falar sobre um fato que marcou a
história da Marinha brasileira, com aquele que foi o herói, João Cândido,
o "ALMIRANTE NEGRO".
Poseidon
aparece nas águas da Guanabara, onde ordena que seus guardiões abram
passagem, seguidos das ninfas e seres aquáticos que anunciam o
aparecimento do grande dragão do mar, na figura de um bravo feiticeiro
que é João Cândido. Oferecendo uma bebida sagrada a todos para que
possam ter seis visões, sendo a primeira em 1893 quando a Marinha era
completamente elitizada. Tanto que seu quadro de Ministros, Generais,
Comandantes e todos os outros cargos superiores eram preenchidos por uma
classe nobre, dos senhores rurais ou da burguesia urbana. Os integrantes
dos quadros inferiores eram apanhados a força para preencher os vazios
deixados por voluntariado. Negros e mulatos escuros eram os alvos
principais.
Segunda
visão - Infância interrompida, lutas, conquistas e anunciações
É
onde os acontecimentos de 1893 marcaram profundamente o espírito de João
Cândido, que tinha apenas 13 anos. Criado pelos pais nos pampas, filho
de tropeiro, antigo soldado da guerra do Paraguai. Cedo passou a
acompanhar o pai nas caminhadas pelo interior do Rio Grande do Sul.
Chegou a ser negrinho de pastoreio, foi então retirado dos campos e
engressa na Marinha como Aprendiz-marinheiro, cuja sua primeira viagem
ocorreu no transporte de Guerra Ondina, Revolta da Armada contra
Floriano Peixoto. De navio a navio andou de norte a sul. Já como
instrutor de diversas escolas de Aprendizes de marinheiro.
Esteve
em diversas guerras como a do Acre na Revolta de Plácido de Castro,
trocando tiros com bolivianos que invadiram nosso território. A sua
passagem é notada ainda nos avisos de "Tocantins", Tiradentes
em missão no Paraguai fez parte de algumas tripulações
"Riachuelo" e "Jataí". Durante alguns meses serviu
na Base de Ladário, em Mato Grosso. Já como marinheiro de primeira
classe seguiu para Europa a fim de assistir a construção final do
Minas Gerais, Navio de Guerra que é mais tarde cenário principal da
Revolta.
Terceira
visão - Noite da Revolta
O
Navio Minas Gerais foi construído pelas Vickers - Armstrong nos
estaleiros de New Castle, na Inglaterra. Foi lançado ao mar em 1908,
tendo sido sua madrinha a senhora Afonso Pena, esposa do então
Presidente da República dessa época, representada no ato pela
Embaixatriz Regis de Oliveira. Incorporado À esquadra da Marinha ficou
sobre o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra, Batista das Neves. O Minas
Gerais entra nas águas da Guanabara, sacudindo o Orgulho nacional, por
o Brasil ser a terceira potência naval do mundo, em 1910.
À
noite de 22 de novembro de 1910, foi marcada por deslumbrante baile para
recepção do novo Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca
ao lado de todo ministério, quando se ouve um estrondo que sacudiu a
cidade, e logo informam ao Presidente que a Marinha está Revolta. -Também
pudera! Os marinheiros estavam revoltados com tantas injustiças que
aconteciam desde a época de Dom Pedro.
O
clima de Revolta já era propicio, como se não bastasse, os marinheiros
após vinte anos de serviços prestados a Marinha, não teriam direitos
de ter baixa; a escravidão e as chibatas faziam parte dos castigos
empregados no porão do navio. Os gritos eram acalentados por tambores
na hora do massacre, executados por Alípito, o Carrasco do Minas
Gerais. A Revolta estava marcada para acontecer dia 15 de novembro,
porem caiu um forte temporal, adiando-se então para os dias 24 e 25,
que novamente teve sua antecipação para o dia 22; devido às 250
chibatadas que levou Marcelino Rodrigues Menezes, o último marinheiro
massacrado. João Cândido era chefe supremo da insurreição, sendo
primeiro marinheiro do mundo a comandar uma esquadra. Foi um comandante
diferente, não usou a farda de Almirante, preferindo o seu uniforme
branco de praça-de-pré meio rasgado pelo tempo. Apenas com um lenço
vermelho no pescoço, um apito e uma velha espada de abordagem. - Mas na
Avenida acontece uma metamorfose e ele veste a roupa de Almirante que
realmente foi, não só nos cinco dias de Revolta, mas sim em toda sua
vida.
O
sinal para o começo da Revolta seria um toque de corneta ás 22 horas,
que naquela noite não pediria o silêncio, e sim um combate. - Não
houve afobação! Cada marujo assume seu posto com ordem de atirar
contra todos aqueles que tentassem impedir a revolta. Às 22:50 hs
quando cessou a luta no convés, foi disparado um tiro de canhão como
sinal para os outros navios revoltarem. Esse disparo que estremeceu a
cidade naquela noite. Os navios que apoiaram a Revolta foram: São
Paulo, Bahia e Deodoro, Francisco Dias Martins, o Mão negra, marinheiro
que escreveu a carta com pedidos dos marinheiros, que mais tarde seria
entregue a um mensageiro enviado pelo Catete; pois João Cândido teria
caligrafia ruim, além de ter a falangeta do dedo indicador direito
amputado quando carregava um canhão. Dias Martins foi o cérebro da
revolta e João Cândido foi à ação. A Revolta no dia seguinte era
comentada por intermédios do jornal da época, O Paíz, Diário de
Noticias, Correio da Manhã e outros estão representados pela A.B.I.
(Academia Brasileira de Imprensa). Tomaram conhecimentos dos fatos, e
pela manhã a multidão tomou conta das praias e morros.
Lá
estavam, a sua frente com bandeira rubra tremulando no mastro do Minas
Gerais seguidos de São Paulo, Bahia e Deodoro. "Todos Navios de
Guerra". Mortos estavam, o Comandante Batista Neves, o Capitão-Tenente
José Cláudio da Silva e vários marinheiros. Todos entregues ao
arsenal da Marinha, onde permaneceram abandonados em condições
humilhantes. Este detalhe revela o pânico que estava tomado o Catete.
-A baixa da chibata! Pedido que todos marinheiros aclamaram.
Quarta
visão - O pânico do Catete e sua vingança
Após
algumas reuniões com Ministros, Deputados e Senadores o Presidente
envia o Comandante José Carlos aos navios, que em sua volta comenta que
foi recebido com todas as honras pelos marinheiros revoltos e trás uma
carta, onde os marinheiros reivindicam a reforma do código vergonhoso
que os rege; afim de que desapareça a chibata, o bolo e outros
castigos, aumento do soldo, educação aos marinheiros para que pudessem
honrar a farda da Marinha. É dado após cinco dias de revolta o pedido
de anistia, sendo que mesma é fraudada dia 28 de novembro do mesmo ano
pelo Presidente Marechal Hermes da Fonseca e o ministro da Marinha
Batista de Leão. A fim de obter sua vingança que acontece mais tarde
na Ilha das Cobras; onde o governo para mostrar seu poder e tentar e
conseguir um estado de sitio, que foi aprovado pelos Senadores e
Deputados, porém não foi decretado.
Mataram
mais de 600 pessoas entre homens, mulheres e crianças, pagaram com suas
vidas a exibição dessa farsa; não havia necessidade, pois horas antes
de término do conflito entre marinheiros, policiais e soldados do exército
os revoltos já tinham içado a bandeira branca, em um pequeno mastro
que de nada adiantou! A Revolta na Ilha das Cobras começou devido
rumores entre os marinheiros que a anistia teria sido fraudada.
Aconteceu então no dia 10 de dezembro de 1910 o inicio às 05:00 horas
da manhã e seu término às 18:00 horas. Ilha das Cobras é para onde
João Cândido é levado preso injustamente com 17 marinheiros, pois não
faziam parte dessa segunda Revolta, pelo contrário estavam dispostos a
combate-la. Mas dos18 marinheiros que foram presos numa masmorra
medieval, 17 morreram asfixiados pelo cal virgem da Ilha, jogados pelos
oficiais na masmorra por os marinheiros pedirem água, só restou João
Cândido...
Os
xadrezes da policia central ficaram como ninhos de rato. Cerca de 600
prisões efetuadas, sendo que a grande maioria era anistiada.
Quinta
visão - O massacre do Navio Satélite até à Amazônia
João
Cândido, aureolado pelos discursos de Rui Barbosa, inúmeros Senadores,
Deputados e jornalistas tinham seu nome na lista do Satélite, sendo
retirados nos últimos instantes. Fuzilá-los seria um ato de estupidez
do Catete, por isso foi mandado a prisão da Ilha das Cobras. Metade dos
homens presos pela policia foram jogados no porão do Satélite,
juntaram-se a eles marinheiros, mulheres, praças do Exército e
vagabundos. O navio Satélite a partir de sua saída do paquete da Bahia
de Guanabara na noite do natal de 1910, onde o segundo Tenente Francisco
de Melo, da as ordens para o fuzilamento submarinamente de alguns dos
491 presos do porão; cujos nomes estavam marcados em uma lista por um
sinal vermelho. Todos os outros com destino à Amazônia, sendo que uma
parte é entregue a comissão de Cândido Rondon, para construções das
linhas telegráficas em Santo Antônio do Madeira. Outra parte fora
entregue aos senhores da borracha, e os que não aceitaram foram
fuzilados na selva Amazônica.
João
Cândido que permaneceu na masmorra por quase quatro meses foi levado
como louco, indigente para o manicômio Casarão da Praia vermelha, onde
fica até sua melhora quando o mandam novamente para desgraçada Ilha
das Cobras. Foi julgado, e após várias audiências consegue provar sua
inocência e é absolvido. Todo sofrimento não tirou sua coragem, começa
a trabalhar na Marinha mercante como catraeiro, onde é rapidamente
expulso pelo Comandante dos portos de Santa Catarina, por o mesmo ter
sido preso na época da Revolta. Não tendo outra opção começa a
trabalhar no comércio de peixes, pois é única maneira que encontra
para sustentar sua família.
Sexta
visão - Um sonho de liberdade e os encantos do mar abrem passagem para
o grande Mestre-Sala, João Cândido
Em
1958, depois de tantas promessas seu livro estava pronto. O próprio João
Cândido não acreditava, pois durante mais de 40 anos fora procurado
por jornalistas, escritores, políticos e personalidades do mundo. O
livro escrito pelo jornalista e político Edmar Morel que teve seus
direitos políticos e jornalísticos caçados, tanto que a primeira e
segunda edição do livro foi proibida pela censura. A terceira é lançada
em 1979. João Cândido se despede na Avenida como Mestre-Sala dos
Mares, título que recebeu a música escrita por João Bosco e Aldir
Blanc após o verdadeiro título ter sido trocado pela censura que não
permitiria que se chamasse "Almirante Negro", pois ela falava
que negro não precisava de homenagem.
Os
encantos do mar abrem passagem para o grande Mestre-sala que é João Cândido,
onde ele mostra toda dignidade de um negro brasileiro através das
mulatas, da cachaça e da farofa; toda a brasilidade de um povo alegre
chamado Brasil. Tudo isso abençoado por Nossa Senhora do Rosário,
Santa que João Cândido num momento de aflição na Ilha das Cobras,
faz um pedido e após a graça concedida, ele a paga nos pés da mesma.
O enredo não é uma exaltação a João Cândido e sim a saga de um
homem que mudou a historia da Marinha brasileira, e tem por monumento as
pedras pisadas do Cais.
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