O destino
dela não poderia ser diferente, afinal quem nasceu num berço chamado
Mata Grande teria de ser a maior. Há mais de cem anos atrás, na região
do Caaguaçu, no espigão mais alto da cidade, a Avenida Paulista foi
inaugurada. Charretes a cruzaram dividindo o espaço com bondes puxados a
burros.
Numa época
em que o preço do café subia vertiginosamente e a indústria progredia,
os fazendeiros e os imigrantes empresários passaram a disputar os
terrenos. A avenida viveu a fase áurea do luxo das mansões que refletiam
a arquitetura de várias regiões da Europa. Foram construídos palacetes
art nouveau ao lado de renascentistas e florentinos. Muitas das
construções tinham um detalhe comum: os torrões.
Uma jovem
com mais de cem anos de idade, como se vivesse o reverso do tempo, ela
se desfaz do antigo para ganhar novos traços. Chamada apenas Paulista
ela nasce sóbria entre bancos, hospitais e escolas. Nas calçadas,
office-boys divertem-se pulando dos ônibus sem pagar e estudantes
correm, de mochilas e mesadas nos bolsos, para o burburinho do Shopping
Paulista.
Os primeiros
de seus quarteirões ainda guardam as linhas da arquitetura antiga. Mas
passo a passo o futuro vai ganhando espaço. Por fora há edifícios e
casas que conservam os traços de décadas passadas, mas por dentro pouco
resta do passado.
Mais de mil
metros acima do mar reina o símbolo da Avenida e de seus anos modernos a
torre da Globo, e para os paulistanos mais sonhadores lembra, de longe,
a Eiffel e faz com que se sinta, em noites românticas, nas ruas de
Paris. Mas ela já não está só. Ao seu lado, mudando de cores de acordo
com a previsão do tempo, brilha a torre da Jovem Pan, disputando espaço
no céu da Paulista. Sem contar as antenas das rádios FM, as parabólicas
e outras tantas.
Nas
calçadas, de dia, o futuro circula com milhares de estudantes que passam
pela Avenida. A Paulista é território de bancos, que lá cravaram seus
edifícios imponentes e inteligentes.
Ali está a
maior concentração de dinheiro por metro quadrado do Brasil. Um exército
de executivos e pessoal de serviços trabalham na Paulista.
Pelo menos
50 mil pessoas vão à Avenida Paulista todos os dias à procura de
divertimento. Encontram nos diversos cinemas que apresentam sempre as
últimas novidades. No Teatro do Sesi, instalado no prédio da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que não cobra ingresso. E
no Museu de Arte Moderna (Masp), que recebe 150 visitantes por dia para
ver seu acerco e exposições. Sem contar as centenas de pessoas que
assistem o Som do Meio-Dia, shows gratuitos promovidos pela Secretaria
Municipal de Cultura sob seu vão. Ali, aos domingos, amantes das
antiguidades percorrem as dezenas de barracas que vendem, a preço de
ouro, verdadeiros tesouros de anos há muito passados.
Em frente ao
Masp há um pouco do passado no Trianon, como é conhecido o Parque
Tenente Siqueira Campos. Último reduto verde da Paulista, ele ainda
guarda em suas árvores e animais, inclusive patos e galinhas, lembranças
da época em que na Avenida só haviam casarões, jardins e pomares. Mas o
sossego do passado não ultrapassa os limites de suas cercas. Linhas de
ônibus passam por ela, parando em 12 pontos. Correm em seu subsolo os
trens do metrô, que transportam milhões de pessoas desde sua inauguração
em 25 de janeiro.
A Avenida
termina num cenário futurista. Uma escultura em arcos de alumínio
colorido tirou do anonimato os dois quarteirões finais que se escondiam
atrás da esquina da Rua da Consolação. Sob o complexo viário que liga a
Zona Oeste com a Paulista, a Prefeitura abriu espaço para os grafiteiros
que aproveitam para mostrar suas pinturas que nem de longe lembram a
sobriedade e o luxo que já foram as características principais desta
Avenida que, de Caminho da Real Grandeza, se transformou num retrato da
sociedade paulistana.
|