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		Máscaras, muitas máscaras, seja para uma 
		festa de temporão à fantasia, para um carnaval ou para um baile. Para o 
		homem a fantasia não representa somente teatro e folia; representa, 
		também, seus mais íntimos anseios de liberdade no seio da sociedade em 
		que vive. 
		Máscara, adereço de pureza e poesia, em 
		forma de lua, de sol ou de estrelas; ingenuidade em forma de natureza, 
		herança dos nossos mais remotos ancestrais. Máscaras da vida e do 
		disfarce, do anonimato e da liberdade; máscaras múltiplas do meu pseudo 
		"eu", falso por imposição social, econômica, cultural... Múltiplas faces 
		do meu verdadeiro "eu". 
		É a máscara pelo homem, à medida que ela o 
		despe dos seus recalques e falsidades e traveste com uma nova 
		personalidade, fazendo-o assumir, assim, ainda que por breves instantes, 
		aquilo que deveria ser sua identidade verdadeira. 
		Também, é o homem pela máscara, objeto de 
		artesanato e arte que, em dias sem trabalho e sem pão, transcende os 
		limites das habilidades manuais, ganhando as feiras e praças do 
		artesanato da vida, na esperança de ganhar alguns trocos para garantir a 
		sobrevivência. 
		Trágicas na Grécia, as máscaras ainda hoje 
		continuam tão iguais no teatro da sociedade brasileira, à medida em que 
		esta se vê à mercê de políticos e doutores da lei que não precisam das 
		fantasias de um carnaval para exibir suas faces negramente mascaradas de 
		"irmãos metralha". 
		Assim é que existe espaço para as 
		"máscaras da mentira", resultantes do casamento entre a justiça cega com 
		o boneco Pinóchio, aquele que, à medida em que mentia, via seu nariz e 
		orelhas crescerem. É, mais uma vez, o homem negando sua verdadeira 
		identidade, se travestindo, se transformando. 
		E nessa infindável dança de faces e 
		disfarces é que vamos nos deparar com o homem de hoje como que a imitar 
		os primitivos homens da história, ao pintar sua cara de verde e amarelo, 
		não para ressuscitar uma cultura tribal mas, sim, para exercer seu 
		direito e dever de cidadania. 
		Há, ainda, um outro casamento: o das 
		máscaras com o carnaval; carnaval de máscaras negras de folia e poesia, 
		cantadas lá nos decantados bailes de Veneza mas, também, negras de 
		carrascos medievais quanto negras são hoje na violência urbana deste 
		país. 
		Diante disso, nos lembramos, então, da 
		alegria e da tristeza, não somente para exprimir a essência do teatro 
		arte e representação cênica mas, oportunamente, também para sintetizar o 
		teatro da vida, da nossa pobre vida de verdades, ironias, tristezas e 
		alegrias que a comunidade "folha-verdeana" vem mostrar na madrugada de 
		mais um carnaval, antes que tudo se torne em cinzas. 
		São "folhas verdes" na avenida, de 
		máscaras travestidas de alegria, de tristeza, de folia e poesia, onde 
		fantasiar é preciso para que o homem solte sua fantasia e refaça sua 
		harmonia consigo mesmo e com a criação. 
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