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		INTRODUÇÃO 
		Da captura, na costa africana, aos 
		dissabores no cativeiro e à fuga da senzala, todos estes sofrimentos 
		somados dariam por resultado a destribalização, ou seja, a separação do 
		negro de sua tribo, tirá-lo do meio de sua gente. 
		Negros todos eram, mas não da mesma etnia; 
		daí, o fato de não terem podido conservar os caracteres próprios de suas 
		vidas tribais e culturais. 
		Em meio a tudo isso, é claro que houve um 
		grande momento de confusão, mas a dor, que a todos afetou, serviu também 
		para unir os indivíduos das mais diferentes origens étnicas. 
		Entretanto, a grandiosidade desse "negro 
		sofrimento" conseguiu que as duas forças opostas - a destribalização e a 
		luta entre "nações" se compusessem, resultando assim num refúgio "canto 
		e dança", onde o negro se entregava então às danças e às cerimônias 
		religiosas como um calmante, um remédio para suas dores e aflições e, 
		dentre essas danças, a "Aruenda", que o G.R.C.B.S. Folha Verde vem 
		resgatar no carnaval da aurora de um novo milênio. 
		SINOPSE 
		Aruenda - folguedo (dança) popular, 
		semelhante ao Maracatu, praticado durante o carnaval na cidade de 
		Goiana, em Pernambuco, e no qual participavam os negros descendentes dos 
		escravos vindos de São Paulo de Luanda na costa da África. 
		Dançavam, inicialmente, defronte a um 
		templo católico romano, geralmente dedicado à "Nossa Senhora do Rosário 
		dos Negros", e, somente depois de terem cumprido com esta obrigação 
		religiosa é que os adeptos da Aruenda se apresentavam no triduo 
		carnavalesco, trazendo à frente do seu séquito vistosas bandeiras 
		representativas de suas "nações". 
		Tal qual no Maracatu, que lhe exerce 
		fortes influências, na Aruenda também encontramos: a Dama do Paço, o 
		Leão ou Rei e as bandeiras, símbolo de cada haste ou "nação". 
		Dama do Paço - esta personagem representa 
		uma acompanhante de honra da Rainha; portanto, é a "Dama do Paço" 
		palaciana, sem a qual não se inicia o folguedo, pois assim como no 
		Maracatu, onde são apresentados dois calungas (bonecos) para a louvação 
		popular antes de ter início a dança, na Aruenda também se faz 
		imprescindível a calunga "Boneca Erondina" a quem são dirigidos os 
		cantos laudatórios no adro de um templo católico. 
		Leão Coroado - outra figura chave deste 
		folguedo representando a realeza, sempre presente nos Maracatus - "da 
		Nação de Porto Rico, da Nação de Cambinda Velha, da Nação do Elefante, 
		da Nação do Leão Coroado", e de forte influência na Aruenda. 
		Bandeiras das Nações - representativas dos 
		grupos étnicos variados, vindos da costa africana para o trabalho 
		escravo nos engenhos de açúcar e outras culturas da época, sendo as 
		"nações" conservadoras de seus nomes primitivos, ou seja: "Cambinda (ou 
		Cabinda) Brilhante" - Estrela Brilhante, "Cambinda do Porto" - Estrela 
		do Porto, "Oriente Pequeno", "Iaiá Menina" - Senhora Menina, "Iaiá 
		Pequena" - Senhora Pequena. 
		Ainda, o Aruenda apresenta outras figuras 
		secundárias, sem preocupar-se com uma estrutura de enredo, herdadas dos 
		Maracatus, como por exemplo um grupo de baianas (na época era um grupo 
		de homens negros assim vestidos), grupos de índios nativos da região de 
		Goiana em Pernambuco, grupo de batuqueiros que com seus tambores, 
		atabaques e gongás executavam o som necessário para justificar a dança 
		e, ainda, um grupo de embaixadores e fidalgos para representar a corte e 
		seu poder político que, juntamente com a autoridade da Igreja, 
		procuravam até incentivar a destribalização e a luta entre os grupos 
		étnicos, como meio de não deixar ao negro um momento de reflexão onde 
		pudesse se rebelar contra o sistema escravagista que lhe era imposto. 
		Tendo os poderes Governo e Igreja 
		conseguido seu objetivo comum, restou o aniquilamento pela força da 
		animosidade instigada entre as "nações". 
		Assim, somente restou a Aruenda de "Iaiá 
		Pequena" para contar a história do que foi esse folguedo em Goiana, uma 
		das mais antigas cidades do Brasil, onde os escravos foram libertos 
		antes mesmo da "Lei Áurea". 
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