“O sertanejo é antes de tudo um forte” - Euclides da Cunha
"O sertão vai virar mar. Dá no coração, o medo que algum dia o mar também vire sertão” - Sá e Guarabira
Na terra agreste, pedregosa, castigada pelo sol, a seca e a fome – demônios – assombram o dia-a-dia do nordestino. A dureza do cenário maltrata o sertanejo e gera um sentimento de desespero. Sem ver perspectiva, o povo tem que acreditar em alguma coisa para sobreviver.
A esperança é a fé. A única salvação parece ser mesmo acreditar em Deus e o apego religioso somado ao desespero leva ao fanatismo. A fome e o sol alimentam a loucura de uns poucos, os beatos, mensageiros de alucinações e visões interpretadas como profecias pelo povo simples. Entre eles está o beato Sebastião, um “profeta” negro que alimenta a fé do povo para o fim da seca afirmando que um dia “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” e que o sol choverá como ouro.
Neste cenário trava-se o embate entre o bem e o mal. É “Deus e o Diabo na terra do sol”. O mal é formado pela seca, o agreste, a fome. O bem é o homem, o trabalho, a fibra para não desistir. Hoje, o milagre tão sonhado, que para muitos era impossível, surge das águas do rio São Franscisco, o Velho Chico. Mas o sertão não virou mar, virou um grande pomar. O nordestino é tão forte que venceu a natureza para usar a aridez do solo a seu favor.
A semente jogada na terra seca, molhada pelas águas do rio, fez nascer um mundo de frutas e flores no sertão. Hoje, quem diria, o Nordeste da seca e da fome exporta frutas para os países ricos. É o pobre alimentando o rico. Tem abacaxi na corte da rainha da Inglaterra, maracujá na mesa do francês, banana e uva nos banquetes do Velho Mundo. Na terra do tio Sam ,castanha de caju, melancia e goiaba viraram moda e no Japão o samurai se lambuzou de manga.
E do deserto brotam flores também. Rosas, bromélias, tulipas, copos-de-leite que enfeitam padre Cícero, também enfeitam, pagodes (japonês) e catedrais. Tem fruta? Tem flor? Então tem abelha. As pesquisas genéticas criam uma abelha especial, do cruzamento da abelha africana com a italiana surge a abelha africanizada. Resultado: o Nordeste que já adoçou o mundo com o açúcar de sua cana, agora põe mel na boca de toda a gente.
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