Historicamente, os
primeiros imigrantes (pessoas que entram num país
estranho para viver nele) que vieram para o Brasil
foram os portugueses e os negros africano. Mas esse
deslocamento de população não é precisamente
imigração, pois o Brasil na época da chegada dos
portugueses e seus escravos negros era uma colônia
de Portugal. Em nosso país, considera-se que a
imigração propriamente dita só começou no século
XIX. O marco inicial desse movimento foi um decreto
de Dom João VI, de 1808, que permitia a posse das
terras estrangeiras. Ainda assim, só dez anos
depois, em 1818, chegariam os primeiros 1.682
colonos suíços que viriam a fundar a cidade de Nova
Friburgo, no Rio de Janeiro. Outra iniciativa
importante nesse sentido foi a de fazendeiros como
Senador Vergueiro, que em 1847, instituiu um sistema
de parceria com os colonos alemães nas suas
plantações de café em São Paulo.
Em relação aos
objetivos, a imigração no Brasil se divide em dois
tipos: a que foi feita em São Paulo, destinada a
fornecer mão-de-obra para a lavoura cafeeira
sobretudo após a abolição; e aquela realizada para
outras partes do Brasil (região sul, Espírito Santo,
Amazônia), de caráter povoador, é marcada pelo
regime de pequenas propriedades (que gerou uma
classe média rural). Em oposição aos latifundiários
de São Paulo.
ALEMÃES E ITALIANOS
NO SUL
A existência de áreas
sem dono - que poderia ser doada aos colonos, um
certo interesse "branquear" a população brasileira,
a ameaça de incursões armadas vindas do prata foram
alguns dos motivos que levaram o governo a promover
a imigração no sul.
Problemas políticos e
econômicos na Alemanha (guerras de unificação) iriam
determinar a vinda de imigrantes para o Brasil. Em
1824, chegaram 1.861 colonos, que se instalaram no
loca onde hoje fica São Leopoldo (RS). Mais tarde
seriam fundadas outras colônias em Santa Catarina
(Blumenau, Joinvile, etc.) e no Paraná. A partir de
1870, a unificação da Alemanha e o conseqüente
desenvolvimento econômico viriam interromper esse
fluxo migratório.
Provenientes do Norte
da Itália - região que sofria os efeitos das lutas
pela expulsão dos austríacos, os primeiros italianos
chegaram ao sul do Brasil em 1875, e se
estabeleceram em Nova Milane (hoje pertencente ao
município de Farropilha, RS) e depois se espalharam
pela região serrana do Rio Grande do Sul, chegando
posteriormente até Santa Catarina (Vales do Itajaí e
do Tubarão). O isolamento inicial permitiu a esses
grupos preservar seus costumes e tradições. Os
colonos praticavam uma diversificada agricultura de
subsistência e introduziram novas culturas, como a
uva, o centeio, o trigo, etc. Em 1980, a produção de
trigo o primeiro cereal plantado pelos colonos - no
Rio Grande do Sul era de 1,5 milhões de toneladas.
Ainda nesse Estado, a zona colonial italiana era
responsável por 70% da produção brasileira de uva
(cerca de 400.000 toneladas).
Das oficinas
artesanais dos imigrantes surgiria uma
industrialização em pequena escala, que viria a dar
origem aos grandes centros industriais do Vale do
Itajaí (metalurgia, têxteis, malharia, etc.) e da
Serra Gaúcha (vinhos, metalurgia, móveis, curtumes,
etc.).
SÃO PAULO DO CAFÉ E
DA INDÚSTRIA
No final do século
XIX, o problema da falta de mão-de-obra na lavoura
cafeeira de São Paulo, decorrente da proibição do
tráfico negreiro (em 1850) e da abolição (1888),
seria superado com a vinda dos imigrantes na maioria
italianos e japoneses.
Ao contrário do que
ocorreu na região sul, a imigração para São Paulo
foi promovida pelos donos das terras, através da
ação estatal. Isso só foi possível com a utilização
do colonato, tipo de relação de trabalho que
combinava pagamento por tarefa, pagamento por
participação na produção e permissão de acesso à
terra para para plantações independentes.
Em um século, entrarão
em São Paulo mais de um milhão de italianos. Só em
1891, vieram 132.326 indivíduos. Em 1900 eles
representavam 16% da população paulista, que era
2.282.279 habitantes. Embora tenham vindo para as
lavouras de café, os italianos logo se dirigiram
para as cidades, onde influíram no processo de
industrialização. Em 1901, a maioria dos 50.000
operários da cidade de São Paulo eram italianos.
Houve também imigrantes que já vieram para cá com
certo capital e, assim, puderam se tornar grandes
industriais, como foi o caso de Francisco Matarazzo,
fundador de um império industrial.
O contato imediato com
a população brasileira facilitou a rápida
assimilação: além da introdução de pratos típicos
(como macarronada, polenta, pizza, rizoto,
minestrone, porpetas, etc.), os italianos influíram
também na arquitetura (palacetes florentinos na
Avenida Paulista, no centro de São Paulo, etc.).
Começava em 1908, a
imigração japonesa, esteve também ligada a expansão
cafeeira no oeste de São Paulo. Inicialmente
isolados eles chegaram a formar cidades japonesas no
interior paulista.
Promovida, numa
primeira fase, por cafeicultores paulistas, através
do governo estadual, essa imigração passou depois a
ser financiada pelo governo japonês. O auge desse
movimento migratório ocorreu entre 1921 e 1940,
quando entraram no país cerca de 157.000 nipônicos.
Em 1977, a colônia
japonesa no Brasil era constituída por 750.000
pessoas, sendo que apenas 150.000 eram isseis
(japoneses natos).
A maior concentração
se dá em São Paulo (200.000 na capital) o lugar onde
mais existe japoneses fora do Japão. Ao contrário do
passado quando a maioria se dedicava à agricultura
hoje apenas 50% estão nesse setor; o restante se
divide entre o comércio (38%) e a indústria (12%).
Os japoneses
introduziram várias culturas como o chá e a juta e a
pimenta-do-reino. Além disso têm expressiva
participação na produção agrícola. Em São Paulo, por
exemplo, são responsáveis por quase toda produção de
tomate, chá e batata. Só a cooperativa agrícola de
Cotia, a maior da América do Sul, fornece 70% de
hortifrutigranjeiros consumidos no Rio e em São
Paulo.
OUTRAS COLÔNIAS
Em termos
quantitativos os portugueses formam o grupo
predominante, superando até mesmo os italianos que
apareceram em segundo lugar. Desde o século XIX,
entraram no país cerca de 1,7 milhão de lusitanos.
Os espanhóis são o
terceiro grupo em quantidade de imigrantes. De 1884
à 1973, entraram no Brasil 700.143 espanhóis (13% do
total dos imigrantes entrados nesse período)
dirigiram-se sobre tudo para São Paulo, mas
integraram-se às populações locais, mas não chegando
a constituir colônias específicas.
Além dos grupos
citados, existiram várias outras colônias. Ainda no
século XVIII, registra-se a presença de açorianos em
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Amazônia. No
Espírito Santo, os alemães fundaram as colônias de
Santa Izabel (1847) e de Santa Leopoldina. Esta
última é composta por alemães, vindos da Pomerânia,
uma região extinta da Europa e conserva até hoje
muitas de suas tradições, inclusive o dialeto falado
de Mucuri (1856), e no Rio de Janeiro em Petrópolis.
Embora pequena, a imigração eslava (poloneses,
tchecos, russos, ucrânios, etc.) foi bastante
significativa. Os eslavos localizaram-se na Região
Sul, sobretudo no Paraná. Dentre eles, os poloneses
são os que mais se destacam em número. Os assírios e
libaneses (erroneamente chamados "turcos" porque na
época seus países estavam sob domínio da Turquia)
entraram por São Paulo e, trabalhando como
"mascates", se espalharam por todo país. No Amazonas
dominaram quase todo o comércio do período da
borracha. A imigração japonesa também esteve
presente no Amazonas e no Pará, onde, a partir de
1928, foi responsável pela introdução do cultivo de
pimenta-do-reino e juta. Em fins da década de 40,
holandeses fundaram as colônias de Holambra, em São
Paulo, e de Não-me-toque, no Rio Grande do Sul.
A partir de 1960, a
entrada de imigrantes passam a ser alvo de maior
controle. Desde então a imigração se restringe aos
técnicos, cientistas e pesquisadores, subordinados a
uma lista de profissões em que há carência de
mão-de-obra no Brasil.
Esta lista não se
aplica aos portugueses, para quem basta provar o
exercício da profissão por mais de três anos e ser
alfabetizado.
Também não se aplica a
pessoas de qualquer nacionalidade que transfiram
para o Brasil um certo capital, que, em 1980 era de,
no mínimo, 100.000 dólares. Em 1980, com aprovação
da nova "lei dos estrangeiros", a imigração passou a
ser ainda mais controlada.
Todas essas restrições
não impediram um recente êxodo de latino-americanos
para o Brasil, em virtude de problemas econômico e
políticos em seus países de origem. Em 1977,
calculava-se que 20.000 argentinos viviam em São
Paulo, muitos em situação irregular. No início da
década de 80 verificou-se um fluxo de coreanos e
chineses, entrados muitas vezes de forma
clandestina.