Vai
casquinha ou picolé? De massa ou palito? Ou seria melhor perguntar: de
copinho ou palito? Ah, vai "comer" ou "chupar"? Sei lá! Isso depende do
gosto do freguês. Comer, é pra americano, pra inglês ver: "Iam eating
the ice cream". Traduzindo para o povo brasilis, povo sem isso nem
aquilo, ou melhor, "os sem nada", simplesmente "Eu estou comendo o
sorvete".
Pra uns,
comer sorvete igual ao americano, é "chique", é básico, é um luxo só, é
o frescor da frescura.
É um
"geladinho" do prazer, refrescante e revigorante, tanto quanto a colméia
de Itaquera pra mais um carnaval.
Sorvete! Ah,
sorvete!
Por quê
sorvete?
Em busca de
suas origens, vamos pra Ásia, indo parar na China, há mais de 3000 anos.
Lá, era uma mistura de neve com suco de frutas adocicado com mel, algo
semelhante as nossas "raspadinhas".
Também, como
ponto de partida dessa fresca delícia, vamos "pras Arábias", através do
árabe "sarab" - bebida, pelo turco "serbet". Depois ainda, vamos "pras
europas", através do italiano "sorberro" e do francês "sorbet".
Uau, que
delícia de frescura! Que delicioso frescor! Haja pança e bolso pra
tantas variedade, a base de leite ou suco de frutas, acrescidas de ovos,
nozes, chocolate, pedacinhos de frutas frescas, secas ou cristalizadas,
licores e vinhos. Haja sorveteiros e sorveterias pra tanto.
Nessas
origens asiáticas e européias, vamos topar com muita gente famosa que,
na carona da história, não deixou de "tirar sua casquinha". Tem o
Alexandre III, o tal de "o Grande", que foi o unificador e senhor do
mundo oriental. O tresloucado e incendiário Nero, imperador romano, e um
seu patrício, o general Quintus Máximus Gurgeo, que chamou para si a
autoria da primeira receita de sorvete.
Ainda, tem o
Marco Polo, espertalhão viageiro e novidadeiro de sua época, que levou
da Ásia pra Veneza a novidade gelada, então, já feita à base de leite,
precursora do moderno sorvete.
Aí, no meio
da italianada, o sorvete foi encontrar a "grã-fina" Catarina de Médicis
que por ele se encantou, levando-o à França quando com o Duque de
Orleans se casou e, a tal "donna" (senhora), um dia virando vovó, como
não poderia ser diferente, sua neta a imitou quando se casou com o
Carlos I da Inglaterra, também levando em sua trouxa, o dito cujo do
sorvete para o deleite dos ingleses, e estes, se incumbiram de levá-lo
pra América, quando pra lá foram colonizar a futura terra do Tio Sam.
Assim, nessa
frenética imigração asiática, européia e norte americana, o fresquinho
também por aqui aportou por obra e graça dos filhos de Sam. Chegaram com
um navio de barras de gelo e, com a participação de outros estrangeiros,
puseram mãos à obra, e apresentaram-nos a gélida novidade nos bares,
confeitarias e cafeterias do Rio de Janeiro, substituindo assim, o velho
"Aluá", bebida refrigerante feita do nosso milho, para o bico de todos,
pobres, ricos e da corte imperial.
O sorvete
aqui no Brasil, foi um verdadeiro furor que deu as mulheres ativistas do
"Movimento de Libertação Feminina", a primeira oportunidade de rebeldia
contra os padrões sociais vigentes, pois, para saborearem a gelada
guloseima, elas passaram a invadir os locais de venda do produto,
normalmente só freqüentado por homens.
Até D. Pedro
II e sua mulher, tornaram-se amantes do sorvete, como assíduos
freqüentadores da sorveteria do italiano Antônio Fracione, onde o
monarca se empanturrava de sorvetes de pitanga, o seu preferido. O
famoso e histórico "Baile da Ilha Fiscal", que sem querer, foi a
despedida do Império, teve por sobremesa principal o sorvete, e de
pitanga, com certeza.
Portanto,
com muito sorvete, suor e pandeiro, no zum-zum-zum da zumzuniana
colméia, comendo ou chupando, de acordo com o gosto de casa folião, e
sobretudo, sambando e cantando com muito "chiquê" mais um carnaval -
"chique no urtímo", e todo frescor ou frescura a que tenhamos direito,
aqui vamos nós.
"Aluá" pra
lá, sorvete pra cá, ou, daqui pra lá e de lá pra cá, por certo ouviremos
gritar um neguinho: - "olha o sorvete aí gente...", pra refrescar o
gingado de todos os "bum-buns", de brancas, mulatas e negras, "das moça
e das véia" e até "dos marmanjo" do quente "bum-bum-bum" percussionista
de real bateria da rinha da colméia itaquerense.
Que assim
seja!
|