Brasil de tempos
atrás.
Ainda ouvimos soar o
batuque dos tambores, vindos de uma África distante.
Do tempo que por mares nunca antes navegados, chegam
ao nosso Brasil, sob o som do estalo do açoite, os
mais legítimos representantes, da arte, da raça, e
da fé, própria de seres nascidos para a liberdade,
os negros da Guiné.
Eram os Cambindas,
Gêges, Angolas, Egbas, Yorubás, Quêtos, Congos,
Aussás, Ige-chás, Minas, Nagôs e Benguelas. Eram a
mais fiel representação da arte e da cultura
populares, nascidas do batuque e da cabala, na
poeira da senzala, num verdadeiro cheiro do povo.
Era, enfim, o
nascimento da arte, da cultura e do folclore
brasileiro, surgido sob a proteção dos braços fortes
e da energia dos Quilombos e Quilombolas.
Do tempo em que o
negro juntando e curriola no medo da senzala,
mostrava ao som do primitivo tambor, da maracá, do
afoxé e do ganzá, o verdadeiro valor da arte.
É por toda essa força,
coragem e rebeldia nascida nos ares de Quilombo dos
Palmares. Por toda essa ginga que embala e rebola na
suave cadência da negra faceira. Por toda fé que
nasce do axé da energia e da raça de um negro da
Guiné, que sentimos a necessidade cada vez mais
presente, num país sem memória, de comprovar e
provar, as verdadeiras tradições africanas, que
sobre maneira, influenciaram em nossos costumes
sociais.
Vindos d'uma África
distante em navios negreiros, sob a força da
chibata, chegavam ao Brasil os primeiros escravos.
As senzalas foram suas
moradas e o templo maior de seus lamentos.
Ali riam, choravam e
até dormiam quando o cansaço assim os permitiam.
E foi através dessa
energia e dessa abnegação que no "Vão das Almas"
numa das curvas do Rio Paraná, em Goiás, que as fez
presente e resistente o último Quilombo é permanecer
vivo e forte, honrando seus antepassados numa
verdadeira raiz de tradição: Os Kalungas.
A solidariedade é um
dos fortes traços da cultura Kalunga: todos se
ajudam, fato que certamente contribuiu para o grupo
permanecesse unido e isolado por mais de dois
séculos.
Os Kalungas pescam e
caçam na região da mata nativa e tudo que
conseguirem é de uso comum e nada do que possuem é
supérfluo. Sabem o valor das coisas.
Kalunga é orgulhoso e
altivo, de poucas palavras, mas felizes
O isolamento em que
vivem os Kalungas, aliado à herança cultural, fez
com que desenvolvesse métodos próprios para
medicamentos de cada tipo de problema:se o for cisco
no olho ou vista inflamada, é tiro-e-queda, mel de
jataí, suco de limão, leite de mulher parida, grão
de feijão, e benzer.
O Kalunga tem origem
na cidade Estrela do Sul, que no século passado
chamava-se Bagagem.
O Kalunga tem como
fonte maior de produção a mandioca e seus derivados,
nela resiste e subexiste seu sustento. Razão por
que, o trabalho une e garante a sobrevivência do
grupo.
Desse grupo que se
sentem orgulhosos e satisfeitos em sabe que a
história deles está inserida no contesto da própria
história da cultura brasileira.
Herança maior de
nossos irmãos africanos, que famílias inteiras do
Triângulo Mineiro, "Kalungam" entre si num dialeto
de origem africana, herança dos tempos de
escravidão, que ainda se mantém firmes, num
verdadeira brado de alerta do "Quilombo das
Tradições".