É tentador fazer de conta que a Luz é
igual a um livro aberto, que você olha, folheia e guarda numa estante, e
supor que seja possível conhecer como a palma da mão esse lugar como de
resto qualquer lugar, simplesmente abrindo um livro de fatos e retratos.
A Luz são reticências não um ponto final.
A Luz é uma porção de coisas ao mesmo tempo. Cada coisa é um capítulo.
Cada capítulo, são páginas. Cada página, são sensações. E cada sensação
é um modo íntimo e pessoal de traduzir o que todo mundo vê por fora.
Quando se diz Luz, a primeira imagem que
em geral ocorre é a Estação de Trens cor de tijolos, ocre escuro,
rebuscada de janelas e letras entrelaçadas de concreto, com sua torre
acenando, erguida numa das faces urbanas mais maceradas de São Paulo. A
Estação da Luz tem cem anos, cem anos é tempo suficiente para somar
fuligens, cifras, rugidos, deuses, sustos, sorrisos, lembrança e
lágrimas, a Estação da Luz também lembra cisco no olho e maresia.
Pois bem à sua maneira, a Estação inspirou
milhões de pessoas a inventar o mar antes de o conhecer.
Para ser objetivo: o trem que sai da
Estação da Luz com destino à Santos tinha maresia como as asas das
gaivotas. Maresias era um odor de oceano, inesquecível tanto para as
crianças que pensavam que eram adultas como para os adultos que fingiam
ser crianças.
E por que cisco no olho?
E porque cisco no olho?
É importante ressaltar que arrepiava a
alma das pessoas que iam pela primeira vez ver o mar ao se ouvir a
locomotiva de ferro que esguichava vapor por todos os poros e as de suas
caldeiras liberavam ciscos da queima de madeiras que presenteavam
aqueles que não se continham a por a cabeça para fora das janelas.
À Estação da Luz misturou graxas, toras de
lenhas queimadas nas fornalhas dos tênderes, maresias e madrugadas
rurais.
Com esses cheiros ela criou seu clima
peculiar, intransferível.
UMA FAMÍLIA DE FERROVIÁRIOS
A segurança visível na Estação da Luz é
incumbência dos guardas ferroviários; uniforme cáqui, boina preta,
coturnos, cinturão, largo, revólver, cartucheira e algemas.
CINCO ENGRAXATES E UM GUARDA VOLUMES
Porém o guia talvez não mencione os dois
engraxates que a S.P.R. mantinha, com exclusividade, especialmente, para
tirar o pó dos sapatos dos funcionários que atendiam ao público, antes
de assumiram o posto de trabalho. Sobravam engraxadas.
A Estação da Luz tem hoje cinco engraxates
- Um deles trabalha no local há meio século.
Além dos engraxates, dos telefones, a
Estação da Luz tem um lanchonetezinha e um encolhido restaurante, os
dois em pretensão.
Num dos cantos fica a sala
guarda-bagagens, sacolas, trouxas, sacos, embrulhos, bolsas, mochilas,
pacotes, caixas. Há também o lado das folhas com dobradiças azeitadas,
que se ajustam na reentrância da parede para não atrapalhar a entrada e
saída das pessoas, quando a Estação da Luz tinha uma multidão de
passageiros.
GUARÉ
Antes de ser Luz, toda a região, que era
vastas e se perdia de vista, na maior parte das várzeas inundadas pelas
águas do Tamanduateí era conhecidas como Guaré, era o nome de um dos
córregos que tornavam o lugar bonito e fértil.
A região do Guaré era passagem das tropas
que iam e vinham fazendo negócios de mercadoria no sertão. Quem olha
hoje a rua Florêncio de Abreu, pode ver com a imaginação a antiga
principal trilha que existia no mato em direção ao Guaré.
No ano de 1.600, Domingos Luís conhecido
como carvoeiro por fabricar carvão, constrói uma nova capela numa gleba
maior do Guaré, poe devoção à Nossa Senhora da Luz onde se tornou ponto
de peregrinação e referência geográfica dos viajantes em geral, onde
está situado hoje o recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Luz, e
assim originou-se o nome do Bairro.
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