O G.R.C.E.S. Só Vou Se
Você For pede licença à Oyá Iansã Gbalê e Ogum Beira
Mar para render, em forma de poesia, uma homenagem à
Clara Nunes. E a noite há de nos emprestar as
estrelas bordadas de praia para recebermos a
guerreira Clarinha, filha de Angola, de Keto e Nagô.
Mulher faceira, morena
de Angola, que um dia, enfeitada de rosas e rendas,
abriu seu sorriso de moça e pediu pra cantar as
aventuras, as esperanças, o folclore e toda a
malícia do povo brasileiro: o canto das três raças!
A mistura das três
raças resultou num folclore riquíssimo, onde a viola
de penedo toca ponteado. É na Feira de Mangaio,
entre fumos de rolo, quitutes, artesanatos e frutas
do nordeste tem um sanfoneiro no canto da rua,
fazendo floreio pra gente dançar. Foi lá que a
guerreira que veio de Minas trazendo ouro em pó
conheceu a baiana boa, que gosta de samba, gosta da
roda e diz que é bamba.
Era um peito só, cheio
de promessa. Era só...
Era um peito cheio de
promessa e um canto cheio de devoção: nos orixás,
nas forças da natureza e na esperança da chegada do
Menino-Deus. Anunciava o Juízo Final, onde uma chuva
de prata do céu ia descer, fazendo com que toda a
maldade, as pragas e os homens de mau desaparecessem
nas cinzas de um carnaval.
Ah, Carnaval que corre
nas nossas veias. E a nossa guerreira era apaixonada
pela Escola da Águia, o Rio de Samba que já passou
em tantas vidas, a maravilha de aquarela que surgiu:
a Portela. E nada como ter uma escola de coração,
onde podemos enxugar o pranto provocado por alguém
de um coração leviano.
Mas aconteceu um
dia... o galo cantou às quatro da manhã e o céu
azulou na linha do mar. Clarinha foi-se embora desse
mundo de ilusão. Voltou para os braços de Oyá.
Foi Beira-Mar, foi
Beira-Mar quem chamou... e lá se foi ela, na
cadência do novo som Ijexá dos Filhos de Ghandi.
É nesse canto de
saudade que vamos trazer um pedacinho da arte de
Clara Nunes para a passarela, sambando até o sapato
furar.
Salve o samba!
Salve a Santa
Salve Ela
E toca a viola que ela
quer sambar!