APRESENTAÇÃO
O tema Caiu
na Rede é Samba é uma homenagem da Império à Rede Nacional do Samba,
programa de rádio que comemorou 15 anos de existência em novembro de
1995, e a seu comandante, o jornalista e radialista Evaristo de
Carvalho.
Transformamos a Rede Nacional do Samba em enredo de nossa escola por ser
um programa que reflete a própria situação do povo e da cultura popular,
abrindo-lhes espaço nos meios de comunicação graças ao trabalho de
Evaristo, aliado à força represada do samba.
A carreira
profissional de Evaristo sempre esteve ligada ao mundo do samba. Vamos
mostrar alguns de seus momentos mais marcantes: sua atuação no Rádio
Teatro dos Negros, ainda nos anos 50; seu amor pela Peruche, em São
Paulo, e Portela, no Rio de Janeiro; e sua participação no Afoxé Filhos
de Gandhy, na Bahia.
Vamos
destacar também a infância de Evaristo na Zona Norte de São Paulo, sua
luta pela unidade do samba paulistano, e a veemente defesa que faz dos
valores da negritude uma das principais características da Rede Nacional
do Samba.
Ao
apresentar esse tema francamente popular, a Império retoma valores
culturais que estão marginalizados na sociedade brasileira. Assim, o
trabalho artesanal desenvolvido com os figurinos está intimamente ligado
ao enredo, enquanto as alegorias, adereços e elementos plásticos
ilustrativos têm como idéia que o antigo não é velho e pode receber um
tratamento que o atualize.
Como trilha
sonora do enredo, o samba escolhido contém os pontos fundamentais da
história que estamos apresentando: a vida e a obra de Evaristo de
Carvalho.
ENREDO
"Fazer um
programa de samba não tem truque mão. Se for "sambeiro", complica. Se
for sambista, basta usar o coração".
Evaristo de
Carvalho
A Rede
Nacional do Samba, programa transmitido por dezenas de emissoras de
rádio do país, é dedicado exclusivamente à difusão da música e da
cultura popular brasileiras. Há mais de 15 anos consecutivos no ar,
completados em 22 de novembro de 1995, a Rede apresenta durante todo o
ano notícias, reportagens, entrevistas e comentários sobre as atividades
das escolas de samba e demais associações carnavalescas.
Além da
participação dos ouvintes por telefone, a Rede abre espaço para a
divulgação dos trabalhos fonográficos de astros consagrados e para os
novos valores do samba. Microfones abertos como uma "Tribuna Livre do
Samba", o programa contribui para preservar o samba e resgatar raízes
culturais do Brasil.
Evaristo de
Carvalho é o bem sucedido e premiado produtor e apresentador da Rede
Nacional do Samba. Paulistano, 63 anos, casado, ele se emociona quando
recorda os jogos e brincadeiras de rua do tempo em que corria atrás dos
balões nas festas juninas da Casa Verde e do Parque Peruche, região onde
viveu uma feliz infância.
Estudou,
cresceu e foi à luta. Em meados dos anos 50, presta concurso e,
superando preconceitos, passa a ser um dos primeiros funcionários negros
a trabalhar no setor administrativo da Light (atual Eletropaulo).
O samba
assume importância especial na vida de Evaristo a partir de 1956, por
intermédio de Carlos Alberto Caetano, o Carlão, conhece o trabalho
comunitário da Escola de Samba Unidos do Peruche. Procurado por Sinval
Rosa, em maio de 1963, Evaristo colabora na fundação da nossa Império,
redigindo a primeira ata da escola que hoje, 33 anos depois, é uma das
mais tradicionais agremiações do samba paulistano.
Mas antes de
abraçar os valores da arte, da cultura popular e assumir "ser do samba",
Evaristo enfrentou o preconceito dissimulado e as barreiras existentes
nas redações de jornais e emissoras de rádio ao reconhecimento de seu
talento profissional. Assim, ainda na década de 50, participa ativamente
do Rádio-Teatro dos Negros, programa transmitido pela antiga Rádio São
Paulo.
CONCLUSÃO
"E aí vem o
samba", ainda na Rádio São Paulo, é o primeiro de uma série de programas
produzidos e apresentados por Evaristo em várias emissoras, como
Marconi, Record e Gazeta, todos eles embriões do atual formato da Rede
Nacional do Samba. Ao mesmo tempo, assina colunas e artigos nos jornais
Diário da Noite, A Gazeta Esportiva, Última Hora e O Estado de São Paulo
e na Revista Veja, entre outras publicações.
Carreira
consolidada como um dos maiores defensores e divulgadores da arte
popular, Evaristo chega à televisão substituindo o jornalista carioca
Sérgio Cabral na apresentação do programa "O Samba Se Aprende na
Escola", transmitido pela TV Cultura no final dos anos 70. Como
convidado, comenta os desfiles de Carnaval para as televisões Gazeta,
Cultura e Globo.
Por seu
prestígio, Evaristo é sempre convidado para participar na organização de
eventos, entre os quais se destacam o I Congresso Nacional do Samba, no
Rio de Janeiro, e o I Simpósio do Samba, em Santos. Responsável pela
Comissão Organizadora do Carnaval Paulistano de 1970, Evaristo promove a
"Festa da Apoteose" na Terça-Feira Gorda. Nos anos seguintes, a
"Apoteose" se caracteriza como a noite do encontro e confraternização
dos sambistas de todas as agremiações paulistanas.
Ainda em
1970, a pedido da Prefeitura de São Paulo, organiza a vinda de 1.500
sambistas da Portela e da Mocidade Independente de Padre Miguel, no
sábado de aleluia. É a primeira vez que escolas cariocas desfilam em São
Paulo e a Portela de Natal conquista e divide o coração perucheano de
Evaristo.
Nos últimos
25 anos, Evaristo amplia sua participação no mundo do samba e junto à
comunidade negra. Dirigente da Federação das Escolas de Samba e Cordões
Carnavalescos de São Paulo, tem decisiva atuação na criação da União das
Escolas de Samba Paulistanas (UESP).
Seu trabalho
no comando da Rede Nacional do Samba lhe rende honrarias, como o convite
para integrar a confraria do Afoxé Filhos de Gandhy, um dos mais
seletivos e tradicionais grupos do carnaval baiano e o prêmio Momo de
Ouro, ofertado por jornalistas e radialistas cariocas especializados na
cobertura de assuntos carnavalescos.
Apesar das
inúmeras alegrias profissionais e das proporcionadas pelo mundo do
samba, Evaristo não se dá por satisfeito: é ardoroso defensor da
reunificação dos sambistas de São Paulo em uma mesma entidade
representativa. "Essa atual multiplicação de entidades não é boa para
ninguém", costuma advertir, com conhecimento de causa, pela Rede
Nacional do Samba.
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