Tudo começou (ou continuou) quando F.H.C.
(Fernando Henrique Cardoso), em junho de 1994, acreditando nos efeitos
da fantasia de Dom Quixote que trajou, provocou, atacou e golpeou a
inflação.
A nação, esse entre difuso e sem rosto,
naquele momento gritou com euforia apesar da voz quase mórbida. Pra
variar ainda trajava o que pensa ser uma fantasia glamorosa, mas é sim
sua veste diária e definitiva, a roupa surrada chamada esperança.
De início a igualdade Dólar e o recém
nascido Real seduziu, contagiou. Atrelado a sorte do momento que a
economia mundial vivia, a mídia e consequentemente todos renderam-se e
se deixaram contagiar num "ufanismo oficial".
Olhos fecharam-se, e abriram-se
escancaradamente as cancelas das importações. Então tudo passou à
vontade: de cerveja à eletro doméstico, até tecido pra vestir nubente.
Ante a globalização, sem qualquer
complacência em iludir o distante terceiro mundo, as indústrias
brasileiras confinaram-se esquecidas como maquinário sucateado. E
aqueles que conseguiram desiludiram-se desse novo termo, concluíram que
a globalização nada mais é que sinônimo de poder econômico.
E continua a eterna luta da supremacia
máxima do forte sobre o fraco. Qual a chance do fraco sob o forte, que
sem compaixão substitui punhos e músculos por moedas de som até musical
- Dólar, Marco, Libra, Franco...
E o Real? Tenta alfabetizar-se mas não
passa de aluno repetente. Mas tem que manter a postura (comprou um
diploma de faculdade em entidade que ministra curso por correspondência
em finais de semana).
Ei Real! - fala alguém - A realidade é
outra, preste atenção para não cair. O Real faz ouvidos moucos é,
lógico, chegam as crises (elas são inevitáveis como o fluxo das marés,
as fases da lua e outros fenômenos naturais) asiática e mexicana e, mais
recentemente a Russa, pondo fim ao conchavo midiático e às chicanas.
Empresas centenárias foram fechadas,
fundidas ou simplesmente vendidas em nome da produtividade, dos
programas de qualidade, de reengenharia (ai, cruz credo, toc-toc-toc,
mangalô três vezes) a curva do desemprego virou balão em junho, pipa em
agosto... Acumulando desgostos, enfraquecendo os punhos, desfigurando
perspectivas e rostos.
A classe média, a velha e burguesia gorda
que sempre, bem ou mal, vivia no reino da fantasia, aprendeu a fazer
contas no supermercado. Até motel virou artigo de luxo neste país antes
fictício e priapesco.
A âncora cambial, que deixou fundeado na
estagnação o navio Brasil, foi-se e o sonho artificial acabou-se. Mas o
sonho real (Real à parte), o da consciência coletiva transformou-se em
voz de comando. O M.S.T. (Movimento Sem Terra) ganhou adesão dos Sem
Teto, dos Sem Comida, dos Sem Emprego, dos Sem Nada a Perder - para
fazer ouvir os que têm muito a perder, os sem vergonha... e a cidade na
motivação teve maior união.
A balela do Real moeda forte desfez-se
diante da real desvalorização. O que não desfez-se foi a agonia do
dia-a-dia do pai de família que trocou as bandeiras do aumento salarial
por mordaças pela manutenção do emprego. Tampouco desfez-se a luta (vã)
contra as privatizações desenfreada, que entregou o melhor que o Estado
conseguiu construir em cinco séculos face às seqüelas de um malfadado
plano de 6 anos.
O país fez quinhentos anos, como
retroagiu, em "comemoração" tentaram até trazer uma Nau de Portugal que
não chegou.
Puseram o Exército para bater em índios,
estudantes e professores. Fecharam Porto Seguro, pintaram as guias, as
janelas, mas não colocaram o fecho na tramela por onde foge a soberania.
F.H.C. reeleito sempre do mesmo jeito. Se no tempo de Collor havia P.C.
Farias que fez "disso aqui" o templo da fancaria, com F.H.C. temos E.J.
E se houve até Sérgio Naya, Luiz Estevão,
Nicolau Laulau, falso "herói". Há ao limiar do novo século e milênio a
consequência que esse povo secularmente proscrito das decisões, à velha
roupa, esperança, junta os endereços da consciência, da decisão, e da
mesma forma que samba na passarela, com o pincel da ação ainda dará
sentido a essa aquarela.
O G.R.E.S. Imperatriz da Paulicéia, vem
mais uma vez como exemplo de dedicação e humildade, retratar a situação
em que nós brasileiros nos encontramos, e pedimos uma atenção especial
ao Sr.(a) jurado(a) para observar as partes grifadas, pois as mesmas
tornar-se-ão fantasias e alegorias, ilustrando nosso carnaval que já faz
parte da mais bela tradição, da mais pura manifestação popular.
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