São Luis do Maranhão
ainda é a cidade onde melhor se pode sentir o
passado. Meio isolada, tem a maior quantidade de
relíquias históricas e artísticas do Brasil em um só
conjunto. Nas noites de lua cheia que clareia a
vegetação tropical, o mar e os sobradões, entra-se
num tempo antigo, de casarões coloridos com azulejos
em todas as tonalidades, azuis, verdes, amarelos,
roxos, brancos, com arabescos delicados e desenhos
gregos. São Luis é exagerada nas cores, a cidade é
formada de infinitas ruazinhas e becos de pedra que,
invariavelmente, desembocam no mar. De todas as
capitais provinciais do Brasil é a única que não
nasceu lusitana, mas francesa.
Nosso enredo vai
contar a história de São Luis, de sua fundação até
os dias de hoje, passando por sua arte, folclore e
cultura. Está dividido em 6 partes, cada uma leva um
nome, com o qual a cidade também é, ou foi,
conhecida.
1. CIDADE DO REI DE
FRANÇA
De todas as capitais
do Brasil, São Luis foi a única fundada por
franceses, Daniel de La Touche (Senhor de La
Ravardiere) e François de Rasilly (Senhor de Rasilly
e Aunelles), em 8 de setembro de 1.612. Chefes da
expedição francesa incumbida de instalar uma colônia
alé da linha equinocial. O forte e o ancoradouro
receberam o nome de São Luis e o porto de Santa
Maria, em homenagem a Luis XIII e a Rainha-Mãe Maria
de Médicis.
A 1º de novembro de
1.612, os índios que habitavam a região juraram
fidelidade ao Rei de França. Dois anos mais tarde,
Jerônimo de Albuquerque, chefe da expedição
portuguesa para a reconquista do Maranhão, vencia
franceses e índios na batalha de Guaxenduba. Além
disso, o casamento entre o Rei Luis XIII e a
princesa Ana da Áustria levaria a França a se
desinteressar da colônia, diante da falta de
recursos Daniel de La Touche não teve outra saída
senão capitular formalmente a 3 de novembro de
1.615, entregando o Forte de São Luis ao General
Alexandre Moura, dessa forma, São Luis entrou para a
comunidade colonial portuguesa e, em 1.621,
tornou-se sede da capitânia do Maranhão.
O período de paz
porque passou a região viu-se interrompido em 1.641,
quando 18 navios holandeses, transportando 2.000
homens, comandados pelo almirante Jan Cornelizoon
Lichtard, aportaram no Maranhão. Não obstante às
desesperadas tentativas dos capitães Francisco de
Carvalho e Paulo Avelar e do artilheiro Matias João,
o Governador Bento Maciel Parente, impossibilitado
de resistir, rendeu-se entregando São Luis aos
holandeses.
Em setembro de 1.642
os maranhenses sublevaram-se, sob o comando do
Capitão Antonio Muniz Barreiros Filho, que morreu na
luta. A glória da expulsão dos invasores coube ao
Capitão Antonio Teixeira de Melo que retomou a
cidade de São Luis em 28 de fevereiro de 1.644.
Integrada ao comércio
português, São Luis destacou-se, inicialmente, como
centro exportador de açúcar e, a partir do século
XIX, do algodão. Alguns anos depois a economia
maranhense voltou-se para a exportação vegetal,
especialmente do coco de babaçu e da cera de
carnaúba. Nem mesmo a construção da estrada de ferro
São Luis-Teresina e a expansão da cultura de arroz
puderam evitar a queda no ritmo de crescimento da
cidade, a exportação de arroz passou a ser feita por
estradas de rodagem, diminuindo a atividade do porto
de São Luis e a falta de rodovias convenientes
isolou, até há pouco tempo, a cidade do resto do
país.
2. CIDADE DOS
AZULEJOS
São Luis é um festival
permanente de azulejos que cobrem as fachadas dos
velhos casarões, desde o chão até o teto, para nos
oferecer hoje um dos maiores conjuntos de
arquitetura civil barroca. As sacadas são de ferro,
românticas, misteriosas, não raro artisticamente
rendilhadas. Às vezes, percorre-se ruas inteiras com
casarões de azulejos coloridos, numa policromia de
amarelo, vermelho, verde e azul.
O azulejo é imposição
do próprio clima. Os portugueses perceberam que na
costa marítima qualquer tinta não tem a duração que
dela se pode esperar em outros locais. É como se
tivéssemos jogando dinheiro fora, pintando casas de
6 em 6 meses.
3. CIDADE DAS
LENDAS E ASSOMBRAÇÕES
São Luis tem muitas
histórias e a mais interessante delas é a de Ana
Jansen, figura lendária que no século passado teve
poderosa influência na vida pública e política da
cidade. Tinha o monopólio da exploração dos poços de
água de São Luis e quando ficava sabendo que alguém
abrira seu próprio poço, mandava matar um escravo
seu e atirá-lo nesse poço para contaminar a água.
Dizem que certa vez colocou vários escravos
agachados para que, pisando neles, pudesse
atravessar, sem molhar os pés, um pequeno rio. O
Comendador Antonio Meireles após uma briga com Ana
Jansen, para se vingar, mandou fazer na Inglaterra
um milheiro de penicos com o retrato da inimiga no
fundo. O povo de São Luis diz que, até hoje, à
noite, Ana Jansen sai do seu túmulo e percorre as
ruas da cidade em uma carruagem dirigida por um
esqueleto e puxada por cavalos sem cabeça.
Outra história
corrente em São Luis diz que embaixo da cidade,
escondida em seus diversos subterrâneos, está uma
serpente gigante e que no dia em que a cabeça da
serpente encontrar-se com seu rabo a cidade será
destruída. Essas e muitas outras histórias fazer de
São Luis a cidade das lendas.
4. CIDADE DOS
POETAS
São Luis ficou
conhecida como a "Atenas Brasileira", pela
quantidade de poetas e intelectuais que lá nasceram
ou habitaram. Catulo da Paixão Cearense, Artur de
Azevedo, Graça Aranha, Manuel Odorico Mendes e
Francisco Sotero são alguns exemplos. O mais famoso
deles foi Gonçalves Dias, sempre angustiado por sua
condição de mestiço numa sociedade preconceituosa
como a maranhense, que chegou a impedir seu
casamento com Ana Amélia. Outro nome de destaque na
literatura brasileira, também nascido em São Luis
foi Aluízio de Azevedo autor de "O Cortiço".
Segundo os maranhenses
Catulo da Paixão Cearense jamais teria feito "Luar
do Sertão" se não tivesse nascido em São Luis, dado
a beleza do luar da cidade. Também são filhos de São
Luis os nossos contemporâneos Joãosinho Trinta e
Alcione.
5. CIDADE DO
FOLCLORE
São Luis teve a sorte
de conservar bem nítidas as influências negras,
indígenas e européias, cujas culturas se juntaram
para apresentar um dos folclores mais ricos do país.
Lá estão: Bumba Meu Boi, Festa de Reis, Dança do
Coco, Quadrilha e Casamento da Roça, Tambor de Mina,
Tambor de Caroço, Dança de São Gonçalo, Bambuê de
Caixa, Festa do Divino e Tambor de Crioula.
6. CIDADE DO REGGAE
"Jamaica Brasileira",
como é conhecida atualmente São Luis, graças a
popularidade que o reggae, ritmo jamaicano, tem
junto ao povo da cidade. A cidade sintoniza com
tanta facilidade as rádios da Jamaica que adotou o
reggae como sua música popular. O reggae é presença
obrigatória na programação das rádios FMs locais.
Em quase todas as
praias e bares da cidade existem as "rediolas", a
versão maranhense, fixa no chão, dos ensurdecedores
trios elétricos baianos, que tocam sem parar reggaes
de autores jamaicanos e também de compositores de
São Luis.
Para saber se o reggae
é bom, há um teste: ao se passar perto da radiola, o
colarinho da camisa tem que tremer.