
Introdução
O umbigo representa troca de energia, a primeira boca pela qual nos é uma forma de representar e trocar muita energia. Neste processo pedimos alimentamos no ventre materno. Por isso dançar encostando umbigos distintos licença e reverenciamos a toda a ancestralidade, saída da África com destino ao Brasil, em todas as suas constituições até a formação do samba.
O Batuque de Umbigada é um ritmo brasileiro que para nós tem muita representatividade, dentre tantas outras manifestações, porque ele é o retrato da cultura Paulista, surgida no interior e se espalhando pelo estado e Brasil a fora.
Preservar o Batuque de Umbigada é nosso dever enquanto agentes e fundamentadores da cultura popular. Por isso, nesse carnaval de 2025 o GREMIO RECREATIVO ESPORTIVO SOCIAL CULTURAL ESCOLA DE SAMBA ISSO MEMO exerce esse papel propagando e eternizando a cultura do Batuque de Umbigada.
Sinopse
1° Setor: Da origem à chegada da Umbigada No Brasil
Lá nas Bandas de Moçambique, um país da costa oriental do continente Africano é um lugar de uma vasta riqueza cultural e diversas comunidades com tradições tão antigas que fica difícil de mensurar há quanto tempo elas existem. De origem Bantu essas tradições foram passadas de geração em geração. Entre as mais comuns estão as danças circulares, onde homens e mulheres festejam a vida e a fertilidade. Nesta miscelânia das danças circulares, vamos dar destaque a uma delas: a Caiumba. Esta dança especificamente reúne homens e mulheres que, em roda, dançam batendo seus umbigos como uma forma de gratificação à vida. Assim como o elefante, símbolo de força e memória, a Calumba carrega a ancestralidade em cada movimento, reafirmando laços que atravessam gerações. Com isso é possível fazer uma ligação direta com os seus deuses e antepassados.
Além da vasta tradição cultural, Moçambique também é um território onde a natureza e o homem se entrelaçam. A Savana, com sua energia vital, inspira a conexão entre o sagrado e o terreno. No calor do sol, vibra a essência desse elo ancestral.
Com o período de colonização vários povos pretos foram trazidos para o Brasil através da escravidão. Nesta vinda, os escravizantes trouxeram pessoas jovens fazendo com que o dia a dia dos escravizados fosse tomado por um trabalho para trabalhar principalmente nos canaviais, plantações de cana de açúcar, árduo e sacrificante nos canaviais. No cair da noite, sempre quando possível, estes jovens se reuniam de forma escondida para dançar Caiumba. Junto da dança, obviamente era necessária a música. Com isso surgiu o tambu, um tipo de tambor feito de madeira revestida de couro animal; o som emitido pelo tambu é o som que irá embalar este festejo e a pessoa responsável por tocar é chamado de Batuqueiro. Assim, agora muito bem instaurada em solo brasileiro a Caiumba passa a ser chamada de Umbigada, e se espalha por várias comunidades pretas e aquilombadas.
2° Setor: O tempo passou
A umbigada foi se espalhando de maneira muito orgânica. Tempos depois, com a abolição da escravatura, várias comunidades foram se fortalecendo principalmente as ribeirinhas, às margens dos rios claros e límpidos. A paz e a tranquilidade destes locais foram o cenário ideal para que a umbigada se desenvolvesse e, com o passar do tempo, a Umbigada ganha além do som, a poesia, a letra, a música: nela surgem canções de amor que enaltecem as mulheres, as mães e avós... Por outro lado, o canto traz também as memórias do tempo de cativeiro, escravidão e dor... Assim, a música se tornou um lamento e uma forma de nunca deixar esse período obscuro ser esquecido.
O fogo, para essas comunidades, servia a dois principais propósitos: esquentar nas noites mais frias e afinar o couro do tambu! Ao lado das fogueiras, a música trazia e preservava a memória ancestral, por isso, os cultos aos orixás e entidades de luz, principalmente às ligadas à religião Umbanda, se faziam presentes! Afinal a Umbigada e a Umbanda estão ligadas na mesma corrente: ambas são brasileiras de descendência africana, sendo estes elementos da cultura afro-brasileira.
Além dos cultos aos orixás, a Umbigada também se entrelaça com a devoção aos santos católicos, refletindo a riqueza do sincretismo religioso. No interior de São Paulo, expressar fé e gratidão é uma tradição enraizada. Em Capivari, a celebração ao padroeiro São João Batista reúne fiéis todos os anos. Em Tietê, a festa de São Benedito atrai multidões em louvor. Nessas festas, a Dança de Umbigada ecoa como símbolo dessa união entre crenças, onde o sagrado se manifesta em diferentes formas, mas com a mesma essência. Que todos os caminhos levem à luz, seja pelo tambor da umbigada ou pelos sinos das igrejas, pelo canto ou pela prece, pois na fé, Deus e os orixás caminham juntos.
3° Setor: Umbigada o ritmo do interior paulista
E por falar em interior, é na cidade de Capivari onde encontramos um dos é uma mulher preta, pobre, humilde e simples que, aos 74 anos, carrega e maiores redutos do Batuque de Umbigada: o Quintal da Dona Marta. Dona Marta propaga a tradição da Umbigada, passando de geração em geração. Esta mulher criou no quintal da sua casa um verdadeiro terreiro para a continuidade do legado de Dona Anicide Toledo: nele seus filhos, netos e toda a comunidade preta da região, cantam e dançam, mostrando que a Umbigada é símbolo de resistência e luta de um povo preto que pede igualdade todos os dias.
O Quintal da Dona Marta representa além da luta preta, o nascimento, a continuidade e o futuro do Batuque de Umbigada, pois temos sempre que lembrar que esta manifestação surgiu no interior paulista, na cidade de sua morada Capivari, juntamente com comunidades de Tietê e Piracicaba que hoje são locais de preservação e resistência da memória. Assim, temos sempre que olhar o Batuque de Umbigada como o ritmo do interior paulista.
4º Setor: Influenciando a origem do Samba
Os negros que praticavam a Umbigada, Jongo e outros danças de roda, saindo de várias cidades do interior, rumo ao centro do estado chegaram até Pirapora do Bom Jesus. Lá, a Umbigada ganhou um novo formato e passou a ser chamada de Umbigada com Lenço, porque naquela localidade a dança ganhou um pequeno lenço de pano, trazendo à Umbigada uma nova opção de dança, cores e movimentos.
Da união do Batuque de Umbigada, da Umbigada com Lenço, do Jongo, do Tambu e de tantas outras danças circulares, foi lá em Pirapora do Bom Jesus que surgiu o samba paulista. O samba foi construído pelos negros, na união de diversas manifestações, e foi ganhando corpo, instrumentos, musicalidade e sonoridades, o que começou a atrair várias pessoas para sentir esse ritmo.
Foi então que diversos apaixonados saíram da cidade de São Paulo a caminho de Pirapora para conhecer esse ritmo. A paixão foi tanta que esse novo som foi levado à capital do estado. Assim, a cidade de São Paulo conheceu o samba. Não tardou muito para que, com algumas mudanças culturais e a apresentação de novos formatos, surgissem as primeiras Escolas de Samba. Como decorrência lógica, surge um novo ritmo: o samba-enredo.
Assim como o Batuque de Umbigada, o samba e o samba-enredo também são resistência da nossa cultura ancestral, afinal um surgiu do outro. Se hoje a capital paulista consta com mais de noventa agremiações, sabemos que a Umbigada também contribuiu para essa formação. Assim encerramos essa jornada, fazendo uma reverência a todas as agremiações do carnaval de São Paulo, pois estas são o resultado vivo do Batuque de Umbigada.
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