
Se a desigualdade vem de berço, eu sou o retrato disso.
Um dos Da Silva brasileiro, um Bezerra do povo, do gueto, do morro, da rua, do mocambo de resistência da favela onde a cor do crioulo é marca de averiguação.
Sou da quebrada onde se aprende desde moleque a ser malandro pra não passar fome. Aquele que, como você, que já partiu em busca de vida, mas na bagagem nunca esqueceu de levar o legado herdado pela sua origem e persistência de seus antepassados.
Pra quem acha que vida de malandro é bala, pega a visão que eu vou te contar…
Tem que ter moral pra segurar a marimba e dar voz pra quem o “zé povinho” só condena, pois é no alto da colina que mora o povo de bem.
Me tornei o porta-voz do povo trabalhador e pobre, que só teve aberta a porta de serviço ou a da lotação que estava sempre cheia, mas que mesmo assim é esperto e tira onda… A verdadeira malandragem de viver. Sou malandro, sou sambista do morro, sou partideiro alto!
Cantei a realidade de um povo faminto e marginalizado que pra sobreviver tem que ter fé. Senti na pele o desespero de não ter saída. Tive a rua e o céu como barraco, mas quem nos protege não dorme. Tive meus protetores e eles garantiram minha paz.
A gente do povo resiste para existir, com o desafio de viver sem nunca esmorecer.
A arma de quem vive no morro e não tem voz é dizer cantando o que ele queria dizer falando. Foi por isso que nunca me calei. Cansei de ver o povo se esquivar da acusação sem defesa.
Nunca foi de interesse “deles” escutar o que havia a ser falado pois éramos considerados “bandidos, porque éramos favelados”.
É preciso exaltar as “vítimas da sociedade”, esquecidas pelos interesses dos ladrões legalizados. Somos cobras criadas!
Não dá pra acreditar em caô de que vão fazer algo para as nossas vidas melhorar. Isso daqui tá uma baderna e não é de hoje. Quem sabe assim o malandro acorde e troque de lugar com quem está no comando. Então a gente tira onda e ironiza mesmo.
Se for pra ser tenor, que sejam os malandros brasileiros. Não dá pra aceitar o preconceito com os talentos do morro.
Somos o produto dele e tem que respeitar, mané!
Eu conheço o Brasil é na prática, não na literatura. Já fui do Acre a Porto Alegre pra ver de perto “onde a coruja dorme”.
Entendi a malandragem, o jeitinho brasileiro e a criatividade do nosso povo, que consegue debochar da sua dificuldade, das tretas da família e fazer piada da própria desgraça. E faz isso com seu jogo de cintura pra sobressair a todas as situações ainda com um sorriso no rosto.
Tem que ter muita disposição! É isso que nos faz mais fortes.
Hoje volto a subir o morro pra exaltar o povo do Carnaval, que também luta todos os dias contra o elitismo e tem sua arte como resposta.
Salve a malandragem do povo Acadêmico que faz um samba maneiro no Tucuruvi, quilombo de resistência. Em todo sambista tem um pouco de José Bezerra. Em todo Da Silva está a vivência do povo. Eu sou Bezerra da Silva, o porta-voz de todos vocês!
|