
Introdução
"Os olhos do Rei coroaram Francisco como eterno Oba de Palmares" é o enredo do GRESC IMPÉRIO REAL para o carnaval 2022, exaltando Zumbi dos Palmares por suas batalhas, narradas na História e ainda tão presentes em nossa sociedade.
Sabemos que Zumbi dos Palmares ganhou e perdeu grandes batalhas e, diferente do que é contado sobre o último confronto, Zumbi permanece vivo pelo seu legado de lutas por liberdade e justiça. Zumbi venceu o esquecimento da morte e a nossa comunidade preta e amarela o coroa, sob a proteção do Rei Xangô, como o eterno Oba de Palmares, numa grande festa no Quilombo do Samba da Zona Sul. Dessa forma, imortalizamos Zumbi nos nossos corações: herói brasileiro, símbolo da resistência, mártir da liberdade.
Festa no Quilombo
Abrindo os caminhos para o nosso Império passar e exaltando Palmares, Olorum manda à Terra o menino predestinado a lutar por seu povo. Quem nos traz a boa nova é Exu, o mensageiro. Nessa noite de luar, o Império canta e relembra o nascimento do futuro Oba de Palmares.
Ooo... Kizomba e tambores para o Eye Ofe ("o pássaro livre") no mítico e livre Quilombo dos Palmares, uma África na Serra da Barriga, nordeste brasileiro. Salve a ancestralidade guerreira de Aqualtune, Acotirene e Ganga-Zumba, as primeiras lideranças!
Eye Ofe aprisionado
Aos sete anos, num dos ataques ao Quilombo, o menino foi arrancado do ventre de sua terra. Capturado, o pequenino é vendido ao Padre Antônio Melo. Eye Ofe foi aprisionado culturalmente, recebeu o nome de Francisco, aprendeu latim e foi catequizado na liturgia católica.
O reencontro com seu povo
Aos 15 anos, o rapaz sentiu o chamado da sua missão, retornando à Palmares, para o seu renascimento. Teu povo esperou tanto por esse momento... Ritual e batucada no terreiro. Francisco recebe de Ganga-Zumba, líder do Quilombo e também seu tio, o nome de Zumbi, a alma que luta contra a desigualdade. Pouco a pouco, o Quilombo dos Palmares se tornava um refúgio para escravos, índios e perseguidos pela sociedade. O espírito guerreiro de Zumbi foi aliado de Ganga-Zumba no crescimento do sonho da liberdade no Brasil colonial.
As lutas de Zumbi dos Palmares
De guerra em guerra, com lutas e glórias, os mocambos na Serra da Barriga resistiram e cresceram, despertando ira e cobiça em senhores de engenho. Zumbi dos Palmares comanda os quilombolas contra a desigualdade socioeconômica da sociedade colonial canavieira e contra os violentos ataques de bandeirantes e capitães do mato.
Numa breve tentativa de trégua, Ganga-Zumba é iludido por mentirosas promessas de liberdade realizadas pelo governo colonial. Conflitos internos levam à morte de Ganga-Zumba. Os Palmarinos reconhecem o espírito guerreiro de Zumbi e o aclamam como sucessor ideal, o novo guia para o Quilombo dos Palmares.
Eterno Oba de Palmares
E nessa mesma noite, os tambores quilombolas foram iluminados por forte clarão que se abriu na neblinada Serra da Barriga. Kao Kabecile, Xangô, Rei da Justiça! Reconhecendo as necessidades do Quilombo, sob o olhar de Xangô, Zumbi foi coroado como o grande Oba de Palmares, cumprindo seu destino.
Sob a administração de Zumbi, Palmares honrou sua ancestralidade guerreira em muitas batalhas. A mais famosa foi travada contra o bandeirante Domingo Jorge Velho, entre 1694 e 1695, contratado pelos senhores de engenho da região em troca de ouro e terras. Sentindo na pele a dor da traição do companheiro de luta Antônio Soares, Zumbi é encurralado e cruelmente assassinado. Há quem diga que Zumbi perdeu a guerra contra o Velho... Será? Zumbi transcende a morte. Sua herança é eterna e em seu trono, reina a nossa liberdade!
Numa narrativa diferente daquela que é objetivamente contada, mostramos que Zumbi venceu sim a última batalha, afinal, nos dias de hoje, se temos voz, é também porque o mito de Zumbi ecoou pelo nosso país. Homens e mulheres na história brasileira representam os ideais de Zumbi: Carolina de Jesus, Abdias Nascimento, Cartola, Clementina de Jesus, Cruz e Souza, Djamila Ribeiro, Dragão do Mar, Elza Soares, Ivone Lara, João Candido, Laudelina de Campos, Leci Brandão, Lima Barreto, Machado de Assis, Mãe Menininha de Gantois, Milton Santos, Ruth de Souza, Tebas, Tereza de Benguela, Luiz Gama, Mariele Franco, André Rebouças, Zezé Motta, Grande Otelo, Tia Ciata, entre outros.
Embora o dia 20 de novembro de 1695, dia da eternização de Zumbi, seja lembrado em algumas partes do Brasil, a história que ainda prevalece é aquela contada pela cultura branca. Nosso enredo reforça que a história da liberdade no Brasil precisa ser contada também sob a perspectiva do oprimido. A maior luta de Zumbi ainda não teve fim... O "pássaro livre" é eterno em nossos corações e o
GRESC IMPERIO REAL, em nome de todo o Quilombo do Samba, também coroa Zumbi como o eterno Oba de palmares, fazendo cada vez mais viva suas lutas por justiça e igualdade.
Glossário:
Olorum, Deus criador do universo, segundo a mitologia Yoruba.
Kizomba, dança/festa africana.
Oba, Rei conforme a mitologia Yoruba
Eye Ofe, pássaro livre, segundo a mitologia Yoruba.
Xango, Orixà, senhor da justiça e do fogo, Rei de Oyo.
Kad kabecil, saudação para quando o Orixá Xangô vem à Terra.
Referências:
"dos Reis, AMB Zumbi historiografia e imagens. 2004. Dissertação. Mestrado. História Faculdade de História, Direito e Serviço Social. UNESP Franca.
"Araujo R. Apostila para os Educadores da Exposição "Zumbi: a guerra do povo negro SESC-Vila Mariana. São Paulo/SP, 2015
"Ballester CS et al. Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional. Dossiê de Candidatura da Serra da Barriga, Parte Mais Alcantilada - Quilombo dos Palmares a Patrimônio Cultural do MERCOSUL Fidelity Translations LTDA, São Carlos/SP: Editora Cubo, 2017.
"Mussa, A. Elegbra. Rio de Janeiro/RJ: Editora Record, 2011.
Ramalho CB, Mendonça LL. Zumbi-Exu e outras questões identitárias em "a cabeça de Zumbi". Odeere - Revista do programa de pós-graduação em relações étnicas e contemporaneidade. Volume 3. Número 3. Junho de 2017.
"Gomes, FS. De olho em Zumbi dos Palmares - histórias, simbolos e memória social. Editora: Claro Enigma, 2011;
"Fonseca Júnior, E. Zumbi dos Palmares - a história que não foi contada. Editora Yorobuna, 1988.
"Catálago colorido da exposição "SAL60". SAL60: uma revolução em vermelho, branco e negro. Carnavalize. Rio de Janeiro/RJ, 2021.
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