
JUSTIFICATIVA:
Nosso pavilhão é o nosso manto. Envolve-nos e nos protege; é a razão de nossa existência. É a força para cantar e contar através de nossa dança e alegria a própria História. A herança de um povo que não esmoreceu e nem esmorece diante às dificuldades e, em nosso caso, crendo na proteção de nosso padroeiro: São Jorge da Capadócia.
Movida pelo sentimento de gratidão ao nosso padroeiro e nosso motivo de existir é que a nossa agremiação, vem exaltar o homônimo que estampa nosso pavilhão desde a sua fundação, através da exaltação de seu devoto fiel e cofundador de nossa agremiação: Maurício de Jesus.
Poeta e compositor, ativista pró-samba, político de orientação esquerdista com olhos atentos a comunidade, tão fiel aos seus ideais quanto o seu santo protetor (que morreu defendendo a religião que acreditava), Maurício e suas obras serão imortalizados em nosso desfile comemorativo aos 15 anos da "Acadêmicos de São Jorge".
O desfile do Jubileu de Cristal seria realizado em correntes do período 2021, devido aos adiamentos pandêmico, a escola encontrar-se-á desfilando completando seus 17 anos. Mas a justa homenagem será mantida ao nosso fundador e à nossa agremiação brindando a nossa comunidade com o que há de melhor; a alegria da festividade popular tendo o carnaval e o samba como resistência de um povo.
SINOPSE:
Nada pode mais expressivo que a música. Ela imortaliza cenários, obras, Histórias, momentos e condições através de sua narrativa. É protesto. É a voz embargada na garganta e a manifestação dos oprimidos. E, tudo parece ganhar mais vida quando a música que toma conta da avenida vem pela cadência do samba; através da caneta do compositor de samba-enredo.
O compositor é por si, um nato historiador e culturista com a visão depurada, mas singela, de quem construiu o saber pela vivência e intuição sobre a análise do cotidiano que forma uma nação: o povo.
O compositor de samba-enredo, ou vulgo sambista, é em síntese o autor da História viva. A eles, uma Ode! Uma homenagem especial a todos através de nosso homenageado: Maurício de Jesus.
O sambista descende de uma linhagem de músicos e compositores e que carrega na veia a sua essência do semba; dos atabaques e tambores afros que marcam a nossa nação e que exalta a nossa crença e reforça a nossa força energia.
Que Zambi abra os portais do Orun para que nosso padroeiro traga nosso saudoso Maurício à passarela. Ogunhê!
UM DEVOTO APAIXONADO:
Está escrito nas estrelas, tua rima é por nós. Em teu destino, a São Jorge; a tua voz. Em prosa e verso, traçou poesias musicais, que exaltaremos de tantos outros Carnavais.
Quem és tu?
Compositor, poeta, idealizador!
Maurício de Jesus, o nosso cofundador!
Um homem bamba que se doou ao samba. Crítico, um político de questões sociais, trouxe o olhar ao povo para dentro de seus carnavais.
Exaltou a cultura acima de tudo. Respeitou os temas e imortalizou os poemas. Com sua caneta imaginária, escreveu sem medo, as melodias e letras de sambas-enredos ao lado dos parceiros.
Amigo que no peito tornou-se imortal através de um sorriso aberto e carinhoso, Maurício trouxe as suas paixões para dentro do carnaval: a macumba, o São Jorge, o futebol e o carnaval.
Quando o tema era a batucada, dominava um surdo como ninguém. Ao começar a percussão sentia a pele arrepiar em alusão ao Santo; Opunha! Salve São Jorge!
Com as contas no pescoço, exibia orgulhoso a sua fé, e professava a devoção Ogum e São Jorge, o "Guerreiro Templário que enfrentou o "Senado Romano" e foi morto por determinação do "Imperador Diocleciano".
A Acadêmicos de São Jorge relembra o mártir e o seu confronto final ao comemorar os seus 15 anos justamente para mostrar o quão fiel fora o nosso padroeiro aos ideais quanto ao nosso homenageado, o compositor Mauricio, fiel ao samba.
Na sua jornada, Maurício conseguiu juntar as suas paixões: o futebol e o carnaval. No futebol, jamais escondeu de ninguém que era o 12º jogador na arquibancada; foi torcedor "como um bando de louco" pela agremiação Camisa 12 no carnaval e pelo Corinthians no campo.
Na Camisa 12, o "Panteão do Carnaval", ilustrado no enredo Máscaras foi um marco para se projetar no samba. Resgatamos aqui as personagens da Comédia Dell'Arte para saudar ao nosso povo e a nossa agremiação para eternizar o carnaval de Maurício de Jesus.
UM HOMEM E SEUS SAMBAS:
Uma mente fértil e inquieta saía das reuniões das escolas de samba já solfejando as notas melódicas que durante a madrugada acordava para anotar as letras. Foi nesse rompante que surgiu o samba campeão da Unidos do Peruche que, perucheando foi com a "turma toda pra folia" com as personagens da Turma da Mônica de Maurício de Souza.
Abordando o universo político, Maurício retratou a educação como a solução para o Brasil do Amanhã. Junto de seus parceiros, compôs para Tradição Albertinense que a criança é futuro do Brasil, cabendo a elas as mudanças e governar para um futuro melhor criando "Um Brasil Novo".
Ainda no mundo lúdico da Tradição Albertinense, procurou mostrar a busca incessante pela felicidade como uma "Estrela Guia" numa explosão de cores em busca da felicidade.
Na caminhada pelas composições no mundo do carnaval, reafirmou o seu lado afro-religioso, desta vez com uma homenagem à Clara guerreira (filha de Ogum com lansă). Simpático aos orixás e apreciador da sambista que cantava os orixás, fez questão de chamá-la de luz que clareia as avenidas, com o peito potente que a denominou como "Uma Sabiá".
No mesmo período, Maurício estendeu as suas composições pelo interior do estado. No ano do centenário da imigração japonesa, o compositor concorreu com um samba na Escola de Samba "9 de Julho", na cidade de Bragança Paulista integrando a aliança Brasil-Japão.
O seu maior amor residia na capital. O samba com a pegada melódica era a sua paixão e continuou compondo para as escolas e blocos.
Ainda, na Tradição, compôs belíssimos sambas que firmaram suas raízes na cultura negra. Maurício compôs o samba em que mostrava o bairro Liberdade como reduto de festividades afro-brasileiras. Mostrou ali as raízes ancestrais num enredo que mostrou a arte e a crença que acolhia o negro em tempos de aflição através da Capela dos Aflitos. Mostrou o reduto de "Negra Liberdade", em que os corpos presos não perdiam as cores porque o alento era a fé.
Nesse interim, foi convidado pelos amigos para formar uma escola de samba em que os amigos deveriam se unir e tocar o barco numa proposta de amizade; eis que nasce a diretriz para a futura Acadêmicos de São Jorge.
Ainda não formalizada, se uniram à Império Negro (extinta Império do Cambuci) e desfilaram exaltando a "Bahia e a lavagem do Bonfim". Enquanto a São Jorge se estruturava, continuava a compor.
Pela Zona Norte, continuou a concorrer na escola de samba Tucuruvi, chegando às finais paulatinamente. Ao mesmo tempo, chegou a vencer na Zona Leste exaltando pela Amizade da Zona Leste e, ainda na Zona Norte, colocou muita gente para sambar com o seu samba campeão que visava um mundo melhor, através do desfile da Passos de Ouro. Eram os "malandros e cabrochas da Passos de Ouro" clamando por paz.
UM HOMEM E SEU LEGADO:
Sua vida de sambista foi além das composições.
Se envolveu nos bastidores do carnaval e até mesmo chegou a ser vice-presidente da União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp).
Ainda, por amor ao samba, se reunia na vila e fazia os encontros de sambistas aos finais de semana por onde morava. Natural do povo e conhecedor das mazelas desse país, Maurício tornou-se idealista adepto do comunismo e se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Acreditava numa sociedade mais justa e igualitária. Ainda jovem, Maurício convalesceu. Acometido por uma doença incurável, teve o seu Adeus sem despedida e, precocemente, deixou em luto o coração dos familiares e amigos, o mundo do samba e, a escola da qual foi cofundador.
Homem digno e carinhoso, marido-companheiro e pai zeloso, deixou o seu legado para o samba paulistano; e, hoje, sob a marcação do surdo, acompanhado dos familiares e amigos, a Acadêmicos de São Jorge invoca a sua memória para receber os aplausos, cantos e clamores de toda a comunidade que lhe é grata.
Por sua colaboração como diretor da UESP (união do Samba Paulistano) a quem de direito é considerada a matriz do samba paulistano, seja lembrado e louvado. Que os seus sambas possam ser lembrados no coração da Paulicéia. Que a voz gutural que saí do peito dos sambistas seja lembrada por toda a nossa gente.
És tu Maurício de Jesus, a luz que guia os nossos passos.
Evoé!
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