“Quando chove no sertão
o povo diz muito obrigado
tem festa na região
tem missa no povoado
tem verde na plantação
tem alimento pro gado.”
Guilbson Medeiros
Em 2019 o Cacique do Parque, inspirado no poema de Guilbson Medeiros, se debruça no cotidiano do bravo povo sertanejo que se mantém forte com o que a terra lhe dá. Superando os obstáculos, vencendo e agradecendo em forma de festa - assim como nós.
Sem a chuva, não há plantio, não há trabalho, não há comida. Quando ela não vem o sertão sofre. É seca, é fome, é morte. A chuva vem para purificar e fertilizar. É feito um presente divino. E se é do céu que vem a dádiva, a eles direciono as minhas orações. Me pego em procissão e peço ao pai que olhe para o povo sertanejo que em choro, canto e fé pede em forma de cortejo.
De olhos fechados, clamo por São Pedro. Ó meu senhor, manda chuva pra esse povo. Molha essa terra com a água sagrada e junto com a doce Santa Clara, que tem o poder “clarear” e trazer o sol, dá equilíbrio pro nosso solo. Os dois santinhos hei de nos ajudar. Com os dois olhando por nós, sol e chuva vão dançar em harmonia e entregar novamente a bonança a esse chão. Junto deles, claro, eu não posso me esquecer de Cícero que é frei, pai e padrinho e hei de intercedei por nós, lavando nossas orações junto aos santos de forma ligeira.Valei-me, Padrinho! Olhai pelo seu povo que ainda sofre as mazelas do chão semi-árido, intercedei pelo teu povo e encaminha nossa súplica ao povo do céu. É preciso chover!
O trovão que rasga o céu no início da madrugada anuncia que o pedido foi atendido. Como diz nossos poetas sertanejos Raimundo Borges e João Paraibano: “O nordeste humilhado se levanta no gemido assombroso do trovão” e é mesmo assim. Nos levantamos mais uma vez. Sertanejo é homem forte, une força, fé e sabedoria. Sabe que amanhã vai ser melhor e eu não tenho mais dúvidas. Maria, tira as roupas do varal, recolhe as coisas do quintal e pega os meninos, vem chuva para amenizar o sofrimento. Obrigado, muito obrigado meus santinhos! Ao amanhecer, já posso ver a água infiltrar a terra seca, é fertilização. A terra recebe a dádiva do céu e amanhã o não vai demorar pro verde voltar a reinar nesse chão.
Já acordo cedo para o trabalho, mas antes marco a missa e combino a festa, Mais importante que pedir, é agradecer. E já que é pra agradecer agradecemos em festa, parece até carnaval. A mesma procissão que antes pedia hoje agradece. Foram atendidas as súplicas. Todo mundo se junta em volta da fogueira. Tem moda de viola, tem dança, canto, xaxado, forró e baião. Tem café, tem aguardente, tem fubá, tem cana, tem milho, tem trigo tem pão. Tem mandacaru, tem cacto, tem flora típica do nosso sertão. Tem boi gordo, tem vaca leitera, tem bezerro forte e campo para trabalhar. Tem trabalho. Sertanejo é homem forte que não foge a luta. Se o céu ajudou e a terra germinou tem trabalho, tem plantio, tem pecuária, tem gado, tem festa, amor e gratidão.
Meu Cacique, se um dia a adversidade insistir em ficar, saiba que a luta em união vence qualquer batalha. Sigamos forte, nos inspirando na luta do povo sertanejo, que ainda pelejando as amarguras que a vida trás, sabe que com fé, trabalho e força, no final de tudo é sempre festa. E de festa, nós entendemos bem. Avante!
Aos compositores : vide que a metáfora do renascimento da vida no sertão que se-dá por meio de chuva, tem como referência a bravura de um povo que não se deixa levar pelas adversidades. Assim como o caciqueano, que vê nas mazelas a oportunidade de começar tudo de novo. A palavra é superação com muito trabalho, união e, sobretudo, fé. Um samba em primeira pessoa seria uma ótima opção.
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