
O Ano é 80. No começo dessa década, mais propriamente no dia 05 de setembro, surge uma estrela: é fundada a Associação Cultural Sociedade Escola de Samba Primeira da Aclimação. E ela brilha intensamente nos três anos seguintes, com um vice-campeonato (81) e dois títulos (82 e 83).
Tais fatos, por si só, já são suficientes para aguçar nossa curiosidade e justificar nosso revival, por meio de uma viagem, de alguns destaques da década que nunca termina.
Usando como mote um dos ícones dessa época, o filme De Volta para o Futuro, a Primeira da Aclimação os convida a revisitar alguns símbolos de uma época marcante e inesquecível.
Sem o rigor cronológico, nem a pretensão de abarcar toda a riqueza deste período, voltamos o olhar para alguns pontos representativos dos anos 80 e que se tornarão paradas obrigatórias de nossa jornada.
Politicamente falando
E assim desembarcamos em uma época cheia de conflitos, em que o mundo vivia sob a ameaça nuclear, fomentada pelo embate social, econômico e ideológico entre duas superpotências (EUA e URSS), naquilo que ficou conhecido como Guerra Fria.
Aqui, a crise econômica impulsionava os movimentos sociais e lutarem contra a ditadura e esta luta pela democracia, pelo fim da censura e pela liberdade de expressão culminaria nas Diretas Já, marcando o fim desse regime. Nossa sociedade tomava rumos inéditos, com a promulgação de uma nova Constituição.
E as coisas eram assim...
E mesmo sobre toda essa tensão, a criatividade foi significativa, tanto que este período é recentemente chamado de A década que nunca acabou. A busca pela identidade era marcada no exagero da moda com seus tecidos brilhantes, suas ombreiras; nos penteados; nas cores berrantes.
A vida, mesmo sem toda a modernidade existente hoje, era mais saudável. Não havia tanto acesso à informação e, assim, as crianças não ficavam encarceradas em casa, sendo comum as brincadeiras na rua, um contato maior com os vizinhos, mais acesso a brinquedos e brincadeiras que as desafiavam a se socializar e a pensar.
Namorados trocavam fitas cassetes com suas músicas preferidas, que podiam ser ouvidas em walkmans, e que somente pessoas maneiras possuíam. Eram comuns as videolocadoras, nas quais se podia alugar filmes para assistir em suas residências. Telefone em casa era artigo de luxo e, por isso, eram comuns as filas nos orelhões públicos, alimentados por fichas telefônicas. Sim, muitas coisas que hoje são consideradas arcaicas, como máquina de escrever, gravador de fita K7, aparelho de fax e mimeógrafo, eram usuais. Ciência e Tecnologia.
Nos anos 80, passado e futuro coexistiam. Se por um lado tínhamos tecnologias hoje defasadas, por outro, é neste cido que acontecem descobertas científicas e tecnológicas que se perpetuariam nas décadas seguintes.
A ciência avançava
A ciência progrediu muito nesta época, principalmente na descoberta de doenças que ultrapassariam a década.
Em termos de invenções surgirá o primeiro videogame, que viraria uma febre entre crianças e adolescentes (o Atari), o protótipo do computador moderno, e, também, o Compact Disc (CD). decretando, assim, o fim da era dos VHSS, dos K7s e dos LPS.
Se a música perdeu todo o som puro que existia nos LPs, ganhou a produção em massa através dos CDs. E a música não apenas começou a ser produzida em menos tempo, como também surgiram outros sons.
Música
Lá fora, as batidas eletrônicas, o new wave, as bandas de pop rock e o nascimento de astros que influenciariam toda uma geração, tanto na moda e nos costumes, quanto na própria exibição da música nos meios televisivos.
Cá, mesmo as rádios tocando 90% de música estrangeira, na esteira de redemocratização, a insatisfação com a situação econômica, deu luz à manifestações culturais expressivas.
Exemplo disso foi o Circo Voador, um espaço cultural de vanguarda, nascido na praia do Arpoador, no bairro de Ipanema, no ano 82. Embaixo de sua lona azul e branca foram ministrados cursos, encenadas diversas peças de teatro e, em plena época da ditadura, foi o primeiro palco para bandas que se tornariam famosas. Sobre tais bandas, a maioria era de pop rock nacional, elas apresentavam uma identidade forte, seja marcada pelo humor (como a Blitz), seja pelo protesto (Legião Urbana, Titãs, Paralamas, Engenheiros do Hawai).
A juventude se viu representada e o país conheceu uma ebulição musical tão grande que abrigou, também nesta época, um festival recheado de rock estrangeiro e nacional e de música pop. O primeiro Rock in Rio, ficaria eternizado com apresentações que se tomariam emblemáticas, popularizando ainda mais as bandas nacionais.
Outra importante vertente da música nacional, o samba, teve uma revolução com o lançamento do primeiro CD do grupo Fundo de Quintal, que trazia a introdução de novos instrumentos e um novo jeito de tocar o samba.
A música nacional atinge maior popularidade e, assim, a juventude descobre que pode venerar os artistas estrangeiros, mas que também ter seus ídolos nacionais, com os quais canta junto, do conforto de nosso lar, sempre que assistem aos programas do Velho Guerreiro.
Televisão
Quanto à televisão? Bem, ela é um caso à parte. Ela unia as famílias, seja pelas novelas que paravam o país, pelos programas de auditório, pelas séries norte-americanas, que incentivaram as séries nacionais, seja pelos programas de humor ou ainda, pela programação voltada às crianças. Desenhos que haviam sido criados nos anos setenta, faziam um sucesso estrondoso junto às crianças, alcançando uma audiência até então desconhecida. Surgia um público interessante para esse meio de comunicação. A resposta a essa demanda chegaria quase no fim dessa era, em uma mistura de sucesso: o ambiente de auditório e algumas competições típicas da infância, conectados por diversos desenhos.
Foi também através desse veículo que acompanhamos grandes conquistas, nascimento de ídolos, vimos a pátria de chuteira e olimpíadas que misturaram esporte à política.
Se a telinha unia a família, a telona atraía multidões, provocando sustos, aumentando a adrenalina com suas cenas de ação, ou até mesmo criando uma identidade nacional com a exibição de temáticas próprias do nosso cotidiano.
Chegou o carnaval
Entre tantos acontecimentos importantes deste período, o carnaval não poderia ficar de fora. É em 1980 que é inaugurada a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro e em 1984, que surge o posto de Rainha da Bateria, na Mocidade Independente de Padre Miguel. Com desfiles memoráveis, as escolas de samba que mais ganharam na década foram Mangueira e Imperatriz Leopoldinense, no Rio e Vai-Vai, em São Paulo.
E assim, nossa viagem retorna ao ponto de partida de nosso enredo: o surgimento da Primeira da Aclimação.
Foi durante a comemoração do aniversário de seu filho que Wilson Nicolas Garcia teve a ideia de fundar nossa agremiação, num velho prédio da Rua Machado de Assis. E como padrinho, foi escolhido seu irmão, Américo Nicolas Garcia, que viria a ser nosso primeiro presidente. Um ano após sua fundação a escola já alcança um vice-campeonato no terceiro grupo e nos dois anos seguintes é campeã. E assim, a estrela azul nos cativa ainda mais que o cometa Halley, brilhando intensamente e deixando claro que, ao contrário daquele, veio para ficar.
E essa última parada de nossa jornada, não o é fim de nossa história. Pois, assim como o protagonista do filme, voltamos ao tempo com a intenção de resgatar nosso passado, espelhando-se nele, para construirmos um futuro vitorioso para nossa agremiação.
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