
A escola de samba os Bambas tem a honra de homenagear Maria Aparecida Urbano (dona Cida) como é conhecida, pelos seus 43 anos de dedicação ao mundo sambista e por ter sido institucionalmente a primeira carnavalesca de São Paulo, e pela sua contribuição como historiadora do carnaval paulistano. Por este motivo iremos apresentar romanceando, alguns aspectos sobre seus enredos e livros de sua autoria que marcaram sua vida e que ficaram na história cultural do Brasil. Por toda sua contribuição ao carnaval, nossa homenageada em 2014 recebeu pela Embaixada do Samba paulista o título de "Embaixadora do Samba".
Dona Cida é uma artista que nos transporta para muito longe, pelas fronteiras do passado presente ou futuro e nos conduz para os caminhos das emoções adentro, se utilizando tanto das artes plásticas como da literatura. Nos enfeitiçando o espirito, deleitando-nos com suas criações e regozijando-nos com suas recordações. Seja por, meio da utilização de materiais naturais ou pela reciclagem de coisas que até então seriam dispensáveis, ou por evidenciar personalidades que não seriam conhecidos sem sua perspicácia. Sua obra e luminosa, magnifica e importantíssima para todos que tem admiração por esta expressão cultural que é o carnaval. Todo o seu trabalho é essencial para entendermos como este evento cultural cresceu em São Paulo.
Sua primeira aparição como carnavalesca se deu em 1976, quando deixou os espectadores em delírios com enredo "Itu e sua Conversão Grande". Onde brincou com a ideia dos objetos que são pequenos e que são produzidos nesta cidade (Itu) de forma grande. Prosseguindo com sua genialidade em 1979 faz um outro espetáculo com o enredo "Homenagem em Forma de Samba que reverencia algumas personalidades do samba, fazendo com que saíssem do anonimato pessoas que davam o sangue para ver sua escola de samba desfilar. Dando asas a sua criatividade brincou com a música e fez uma releitura em 1980 das marchinhas que fizeram sucesso anteriormente com o enredo "Ontem Hoje e Sempre" quando relembra antigos carnavais que com suas marchinhas marcaram épocas, e de maneira velada faz uma crítica a liberdade não mais vivida politicamente naquele período. Sendo uma estudiosa do folclore e encantada com a diversidade cultural, apresenta em 1981 o enredo "Acaiaca a Sacerdotisa do Sol" onde cria uma magnifica história sobre esta lenda, aludindo que um "Desejo nunca acaba, sem ser realizado". Esbanjando seus sentidos apurados, viaja pelo imaginário. Apresentando em 1982 o enredo "Era uma Vez no País da Felicidade" que é uma miscelânea de partes de belos contos de fada, que marca seu trabalho, demostrando seu poder de materializar o lúdico. Em um lampejo iluminado surpreende em 1985 com um enredo "Água de Cheiro" que pasmou a todos ao quebrar a padronização da utilização das cores oficial da escola, se utilizando de todas cores para enriquecer o desfile. Esta atitude libertadora foi a apoteótica de toda sua inteligência artística. Após essa quebra de paradigma com a oficialidade das cores no desfile. Da continuidade as transformações, só que dessa vez, fazendo mágica. Começa a transformar materiais naturais e recicláveis em produtos sofisticados e apresenta um enredo em 1987 "No Reino da Deusa Lua Vitoria Régia a Flor Mulher, que absorve toda essa magia. É em uma sacada vanguardista abusa dos contrastes das cores e dos brilhos de suas magicas para demostrar a riqueza da cultura indígena. Sendo uma pessoa privilegiada, dotada de uma mente sem medida, participa em colaboração com outras escritoras na construção do livro "Arte em Desfile; Escolas de Samba Paulista" de 1987 que apresenta a riqueza e a criatividade que as escolas de samba desenvolveram em seus desfiles. Flutuando entre a realidade e a ficção, novamente apresenta em 1989 sua veia poética com o enredo "A Caixa Magica e o Lápis de Cor" que demostra que um desenho ou uma ideia que está na mente ou papel pode virar realidade. Com este enredo nossa homenageada manifesta que o delírio e o imaginário e uma importante faceta do imaginário carnavalesco. Sem medo das críticas, das visões enclausuradas desfecha na avenida em 1990 uma outra proposta que mexe e remexe os prazeres mais contidos do Ser com o enredo que é "O Segredo do Amor" que hipnotiza a todos, porque fala das relações amorosas e dessa maneira solidifica seu lirismo. Neste mesmo enredo, apresenta uma transformação ainda não vista no carnaval paulista que é o carro alegórico acoplado, que segundo nossa homenageada seria para "demostrar melhor sua ideia, e utilizar espaços que poderiam ser utilizados na avenida". Brincando com as convenções lança o enredo em 1991 "Que Moda é Essa" que faz uma leitura sobre os estilos que mudaram e se mantiveram na moda. Dessa maneira reflete sobre a liberdade feminina e critica por meio da arte o machismo. Nesta mesma perspectiva crítica em 2002 elabora o enredo "A Magia dos Jardins da Verde e Rosa" onde burla a padronização dos temas que era usados e choca a todos quando enobrece outra agremiação de outro estado. Este desfile defendeu a proposta de elogiar quem é merecedor. Foi um divisor de águas na produção das propostas dos enredos paulista. Antenada com as mudanças do tempo, reconhece que algumas personalidades paulistanas são referência, e em 2004 apresenta o livro "Sampa Samba Sambista - Osvaldinho da cuíca que exalta toda contribuição deste sambista ao carnaval paulistano. Este livro se tornou primordial para que deseja saber sobre as rodas de samba anteriormente e a diferença do samba paulista para o samba carioca por alguém quem fez parte dessa história. Imersa nas pesquisas nossa homenageada esbanja conhecimento e publica em 2006 outro livro "Carnaval e Samba em Evolução" que apresenta outras modificações que o carnaval paulistano teve ao passar do tempo e suas origens. Nesta mesma linha de pesquisa em 2012 lança o livro "Mães do Samba - Tias Baianas ou Tias Quituteiras" resgatando a origem e as modificações que a presença das baianas tiveram nas escolas de samba. Prosseguindo suas pesquisas lança o livro em 2014 "Quem é Quem no Samba Paulista" que apresenta um pouco dos personagens que fizeram e fazem acontecer no preparo dos desfiles das escolas de samba. Seu último livro lançado foi "Camavalesco e suas realização de arte - São Paulo" em 2017, que relembra e apresenta o trabalho destas figuras tão importantes dentro das escolas de samba que realizam obras de arte sem precedentes.
A obra de Dona Cida, se efêmera no limite do tempo e do espaço. Está registrada por meios de desenhos, palestras, documentários, livros, espetáculos e ensinamentos, em nossa memória, e na cidade de São Paulo, também na história cultural do Brasil.
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