
SINOPSE
1º SETOR-Transformar é sinónimo de: modificar, mudar, alterar, trocar, variar, transfazer, mexer...
Em qualquer sistema, físico ou químico, nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma em outra.
Não podemos criar algo do nada nem transformar algo em nada (Lei da Conservação das Massas ou Lei de Lavoisier: Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma).
A Química, há muitos anos, não perde um carnaval, pois, quase todos os "acessórios" da folia de momo são produzidos, por exemplo, com resinas termoplásticas (fantasias, máscaras de látex, tintas, sprays de serpentinas...). Tudo para animar nossa folia!
Assim, da próxima vez que você escutar os primeiros acordes do cavaquinho, as primeiras batidas da bateria, entre na folia certo de que a Química estará lá no meio, bem pertinho de você,
Vamos carnavalizar então!? Porque aqui tudo se transforma!
Eu prefiro ser/Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Metamorfose Ambulante, Raul Seixas
Nesta música, (1973), o artista afirma que prefere viver em um estado de constante mudança do que ser o mesmo todos os dias (nada de opiniões imutáveis e intransigentes).
Assim como ele, 51 anos antes dele, um grupo de artistas, com opiniões próprias, se reuniram e começaram o maior movimento de luta pela transformação de uma sociedade: a Semana de Arte Moderna (Teatro Municipal de São Paulo). Movimento inaugurado em pleno carnaval (13/02/1922) que faz 96 anos neste carnaval (13/02/2018).
Uma luta social por identidade verdadeiramente nacional, com a cara do brasileiro. Seus autores queriam escandalizar e levar o povo a seguinte reflexão: somos produtos de uma miscigenação de cores e culturas (índio, branco, negro).
A Semana de Arte moderna ocorreu em uma época cheia de turbulências políticas, sociais, económicas e culturais. As novas vanguardas estéticas surgiam e o mundo se espantava com as novas linguagens desprovidas de regras e seus autores queriam transformar o contexto artístico e cultural urbano (literatura, pintura, música e diversas outras áreas). Queriam mostrar à sociedade de onde veio à nação brasileira e os defeitos existentes nela.
Com o advento do Modernismo a cultura europeia começou a ser deixada de lado, abrindo espaço à brasilidade. O impulso nacionalista rendeu ainda maiores frutos quando o folclore passou a ser visto como a verdadeira essência da brasilidade. Mário de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro, foi um grande pesquisador do folclore nacional, procurando colocá-lo em diálogo com as ciências humanas e sociais, que naquela altura nasciam no país (transformação cultural).
Mário teve a oportunidade de agir oficialmente pelo folclore, criando a Sociedade de Etnologia e Folclore quando dirigiu o Departamento de Cultura do Estado de São Paulo (1935 a 1938).
2º SETOR-O Folclore se apropria de uma forma muito peculiar do termo transformação.
Lendas, mitos, contos populares, ritos e cerimônias religiosos e sociais, brincadeiras, provérbios, adivinhações, as receitas de comidas, os estilos de vestuário e adornos, orações, maldições, encantamentos, juras, xingamentos, danças, cantorias, gírias, apelidos de pessoas e de lugares, desafios, saudações, despedidas, trava-línguas, festas, encenações, a gestualidade associada à intercomunicação oral, artesanato, medicina popular, os motivos dos bordados, música instrumental, canções de ninar e roda, as expressões próprias da vida em cidades, lendas urbanas, os reclames dos vendedores de rua, os símbolos, modelos de arquitetura e urbanismo vernáculos, e até mesmo maneiras de criar, chamar e dar comandos aos animais. A lista do que é folclore é longa e não se limita ao que vem do interior.
Lendas e mitos, inúmeras pelo Brasil afora, passados de geração em geração, influenciadas diretamente pela miscigenação na origem do povo brasileiro (assim como nosso carnaval).
Muiraquitã Lenda vinda da região norte. Transformação da pedra em amuleto. Os indígenas contam que estes amuletos eram confeccionados pelas índias que habitavam as margens do Río Amazonas e oferecidos aos seus amados, como um verdadeiro talismã para atrair boa sorte e felicidade.
A Lua - Transformação de uma linda índia em lua. Houve um tempo em que não existiam estrelas ou lua. A noite era tão escura que todos se encolhiam dentro de casa com medo dela. Na tribo, só uma índia não tinha medo. Ela era clara e muito bonita, bem diferente das outras. E por ser diferente, despertou a inveja de outra índia, feia e escura, que planejou sua morte (em vão).
A índia branca ficou muito triste com tudo aquilo. Então, fez uma linda escada de cipós e pediu para que sua amiga coruja a amarasse no céu. Subiu tanto, que ao chegar ao céu estava exausta. Então dormiu numa nuvem e se transformou num belíssimo astro redondo e iluminado. Era a lua.
Lua que passou a iluminar as noites e que até hoje desperta o fascínio, curiosidade, interesse dos seres humanos e até faz parte de expressões populares (tá no mundo da lua?). É a língua falada, dentro do contexto da cultura popular, que também se rende aos seus encantos. É a lua utilizada para diversos fins, justificativas, conhecimentos, necessidades...
Os seus ciclos/fases passam a ser conhecidos e o homem com a necessidade de organizar o tempo, de registrar a evolução, comemorar datas festivas, dentre outras finalidades, cria o calendário lunar (usado até os dias atuais - calendários hebraico e islâmico. No Brasil usamos o calendário cristão, ou gregoriano).
Festas juninas - a expressão do folclore brasileiro, festividade trazida para o Brasil pelos portugueses, durante o período colonial. Dizem que foram criadas pela Igreja Católica, mas não foi. Ela, assim como o carnaval, foi adaptada (transformação de costumes).
As festas juninas eram festas realizadas para comemorar a colheita. Quando o cristianismo triunfou sobre a velha mitologia pagã, não puderam extirpar os costumes da cultura popular da Europa e os povos continuaram com as festas. A Igreja não podendo exterminar esses costumes, transformou-os e adaptou-os ao seu próprio calendário de comemorações (afirma o professor e pesquisador da cultura popular, Alexandre Rocha Sales).
FEIJOADA prato de origem portuguesa, transformada numa visão romanceada das relações sociais e culturais da escravidão aqui no Brasil, é mito nascido do folclore moderno.
A versão da feijoada brasileira ter vindo das senzalas, não se sustenta, seja na tradição culinária, seja na mais leve pesquisa histórica" (segundo o historiador Carlos Augusto Ditadi, em artigo publicado na revista Gula, de maio de 1998).
A feijoada à brasileira, cuja primeira menção data de 1833, apareceu no cardápio do Hôtel Théatre, do Recife.
FENIX -o mito (mitologia grega) da ave lendária que renasce das próprias cinzas e que se transformou em símbolo da imortalidade, perpetuação, ressurreição, a esperança que nunca têm fim. Também faz parte das expressões populares (renascido das cinzas).
BORBOLETA - Culturas diversas veem a borboleta como um símbolo de transformação e regeneração.
JONGO ou CAXAMBU - dança profana para o divertimento. Dança dos ancestrais, dos pretos-velhos escravos, do povo do cativeiro. Chegou ao Brasil-Colônia com os escravos e, decisivamente, influenciou o nascimento do samba no Rio de Janeiro pois no início do século 20 o ritmo era muito tocado no alto das favelas, antes mesmo de o samba nascer (1916), se popularizar e aparecer a primeira escola de samba (1928) - transformação musical, política, social, cultural...)
3º SETOR - Carnaval o grande poder transformador.
Ó abre alas que eu quero passar.
Ó abre alas que eu quero passar
A primeira marcha-rancho de carnaval da história (1899, Chiquinha Gonzaga), pede passagem e avisa que chegamos e chegamos para ficar e transformar.
Assim como qualquer festa, o Carnaval, ao longo dos séculos vem sofrendo grandes transformações, para que assim perdurássemos como manifestação legitimada por suas comunidades na cultura urbana.
"Por isso não se podem comparar os desfiles, por exemplo, do início do século XX, com os atuais. A transformação é algo inevitável e imprescindível. Se os desfiles não sofressem alterações, talvez ainda não fizessem tanto sucesso", completa a professora Helenise Guimarães (Escola de Belas Artes da UFRJ).
Nossa evolução continua!
O Homo Sapiens' se transformou em Homo Sambistas, virou agente de transformação de conceitos em todas as esferas. Através do canto, ritmo, dança, mitos e lendas, transformamos a sociedade e caímos nos braços de Momo, o grande Rei da Folia, e assim vivemos, ou deveríamos viver e ser, uma eterna metamorfose ambulante.
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